quinta-feira, agosto 28, 2003

Resultados de prosas de bar...

Caro Leandro, retomo o motivo da existência deste blog para que possamos por algumas linhas dialogar. Sei que tu és um rapaz ocupado, namorador e deves ter coisas melhores para fazer do que perder tempo nesta prosa com teu velho amigo. Porém, Leandro, eu não tenho tantas coisas assim para escrever e espero que tu tenhas alguns instantes para me ler.

Ao contrário de ti, amigo, que arrumaste uma guria gaúcha e deves estar trepando adoidado, hoje completam três meses e dezenove dias que eu não trepo. A última vez foi numa tal de termas Âncora que existe aqui perto de meu prédio. Foi com uma puta peituda que reclamou que eu roía as unhas. "Ai, é tão feio um homem tão bonito ficar roendo as unhas". Que arrogante, a puta, deve ter achado que estava me agradando. Como se eu não soubesse que todas elas, as putas, são falsas.

Não, não vou me perder no rumo desta prosa, Leandro, porque não era minha intenção sequer escrever sobre minhas aflições. Queria apenas discutir contigo o sumiço dos comentários de nosso blog. Talvez, até, eles, os comentários, já tenham reaparecido. Assim, deste jeito mesmo, como sonhos que somem e voltam a todo instante. Só que agora, quando escrevo, não há comentários lá.

Nos últimos dias, Leandro, não sei se tu acompanhaste, mas nosso sistema de comentários arrombou a festa. Meia dúzia de cidadãos, todos brasileiros, resolveram compartilhar conosco seus dogmas. Alguns não tinham exatamente dogmas para compartilhar, mas contribuíam, de uma forma ou de outra, escrevendo besteiras e congêneres. Tu bem sabes, Leandro, que nunca tive muita paciência para cultivar aquele espaço de comentários e não me preocupava em responder a todos. Só que estão me fazendo falta, os comentários. Acho que eu virei refém do nosso blog, meu amigo. Talvez, espero eu, este seja um sintoma da falta de sexo.

Mas não falarei de sexo para que novamente eu não desvie de meus objetivos, que visam somente a lamentar a falta dos comentários, não de sexo. Um de nossos posts já contabilizavam, da última vez que foram vistos, mais de 50 comentários. Uma maravilha, Leandro, uma maravilha. Está certo que não passava de meia dúzia as pessoas responsáveis pelos 50 comentários, mas aquilo já me trazia uma baita satisfação, caro amigo.

E aí encontramos o maior problema deste mundo virtual. As coisas são criadas com facilidade, sim. Mas na internet, Leandro, as coisas somem mais rápido do que aparecem. E ninguém se importa. Se o materialismo é condenável no mundo real, no virtual, então, ele não existe. Tu podes até curtir um site, mas se ele sumir outro surgirá em seu lugar. Melhor, com mais conteúdo e com mais fama.

Já que não tenho mais os comentários de nossos leitores para me entreter, Leandro, resolvi discutir contigo a possibilidade de promovermos um flash mob. Eu sei, eu sei que tu provavelmente achas isto uma tremenda estupidez de púberes internautas desocupados. Mas talvez seja a solução para este meu fim de agosto praticamente perdido, caro amigo. Ontem, dia 27, era comemorado o dia do psicólogo e eu nem liguei para minha analista. Tão preocupado eu estava com nosso ausente sistema de comentários, que nem para a Laura, namorada do Luís, eu liguei.

Os flash mobs, Leandro, apesar de nosso preconceito, são formas legítimas para jovens, que se protegem por trás de um teclado, um gabinete, um monitor e trilhões de quilômetros de fios, mostrarem suas caras. Apesar da inexistência de uma razão e das inúteis maneiras encontradas para se manifestar, tudo que estes jovens fazem é se apoiarem numa identidade coletiva para tomar uma atitude. Concordo que a atitude poderia ser melhor escolhida e poderia haver um objetivo, mas não os condeno.

Portanto, Leandro, convoco-te, nobre parceiro de loucas investidas, a estar comigo no primeiro dia de setembro, uma segunda-feira, em frente ao apartamento da empresária Luma de Oliveira. E convoco também todos os inúmeros visitantes deste blog. Lá, juntos, gritaremos por três vezes: "ô Luma, cadê você? Eu vim aqui para te comer". E não, Leandro, não venha com este argumento furado que estou advogando em causa própria. Minha idéia do flash mob não tem nada a ver com minha falta de sexo.

Aos interessados, retornem aqui no dia marcado pela manhã, para conhecerem endereço e horário.

quarta-feira, agosto 27, 2003

- Sabe, maluco, acho que estou gostando de alguém.
- Eu conheço?
- Acho que não. O nome dela é Maria Clara.
- Gostosa? Me diz aê, moleque... desce outra Bohemia, Oswaldo!
- Porra, bróder, ela tem uma tatuagem nas costas. Irada.
- Mas ela é gostosa ou não, caralho?
- É, sim. Gostosa de pegar, apertar, de dormir juntinho...
- Tu comeu ela, então?! Dá-lhe, Rochinha!
- Nem, rapá. A gente só dormiu junto, ela tinha que acordar cedo pro trabalho e eu já tinha tomado umas... acabei só dormindo com ela.
- Fala sério! Vai dizer que não rolou uma rapidinha? Nem um boquetinho?
- Já te disse que não, Luis. E, porra, foi a primeira vez que a gente saiu, amanhã ela quer que eu a busque no trabalho dela.
- Come logo, mané. Ela tá te dando mole.
- Porra, tô gostando dela. Não é só querer comer a garota, quero ficar com ela e tudo mais. Andar de mão dada na rua e o caralho.
- Ai, Rochinha... come logo e pronto, rapá.
- Tu é surdo, porra? Eu disse que tô gostando dela e você achando que é outra coisa.
- Hahahaha!! O cara tá amarrado mesmo!! Conheceu onde?
- Numa festa, lembra da festa da Juliana semana passada? Então, a gente meio que ficou ali.
- Caralho!! Tu pegou aquela mina? Ela é maior que tu, tinha o maior rabo!! Me engana que você ainda não comeu a garota, Rochinha, me engana!
- Ela mesmo, hehe, mas não comi, não. Só escrevi uma poesia pra ela.
- Poesia, Rochinha? Tu tá ficando mole, mermão.
- Desce outra Bohemia, Oswaldo!

Maria Clara, já em casa, ligava para contar a sua irmã que estava ficando com um carinha desde quinta. E não achava que ele estava ficando mole coisíssima alguma, muito pelo contrário.

domingo, agosto 24, 2003

Preta Gil é a musa do inverno

E já tem uma molecada praticando onanismo de olho no Cd da Preta Gil. Pois é, gente, as coisas não estão fáceis. O pessoal está com medo de trepar: os homens não querem decepcionar, as mulheres não querem engravidar e os gays não querem se apaixonar. E ainda tem a tal Aids que amedronta todo mundo. Uma merda, essa Aids. Eu mesmo não trepo há uns dois meses.

E o preço da Playboy? É um absurdo exigir que um estudante reserve R$ 9,90 de sua mesada pra ter a Dóris em casa. Está certo que todo mundo tem vontade de machucar de alguma forma a Dóris pelo que ela faz com seus avós, mas não devemos dar asas à imaginação. O disco da Preta, que não é exatamente uma Dóris, vai acabar encalhando e logo vão vendê-lo por R$ 9,90. Como ainda tem música incluída, sai mais em conta inspirar-se na Preta do que na Dóris.

Gilberto Gil, ministro; baiano, o bichinho; filho de Xangô; parceiro de Caetano; marido de Flora; e pai de Preta, viu e ouviu o disco. O ministro elogiou a música mas, sobre as fotos, seu comentário foi "precisava, minha filha?"

Porra, ministro, vamos ser coerentes. Na capa de seu segundo LP, vinha escrito "eu sempre estive nu" e o senhor vem reclamar de sua filha? Não renegue seu passado, companheiro. É claro que deve incomodar a qualquer pai ficar imaginando que estão oferecendo sua filhinha querida a Onã, mas a culpa é da indústria do sexo brasileira que anda inflacionária demais. Outro dia mesmo eu ouvi dizer que uma profissional, estudante de jornalismo da UniverCidade, custava uns mil reais. Assim não dá, ministro.

Talvez a solução fosse colocar a Playboy dentro de uma lei de incentivo qualquer. A revista Bravo, que trata de alta cultura e é financiada pelo Minc, deve estar mais cara que a Playboy. Não precisamos de plebiscitos para imaginar para que tipo de cultura o povo iria preferir que seu, meu, nosso dinheiro fosse destinado. O brasileiro está mais interessado nas populares artistas da Playboy do que nos jovens artistas ingleses das artes da Bravo. Com a Lei Rouanet na Playboy, seu preço iria cair e a garotada iria se deliciar com a Dóris, não com a Preta.

Pois é, Gilberto Gil, enquanto a Playboy continua cara, ficam uns gaiatos tocando "uma" para uma filha de ministro. O Gabeira já está até pensando em dar entrada num projeto de lei que proíba os adolescentes e velhos safados brasileiros de se masturbarem pensando em integrantes dos três poderes e em seus familiares. Há generais, inclusive, que querem estender a lei às forças armadas. Argumentam que merecem um tratamento diferenciado porque a carreira militar é típica de estado.

Tudo bem que o Minc não serve mesmo para muita coisa e que o ministro é o Gilberto Gil, mas ainda assim é um ministro! É muito mais onda dedicar "uma" à filha de um ministro do executivo do que assediar a filha de um ministro do STJ. Relações de qualquer espécie com o poder executivo sempre dão mais status.

O governo, aliás, está em polvorosa. Mal conseguem esperar pelo primeiro e tradicional "churrasco de Natal dos ministros e familiares na Granja do Torto". Se a Preta Gil for ousada mesmo como dizem, ela presenteará o Lula - que estará vestido de papai-noel - com seu disco autografado. Nosso presidente iria ficar todo vermelho, coitado.

Na próxima semana, com certeza vai pintar nas colunas sociais: "Preta Gil aceita posar para a Playboy de novembro e vai doar seu cachê para o Fome Zero". É forte concorrente, essa Preta, à vaga do Graziano na reforma ministerial.

quinta-feira, agosto 21, 2003

O amor de cada um (VII)

Eu só tinha dezoito anos, merda, eram só dezoito anos. E já queriam me cobrar decisões para toda a vida, coisas de adulto. Eu não tinha maturidade, sabe? Eram dezoito anos recém adquiridos, menos de um mês passara da data de meu aniversário. Só podia dar errado, tinha tudo para dar errado.

Até hoje não sei o dia exato que a Ana engravidou. Naquela época eu ainda a chamava de Aninha e nosso mundo era colorido de vermelho pelos corações juvenis. Quando se tem dezoito anos, ainda se acredita em corações perfeitos, formados pelo encontro de dois arcos com uma das pontas mais esticada e a outra mais torta. Eu era o arco esquerdo e ela o direito, até compramos um pingente para representar nosso amor.

O amor, ah, o amor era tudo para nós. Foi aquele amor que não permitiu que nós abortássemos o fracasso que seria nosso futuro. Não lamento nosso filho, mas lamento todas as coisas que naquela época entendemos fazer parte do pacote "papai e mamãe". Que bastasse o amor.

As dimensões do quarto de Ana eram exageradas para uma só pessoa, talvez ideais para dois irmãos, mas se mostraram péssimas para um casal e seu filho. Foi lá que fomos morar, com meus sogros dormindo no quarto ao lado e meu cunhado no da frente. A cama de casal ficava no centro, atravessando nosso pequeno espaço da parede com armários embutidos à outra completamente branca. A televisão ficava pendurada na parede à direita da cama, bem ao lado da porta. Do outro lado, havia uma janela, sempre fechada para não bater vento no berço que ficava bem abaixo, no lado esquerdo da cama.

Ana morreu em nosso quarto, bem do lado direito da cama, perto da porta e abaixo da tv. Era o único espaço no chão onde uma pessoa adulta conseguia deitar sem dobrar as pernas e foi ali que eu a matei. E não, não detalharei os últimos instantes de minha falecida esposa porque me trará dor. Nem falarei sobre o destino de nosso filho e os acontecimentos que se sucederam.

O amor, ah, o amor motiva minhas lembranças e guia meu relato. Quero falar do amor, nada mais. Porque um dia eu a amei com intensidade, como se estivéssemos perdidos nos labirintos de Veneza até aquele 10 de maio de 1996 e nos encontrássemos na Praça São Marco, bem no centro da cidade. O amor, ah, o amor nos fazia sonhar com esse tipo de coisa.

Eu dizia eu te amo e não era vazio, entende? Sentíamos o amor, aquilo percorria realmente meu peito. Eu não me cansava em lembrar. Eu te amo, Aninha. O amor, ah, o amor que sentíamos naquela época nunca entenderia o futuro que nos aguardava. Talvez ele se arrependesse, o amor, de ter nos fisgado tão forte e ter nos levado a tão trágico fim, mas o amor não pode trazer arrependimentos. Eu não posso culpar o amor pelo que aconteceu.

Nosso casamento foi fantástico, a Ana usou um vestido longo, todo branco. Juntou um monte de gente para invejar nosso amor. Na saúde e na doença, até que a morte nos separasse. Os convidados nos olhavam com admiração, querendo entender como poderia existir tanto amor. Lembro bem das palavras finais do padre. "O amor, meus filhos, é de cada um. Não se entristeçam por achar que um ama mais que o outro. Simplesmente amem".

Cinco anos depois Ana estava morta. O amor, ah, o amor nos fazia discutir qual de nós dois seria privado primeiro da presença do outro pela morte. Giulietta Masina amava Federico Fellini e morreu poucos meses depois do marido. Morreu porque a saudade provocada pelo amor era intolerável. O amor, ah, o amor matou Giulietta, mas não foi o amor que matou Ana.

Eu aprendi que o amor seca. Ele não acaba, porque novamente pode crescer de onde não aparenta haver mais nada. Mas ele sabe se esconder muito bem dos corações, que então deixam de ser formados por aqueles arcos perfeitos. Eu aprendi isso. Meu amor por Ana sempre existiu, mas eu permiti que ele se escondesse tanto, que meu desespero a matou. Nosso erro foi ter esquecido do amor.

Eu te amo, Aninha, foram as quatro últimas palavras que ela ouviu. O amor, ah, o amor pode ser condenado apenas por ter demorado um instante a mais para reaparecer. Não precisava reviver nosso passado, mas o amor poderia ter nos garantido um futuro.

terça-feira, agosto 19, 2003

Meninas Apenas

Estava conferindo minhas mensagens já que hoje o serviço está leve e solto, e num desses portais da vida acabei me deparando com uma foto da tal Cristina Aguilera, onde ia a legenda "Podem me chamar de piranha". Ela nem é minha filha, nem prima, nem nada (eu nem ao menos gosto das músicas dela) mas eu achei chato a gratuidade da coisa toda. Na minha época, mulheres não gostavam de ser chamadas de piranha, mesmo se não fosse injustiça o apelido.

Com os meus fones de ouvido ressoando os acordes do Led pensei que devia ser a tal liberação sexual somada com a conquista de voz das mulheres nesses últimos anos, que a minha geração observa e vive. Há algum tempo o lugar delas não é mais na cozinha, e, mesmo que elas tenham problemas em localizar objetos no espaço, algumas gurias que conheço são ótimas motoristas. A minha garota mesmo é formada em engenharia e capaz de te dizer coisas sobre a feitura dum bombom Garoto que eu nem imagino.

Só que a tal liberação feminina, como toda conquista social, acabou englobada pelo capital. Ser mulher agora também é atitude, como ser roqueiro, ser jovem e até crer em Deus. Ser mulher significa representar um nicho de mercado, tal qual ser homem. Dentro dessa história atual de ser mulher, viu-se o apelo sexual (um apelo babão, típico de de garotos querendo ver a vizinha tomando sol na varanda) crescer tanto quanto os seios e bundas e até alguns bíceps das meninas, que continuam meninas apenas, apesar da casca de logos que o capital as tenta camuflar.

Dentro da nova lógica de ser mulher, uma jovem cantora declarar que deseja ser enquadrada como meretriz diante dos olhos do público é a tal atitude. Parece estranho que anos de lutas das mulheres para serem reconhecidas enquanto mulheres, seres que são capazes de competir social e mercadologicamente com seus parceiros homens, resultam em machismo. Porque eu, pessoalmente, não gostaria de ver nem minha mãe, nem minhas primas e muito menos a minha garota sendo tachada de rameira por aí. E duvido muito que elas pretendam ser vistas enquanto tal.

Meninas, rebelem-se. Gritem, façam greve, entrem em TPM por tempo indeterminado, mas façam-se respeitadas. Não deixem que nós homens e mulheres de menor envergadura moral transformem a sua liberdade de usar piercing no nariz e prestar concurso público (será que já pode?) em uma menina seminua rebolando na tevê durante a sesta dominical.

segunda-feira, agosto 18, 2003

O amor de cada um (IV - b)

(para os que quiserem ler o início da história, desçam até o dia 28 de abril de 2003)

À noite, logo depois da novela, saí de casa para buscar Adriana em seu apartamento. Eu estava meio nervoso com aquela situação e liguei para minha recém contratada assim que saí da Êxtase Total, a agência. Eu não conseguia me acostumar com essa coisa de pagar por uma mulher, mas não tive outra opção. Queria fazer amor afinal, mesmo que o ato estivesse em desuso já há algum tempo.

Liguei logo porque logo seria melhor resolvido. Ao telefone ela tinha um timbre de voz nasal, igual a da minha primeira esposa, um erro em minha vida. Eu iria acabar lembrando da maldita Bárbara com aquela voz da prostituta Adriana. Fiquei mais nervoso ainda. Sem prolongar a prosa marquei local e horário para pegar Adriana e desliguei.

Não me importo que você fique com a reprodução do Botero, mas o gato vai ficar comigo, disse Bárbara há muito tempo, em nossa partilha de poucos bens. E para que diabos eu iria querer um quadro com uma família de gordos? A mãe gorda estava de costas e eu tinha que ficar olhando para sua bunda. Gorda, a bunda, óbvio. Mas o gato era diferente. Era divertido ficar jogando o gato de um sofá para outro.

Acabou casando com um professor de história, a Bárbara, e nunca mais nos vimos, graças a Deus. Só que o olhar de temor do gato voando aparecia todas as noites em meus sonhos. Que saudade daquele gato! Incomodou a lembrança de Bárbara que a voz de Adriana me trouxe. Fiquei mal humorado mesmo.

Como combinado, peguei Adriana na porta de seu prédio em Copacabana. Era um daqueles prédios tradicionais de Copacabana, com garagem minúscula e muitas pessoas de idade. Ela era linda, a Adriana. Usava um vestido preto até a altura do joelho e salto alto também preto. Na aparência seguia realmente meu desejo, não tinha comprado gato por lebre. Pele bem branca, cabelos curtos e escuros, simpática. Definitivamente eu nunca teria uma mulher daquelas sem pagar 400 reais. Pelo menos não com 56 anos.

Ela entrou no carro cheia de sorrisos e, mal sabia, só estava alimentando meu mau humor. Meu velho pai, já há muito falecido, dizia que só as mulheres de vida fácil sorriem muito. Raparigas que mostram os dentes são rameiras, meu filho. Ele não tinha exatamente muita elegância, o velho, mas sempre teve sabedoria. Outra coisa que me incomodou foi sua boca pintada com um vermelho horrendo. Raparigas que pintam muito a boca são rameiras, meu filho. Ah, os ensinamentos de meu velho surgiam com muita facilidade para meu temperamento ficar incólume.

Eu já tinha 56 anos, ora bolas, tinha o direito de ter manias. Definitivamente muito sorriso e boca pintada não me agradavam. Falei para ela. Disse mesmo. Não gosto dessa cor na sua boca. Preferiria você mais séria. Eu tinha que dizer, eram 400 reais e ela não era exatamente uma dama.

A moça se ofendeu. Ficou um tanto triste - era sensível, pobrezinha. Era sensível e saía com um velho azedo de 56 anos. Tentei descontrair e coloquei uma música do Chico no moderno cd player de meu Dodge Magnum 79. Era espetacular meu carro: comprido, estofado de couro creme e um cd player da Sony. Cantarolei, pedi desculpas, disse que ela era linda e a fingida se desofendeu.

- Você gosta de Garcia Márquez, né? - perguntei para aliviar o clima.
- Adoro o Gabo.

Gabo? Mas você tem intimidade com ele, cara Adriana, para chamá-lo de Gabo? Raparigas que dão muita intimidades aos homens são rameiras, meu filho. Ah, velho pai, como o senhor era sábio!

- E quais livros você leu dele?
- Ah, por enquanto eu só li o Cem Anos de Solidão.

Como assim? Na agência estava escrito em seu perfil que Adriana era fã do "Gabo" e, na verdade, ela só tinha lido um livro dele. Mas não era possível. Com 400 reais eu teria comprado todos os livros do Garcia Márquez e ainda tomava um café na Argumento. Lembrei de um amigo de adolescência que dizia que adorava Nabokov, mas só tinha lido Lolita. Era o André Miranda. Ele gostava da obra, não do autor, caramba, só que dizia que gostava do Nabokov para impressionar. Era um bom amigo, o André, mas falava algumas besteiras. Morreu jovem, coitado.

- Fora o trabalho junto à agência, você faz outras coisas? - perguntei, querendo mudar de assunto.
- Sou estudante de jornalismo.

Aí foi demais para mim. Eu nunca paguei por uma prostituta, mas sabia que sua outra ocupação sempre fora modelo-manequim. E as profissões não viam desassociadas. O que você faz, prostituta? Sou modelo-manequim, diziam exatamente nessa ordem e esbanjando um sorriso que meu velho pai odiava. São rameiras, meu filho.

Mas eu descobri que a ocupação das prostitutas havia mudado. O que você faz, prostituta? Sou estudante de jornalismo. Não era mais uma simples modelo-manequim, era uma estudante. E estudante de jornalismo. Quando eu comecei no jornalismo, havia poucas mulheres e todas eram cultas e liam Simone de Beauvoir. Era por isso que agora cobravam 400 reais pelo serviço. A Adriana não era uma simples prostituta tipo modelo-manequim, afinal. Era uma prostituta tipo estudante de jornalismo. Lia Simone de Beauvoir, a rameira. Jornalismo não é uma profissão de gente de bem, meu filho. Ah, meu pai, o senhor estava realmente certo.

(continua em breve)

God

Depois que meu companheiro de blog arrumou uma guria e passou a compartilhar carinhos e fluídos com mais frequência, ele não encontra mais tempo para preencher esse espaço. Desta forma, caro Leandro, lembre-se que você acaba desocupando meu coração. Desta forma, caro companheiro, lembre-se que fico suscetível a atitudes depressivas e viro refém do álcool!

quinta-feira, agosto 14, 2003

Novas amizades

Chegando ao trabalho, eu sempre paro meu carro no mesmo lugar. E sempre são dois jovens, negros, que me ajudam a achar uma vaga. Eles estão sempre naquela mesma rua e acenam com uma flanela velha e suja quando meu carro aparece em seu campo de visão. Na verdade eles não são tão jovens assim, devem ter minha idade ou até mais.

Eu e aqueles dois jovens nunca havíamos trocado uma palavra. A rotina sempre foi clara. Eu chego de carro, eles acenam, eu paro o carro e pago dois reais adiantados - não por eles pedirem, porque nunca nos falamos, mas porque eu gosto de pagar os dois reais para os flanelinhas que se esforçam em me ajudar. Às vezes, não há vagas e um dos jovens tira um molho de chaves do bolso, seleciona uma e libera uma vaga qualquer retirando outro carro. Eu agradeço a ajuda, mas eles nunca agradecem os dois reais. Simplesmente pegam o dinheiro, colocam no bolso e se viram em busca de outro freguês. Podem até parecer indelicados, mas eu não me importo.

Mas ontem eu, com minha mania de ficar amigo de todo mundo, fiquei amigo dos dois guardadores. Saí do trabalho tarde, meio cansado e me dirigi para o carro. Passei por eles e disse um sonoro boa noite. Devo ter dito outras besteiras também. Salve, pessoal; alô, galera; e aí, beleza; ou outras saudações estúpidas a que estou acostumado. Um deles respondeu e perguntou se eu iria para o Centro.

Nessas horas bate aquele receio que acompanha todos os cidadãos cariocas. Os burgueses, pelo menos. Será um assalto? Sequestro? Querem meu dinheiro? Eles são negros e pobres, afinal. E em nosso estereótipo, por mais que neguemos, os burgueses cariocas, todos os negros pobres são prováveis bandidos sanguinários dispostos a tudo para conseguir meia dúzia de reais.

Da mesma forma que tenho esse estereótipo, o burguês, já trabalhei em comunidades carentes e sei que não é a pobreza e muito menos a negritude que dão a luz a bandidos sanguinários. Mantenho comigo meu receio por uma precaução infelizmente necessária, mas me envergonho dele. Disfarcei e, para ganhar mais alguns instantes matutando o que fazer, perguntei para onde iriam.

Central do Brasil. Pegar algum trem ou algo parecido, imaginei. Trabalharam o dia inteiro e agora só queriam retornar ao lar. Não podia ser outra coisa.

Vamos lá, senhores, a casa é de vocês, eu os levo a seu destino. Pedi para que tivessem cuidado com meu casaco no banco de trás e o que sentou ali teve. Entraram muito cuidadosos, aliás, batendo a porta devagar e sem mexer em nada. Aí eu quis ficar amigos dos caras. Coloquei um sambinha, Cartola, Sala de Recepção, para animar o ambiente e eles se sentirem mais à vontade. Não surtiu muito efeito. Nem mesmo pareceram surpresos, devem gostar de funk, aqueles guardadores. Perguntei, então, se iriam para casa e descobri que Marechal Hermes era seu destino. Todos os dias eles saem de Marechal Hermes para a Glória a fim de ganhar uns trocados guardando carros.

O Marechal Hermes da Fonseca nasceu em 1855, em São Grabriel, Rio Grande do Sul e morreu em 1923, em Petrópolis, Rio de Janeiro. Ele foi Ministro da Guerra de 1906 e 1910. Foi deste período sobre sua responsabilidade que o serviço militar obrigatório foi instituído. Em 1910, ele disputou a eleição para presidente da República com Rui Barbosa e saiu vitorioso. Os intelectuais da época, coitados, loucos por Rui Barbosa, ficaram desiludidos. Hermes governou até 1914.

Não contei a história de Hermes da Fonseca para meus novos amigos porque achei inoportuno. Podiam me achar estranho, mas na próxima carona eu vou contar. Conversamos sobre outras coisas, porém, e eles me perguntaram se eu tinha feito muitas reportagens naquele dia. Contei algumas coisas chatas e rotineiras que no meu relato devem ter parecido espetaculares. Conversamos também um pouco sobre paternidade na adolescência e eu citei um amigo que é pai e praticamente um adolescente.

Por algum motivo que não saberei explicar, não perguntei seus nomes. Simplesmente os deixei numa esquina da Presidente Vargas. Agradeceram diversas vezes e atravessaram a avenida em direção à Central.

quarta-feira, agosto 13, 2003

Clowns

Uma coisa que poucos entendem é a diferença entre palhaços e clowns. O termo palhaço tem sua origem na palavra italiana "paglia", referente à palha usada para revestir colchões. As roupas primitivas dos palhaços eram feitas a partir do mesmo tecido daqueles colchões, daí o nome. Já o termo clown vem do "clod" inglês e se refere a coisas rústicas e campestres.

O clown aparece basicamente no século XX, quando o palhaço deixa o picadeiro e vai para as ruas, teatros e cinemas. Mais do que provocar riso, o objetivo do clown é adotar uma postura diferenciada diante da sociedade. O clown quer se mostrar como ele realmente é. Ele não se fantasia e simplesmente atua de forma caricata para parecer engraçado. O clown faz graça através da realidade. Ele não usa roupas largas, barrigas falsas e sapatos grandes.

Para o clown, a melhor máscara é aquela que menos esconde e mais revela - como um nariz vermelho, por exemplo. Porque o clown quer mostrar seu lado patético e ridículo. Ele quer expor seu íntimo.

E as pessoas riem dessa relação de intimidade estabelecida com o clown. O público se identifica com as pernas finas, a cabeça chata, o olhar triste e a simplicidade dos gestos. O público gosta de ver um semelhante atuando tão bem sem grandes adereços e truques, a não ser uma refinada técnica.

Enquanto o palhaço vem de uma tradição passada de pai para filho, o clown surge da necessidade de se adequar a arte do cômico à realidade. Muito mais do que mostrar a si mesmo, o importante é fazer tremer as máscaras da sociedade.

Chaplin é um exemplo de fácil visualização, mas eu ficaria com Giulietta Masina como a mais expressiva clown do cinema. Em seus papéis com Fellini, seja como a abusada Gelsomina, a sonhadora Cabíria ou a receosa Giulietta, ela expunha seu físico não tão sexy, numa época onde o padrão de beleza era as curvas de Marilyn, e provocava risos de cumplicidade. Meu sonho sempre foi dançar mambo como ela em Noites de Cabíria.

O trabalho de Giulietta mostra que o clown não é simplesmente um personagem, mas a libertação da ingenuidade e do ridículo de cada um, revelando uma comicidade contida. Um clown é pessoal e único.

Acredito que já ficou clara a minha admiração pelos clowns. Eu sempre quis ser um, aliás. Na infância, talvez como qualquer criança, eu temia os palhaços por suas roupas coloridas, gestos exagerados e gargalhadas. E como eram assustadoras aquelas gargalhadas. Mas o clown não. O clown pouco ri, a não ser de seus defeitos.

Enquanto os palhaços vêm sumindo graças à profissionalização dos circos - não há mais espaço no espetáculo para números longos que dependem da interação do ator com uma única pessoa de uma platéia lotada - os clowns vêm se proliferando em locais onde a realidade social é danosa. No Rio de Janeiro, temos em todas as esquinas meninos sujos e subnutridos fazendo malabarismo com bolas de tênis a fim de receber algumas moedas. Alguns não têm a perícia adequada e mal conseguem brincar com duas bolas. Às vezes, o sujeito do carro ao lado dá risada quando uma bola cai. O suor na testa, a cara de esforço e a língua para fora do menino são ignorados. Às vezes, o clown também ri, num intuito de despertar alguma piedade e receber algum trocado. Só às vezes dá certo.

Mas é essa mesmo a vida dos clowns, ficar fazendo graça com suas fraquezas e perante suas incertezas. É famosa a história do homem inglês que foi em busca de um psicólogo para tentar resolver sua falta de vontade de viver. O psicólogo fez várias perguntas acerca de amigos, família, dinheiro e mulheres. Nada faltava ao tal homem. A receita do psicólogo, portanto, foi procurar o clown Garrik: "ninguém na Inglaterra consegue ficar deprimido perto de Garrik". O homem argumentou e questionou se não havia outra solução para seu problema. Em vão. "Só Garrik poderá ajudar", insistiu o psicólogo. "Então, doutor", disse o tal homem, "meu problema não tem cura, porque eu sou Garrik".

Acontecia nas horas menos previsíveis, assim como foi o encontro de suas linhas de vida. Ele caminhava um pouco mais depressa para não perder o ônibus e o gosto dos lábios misturados com cigarro e pizza reaparecia nele após galgar o primeiro degrau do coletivo. Um passageiro menos ensimesmado com sutilezas da memória o cutucava para que ele andasse mais depressa, ou perderiam ambos o andar da carruagem.

Andava com essas distrações momentâneas desde conhecer aquela garota que caçoava de sua baixa estatura havia algumas semanas. No início, as memórias eram pequenos esporos de lembranças, mal apareciam e já haviam sido. Quando muito o faziam sorrir timidamente dentro dentro de uma fila estagnada por cerca de um quarto de hora. Mas conforme as suas linhas de vida foram se entrelaçando, algo em suas memórias sensoriais deixou de ser pessoal para se tornar cúmplice. As horas do dia e mesmo os dias da semana foram adquirindo outros sons e cheiros.

De início eram apenas imagens rápidas, mas logo apareceram também pequenos sons. Um dia ele levou quarenta minutos a mais para pregar no sono ao descobrir que seu travesseiro conservara o cheiro da cama dela, pois que ao retornar duma viagem no domingo à noite ele preferiu passar a noite na casa dela. Não tardou para que logo as imagens compusessem quadros, com trilha sonora e até sabor próprio. Músicas ganharam outras interpretações, palavras adquiriram novos sentidos.

Tudo aconteceu cotidianamente. Era normal então que agora ele estivesse gostando de música francesa e ela procurasse nas entrelinhas da vida versinhos de Manoel de Barros. A mãe dele achou estranho o rapaz bebendo café com leite ao acordar e seus amigos todos notaram que de uns dias para cá a sua barba andava aparada com alguma regularidade, mas não foram apenas os colegas de trabalho que comentaram entre si o novo humor e o novo decote que ela dera para ostentar por esses tempos.

As memórias passaram a habitá-lo com cada vez mais freqüência, em toda parte. No meio de filmes, durante um telefonema, ao pagar sua conta no bar. Um olhar, uma manhã, fios de cabelo sobrando na nuca. Então nesta manhã em que ele acelerava o passo para não perder o ônibus veio o beijo temperado de calabresa e nicotina, que o paralisou ante a porta de entrada do ônibus. O homem que vinha atrás dele tentou o apressar, mas percebeu que o motorista também estava sem muito tempo para reminiscências e logo engatou a primeira.

Enquanto seu corpo era arremessado para o asfalto, alguns menos distraídos com o correr das horas gritavam ante a proximidade das rodas do automóvel com aquele corpo rapidamente transformado em músculos fragmentados por ossos e panos. Ante a gritaria o motorista parou o carro, mas já era tarde demais. E médico nenhum subscreveria no laudo a verdadeira causa mortis: amor.

terça-feira, agosto 12, 2003

Elefant

Com seu primeiro disco lançado em abril nos Estados Unidos, só hoje eu fui descobrir a banda nova-iorquina Elefant. Até agora só consegui baixar uma música deles, "Sunlight Makes me Paranoid", que também batiza o disco. Não dá para ficar falando grandes coisas da banda só ouvindo essa música, mas dá para apostar e eu aposto alto. A tal da "Sunlight..." é uma musiquinha com o estilo pós-punk dos anos 80, com a alma do Bowie (oká, oká, qualquer coisa pode ter traços de Bowie, mas nem tudo consegue ter sua alma) e com intrínsecas características que um fã de T-Rex como eu sou - não confundir com homossexualidade - gosta de chamar de new-glam. Pois é, me lembrou levemente o Placebo e o Suede porque a canção sabe ser melosa e intensa com a mesma naturalidade.

E o Elefant ainda gosta de tirar uma onda. O disco também traz as versões em mp3 das músicas, para que possam ser disponibilizadas na internet. Causa nobre? Um novo marco na indústria musical? Nem tanto. O vocalista do Elefant, galã e filhote de argentinos, Diego Garcia, explica que o objetivo é que as músicas rapidamente se espalhem e a banda possa ficar conhecida. Um marketing interessante que não muda muita coisa na prática, mas que anda sendo assunto para discussão entre mentes desocupadas. Com essa indireta cutucada na indústria musical, o Elefant, que me parece merecer ser famoso, tem ficado famoso.

Curioso é que no site da banda as músicas não foram disponibilizadas. Um pequenina frase bem acima do link que permite a compra online do álbum diz: "Check back soon for downloads". Ah, então tá bom.

sábado, agosto 09, 2003

Delírios Pornográficos Infantis

Quando criança eu curtia ficar lendo as páginas de tijolinhos dos jornais para saber de todas as peças, shows e filmes que aconteciam na cidade. Pois é, meu universo cultural era restrito àquelas páginas. O que não estivesse ali, nem no meu mundo das idéias estava: simplesmente não existia.

Meu maior interesse se concentrava nos filmes e espetáculos proibidos para menores de 18 anos. Se eu fosse psicólogo, eu diria que tudo que é proibido atrai naturalmente o ser-humano. A mim atrai, pelo menos. E quando eu era criança atraía muito mais, principalmente a idéia que qualquer coisa proibida para menores presenteava o público com alguns nus femininos. Inocente, nem passava por minha cabeça um nu completo e frontal. Eu queria ver mesmo os seios das atrizes.

Não me lembro bem da descrição de Perdas e Danos, filme de 1992, do Louis Malle. Mas devia dizer coisas do tipo: "Drama. Com reputação intocável e comportamento exemplar, político inglês se apaixona por noiva do filho e vive tórrido romance às escuras". E o tijolinho ainda me contava que o filme era uma produção conjunta entre França e Inglaterra e que dele participava uma atriz chamada Juliette Binoche. Ah, e o mais importante era sua classificação etária, lógico. Aquilo não era pouco para um garoto de tenra idade com centenas de hormônios borbulhando no sangue. Naquele pequenino espaço reservado a um único filme havia quatro informações essenciais: tórrido romance francês com Juliette Binoche para adultos e ponto final. O resto, senhores, era resto e não me importava. E eu nem tinha idéia de quem diabos era Juliette Binoche, mas com um nome desses, sonhava eu, deveria ser suficiente para meus hormônios me deixarem em paz por alguns dias.

E eu apenas sonhava, não podia ver o filme mesmo. Culpa do tal do ECA. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é a alcunha famosa da lei federal nº 8069, aprovada em 13 de julho de 1990. No Livro I, Título III, Capítulo II, Seção I, Artigo 74 do ECA encontramos as seguintes besteiras: "O Poder Público, através do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos públicos, informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada". E ainda temos no Livro II, Título VII, Capítulo II, Artigo 255 do mesmo ECA: "É infração administrativa exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão competente como inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo". A pena ao infrator? Multa de vinte a cem salários de referência e, se houver reincidência, o estabelecimento pode ser fechado por até quinze dias.

O que importa nessa citação legal é que o tal órgão competente do Poder Público entendeu que o peitinho da Juliette Binoche, naquele longínquo ano da década de 90, só poderia ser visto por maiores de 18 anos. E na minha época de criança eu não pude assistir a Perdas e Danos e tive que me satisfazer em sonhar lendo o tijolinho do jornal.

Mas até que essa restrição etária me trouxe algumas compensações. Nunca mais me esqueci da Juliette Binoche, por exemplo. Para mim, junto com o tal do Grande Elenco - ator presente a quase todas as peças de teatro que anunciavam nas páginas de tijolinhos dos jornais - Juliette era um dos mais importantes artistas do mundo. Eu a imaginava alta, com coxas muito bem torneadas e a pele ligeiramente corada pelo sol dos trópicos. Sim, eu sabia que Binoche deveria significar alguma ascendência francesa, mas Fittipaldi, Piquet e Senna, ídolos de um jovem louco para ter ídolos, também não eram exatamente arquétipos do herói brasileiro. Juliette poderia viver no Brasil, sim, e o objeto de meu sonho poderia não estar tão distante como as aparências insistiam. E ainda tinha seus seios. E que seios deliciosos deveria ter minha Juliette! Nem tão grandes, nem tão pequenos, com bicos rígidos e rosados. E empinados como deveria ser seu nariz. Era isso que eu adorava: imaginar o nariz e os bicos dos seios de Juliette formando uma paralela imaginária.

Por anos eu abriria os jornais em busca de um tijolinho que me aproximasse ainda mais de minha Juliette Binoche.

quarta-feira, agosto 06, 2003

Delírios pornográficos

Aí certo dia eu cheguei em casa, dei uma grana para o moleque dar uma volta de bicicleta e comprar um sorvete, tirei meus sapatos e mandei que minha esposa se despisse porque eu estava com vontade de trepar. Ela obedeceu, claro. "E quero comer o cu", acrescentei. Ela ficou naturalmente de quatro e eu fiz como bem quis. E ainda chamei de "minha putinha". Mas fiz com carinho.

Obviamente o relato acima nunca aconteceu. Não sou casado e nem tenho um moleque em quem mandar. Além do mais, por machismo, não acredito que eu aceitaria me casar com uma mulher tão submissa assim. Mas que às vezes dá vontade de fazer exatamente isso quando se chega em casa, isso dá.

E daí que se trata de uma terrível perversão? Maldade? Estou pouco me lixando para maldades. Gostaria apenas de ter o direito de, em casa, poder relaxar da forma que eu bem entendesse. E, lógico, sem ter que gastar minhas economias de objetivos etílicos para isso. Teria que ser com uma esposa ou namorada mesmo, nada de puta no meu sonho. Mas eu sei que isso nunca vai acontecer.

Mulheres gostam de cafunés, flores e palavras gentis. Se, ao invés de ir direto ao ponto, eu presenteasse meu pimpolho com um nariz de palhaço comprado no sinal, desse um beijo adocicado na bochecha direita de minha companheira e arrumasse alguma metáfora estúpida para elogiar seu novo avental, eu não precisaria pedir: ela iria me oferecer o cu com certeza. "Nossa, querida, o bordado desse avental remete meus pensamentos para a França do século XVII". Cara, seria sexo anal na certa. E ela nem se importaria com o barulho. "O Júnior já dormiu mesmo", insistiria minha esposa, em resposta a meus apelos pela parcimônia nos gemidos.

Agora imaginemos o inverso. Ela chega em casa, manda o pentelho dormir no vizinho, tira nossas roupas e faz a casa arder em sexo. Ah, para mantermos o padrão comparativo: sexo anal. Ela ainda iria me chamar de "garanhão", "tigrão", "senhor do anel" ou qualquer um desses apelidos bregas que só a imaginação feminina consegue propor. Comigo estaria tudo muito bom, teria sido tudo ótimo e eu amaria ainda mais minha mulher.

"Ela fez mesmo isso?", perguntaria o babaca do Gustavo, colega de trabalho a quem eu contaria o ocorrido no dia seguinte. Pois é, Gustavo, na realidade ela não fez isso, mas eu seria mais feliz se tivesse feito. E ela também seria. Aparências, companheiro! Se até eu já admiti que vivo de aparências, imagina uma esposa criada num país católico e machista como o nosso. Aqui, no Brasil, as mulheres não podem dar o cu sem se envergonhar. Podem até trepar à vontade, engolir esperma, gostar de umas palmadinhas na bunda, mas nada de sexo anal nessa porra de país. E também não podem tomar iniciativa para nada. Têm que se fazer de difícil, as moças, para que os homens não as confundam com prostituas.

Dessa forma, elas trocam sexo por chamegos, presentes e massagens. Só não trocam por dinheiro. E ainda se dizem horrorizadas com as honestas profissionais que vendem mesmo seu corpinho em troca de grana. Existe diferença?

Não considero o amor nessa análise do comportamento feminino por dois motivos. Primeiro, porque não consigo compreender o amor e, por conseguinte, defini-lo. Segundo, porque se esse amor fosse tudo isso que dizem e realmente existisse daquela esposa para mim, somente a posição dos planetas seria suficiente para que ela aceitasse de bom grado minha selvagem investida. Acharia, inclusive, indispensável o sexo anal.

Nesse país, não se consegue mais nem uma mísera felação ao acordar. Em minhas pouquíssimas relações, sempre tive que fazer umas boas dúzias de minutos de cunnilingus para receber algo em troca. Está certo que, por ser minha especialidade, elas acham meu cunnilingus indispensável, mas eu sonho com a mulher que vai me acordar todos os dias com um boquete. É carinho, ora bolas!

Dizem que na Suécia não se tem muito para fazer: ou as mulheres jogam hockey, ou trepam. E é por isso que o brasileiro sonha com suecas peitudas. São raras as quadras de hockey por aqui, afinal. Só que eu sou machista, merda, e não sei se conseguiria conviver com uma sueca liberal. Mas me permito o direito de sonhar.

terça-feira, agosto 05, 2003

É tudo ficção mesmo, gente!

Descobri que a caretice me atrai. Não tem nada a ver comigo essa coisa de ser porra-louca, de beber todos os dias, de vagar sem rumo. É tudo besteira. Fico por aí dizendo que o romance da minha vida foi Lolita, que o show da minha vida foi o do Bowie e que eu adorei Lucía e o Sexo só para aparecer. Adoro lembrar o significado do radical grego do meu nome, mas nunca participei de nenhuma suruba e meu sonho de diversão numa casa de swing não passa de sonho.

É uma perda de tempo ficar querendo ser uma coisa que não sou. Eu deveria voltar para a Igreja, isso sim. Tem mais a ver comigo ficar rezando Salve Rainha em latim do que ouvir Mutantes. Para o caralho com os filmes do Lynch! Eu os vejo porque acho onda. E Rimbaud então? Eu nunca entendi de verdade a porra do Rimbaud.

Nessa semana eu resolvi que iria escrever uma besteira aqui pelo menos uma vez por dia. E resolvi também que adotaria um tom revoltado com a vida e comigo mesmo. Mas eu não sou assim, merda! Fico perdendo meu tempo dizendo que eu gosto de Saudek, Arbus e Hopper, só que é tudo falso. Eu estou tentando te enganar.

Aí, num dia qualquer, eu bebo uns dois ou três drinks a mais, chego em casa e escrevo a cretina frase "a caretice me atrai". Até nessa confissão eu tento fazer gênero, tento parecer um revoltadinho que eu nunca fui. Seria muito mais sincero se dissesse algo como "eu não sou exatamente o reflexo do que eu pareço ser". Ou algo até menos posudo, como "eu preciso remover minhas máscaras". Mas nem na hora de assumir minha caretice eu consigo ser careta.

E nem acho que sou mais valorizado por essa postura rebelde-intelectual. Do que adianta os outros acharem graça quando eu chamo as meninas de putas se elas não vão querer trepar comigo? Eu nunca consegui comer menina alguma que eu tenha chamado de puta. E para que eu chamo, então?

Olha que eu me acho inteligente, bonito e charmoso. E em ordem inversa. Porra, por que eu não posso somente me achar careta? Por que eu não paro de andar com calças rasgadas, casacos esquisitos, um tamanco horroroso e tênis velhos? Ninguém acha graça na minha cueca samba-canção de sapinhos!

Se me perguntarem, vou dizer que já pratiquei BDSM, mas é mentira. Fiz no máximo umas brincadeiras de curioso. Minha libertinagem é pseudo-ideológica. E com bebida a coisa é pior. Tiro onda de beber cerveja, mas não conseguiria diferenciar uma Guiness de uma Caracu. Warsteiner e Belco fariam o mesmo efeito. E se eu disser que gosto de charutos Romeu e Julieta, exija-me uma explicação para ver minha cara de tapado. Não sou nada disso que pareço. Sou pose, sou marketing.

Devo ter escolhido o jornalismo como profissão por glamour também. Um glamour escroto, aliás, que faz a gente pensar que entendemos de tudo quando na verdade não entendemos de merda alguma. Eu pelo menos sei que sou um merda que entende no máximo de tocar punheta com a coleção velha de Playboy do irmão. Porque só os caretas compram Playboy. Os modernos, como eu quero parecer, dizem que não precisam disso. Nas vezes que eu comprei Playboy eu disse aos amigos que queria ver o trabalho do fotógrafo. Porra, eu dizia isso até para o jornaleiro. Eu fazia pose para um jornaleiro que estava pouco se lixando para minha vida. Eu faço pose até para os palhaços que tentam vender nariz vermelho em sinal de trânsito. Porra, eu não sou mais criança.

segunda-feira, agosto 04, 2003

O Palhaço que podia mudar a minha vida

Eu quase fui preso ontem. Um sujeito vestido de palhaço apareceu do lado do meu carro na Auto-estrada Lagoa-Barra e ficou insistindo para que eu ajudasse a Escola Municipal dos Palhaços, ou qualquer besteira do tipo. Para isso, eu deveria comprar uma nariz vermelho, igual àquele que ele estava usando. Porra, o palhaço era ele, não eu. O que diabos eu ia fazer com um nariz de palhaço?

Saltei do carro e cobri o palhaço na porrada. Bati muito mesmo nele pela insolência de querer me vender aquela merda de nariz. Aí apareceu polícia, vieram outros ambulantes para separar, foi um horror. Para me desculpar, inventei que eu tinha pensado que ele era um assaltante. Criei ali mesmo a famosa Gangue dos Palhaços do Leblon. Assaltam carros e sequestram crianças se disfarçando de palhaços, argumentei. Sorte minha que o palhaço era bem-humorado e acreditou nessa história. Não quis prestar queixa, o bufão, e a polícia me liberou.

Aí eu fui para casa e fiquei com pena do pobre palhaço, sabe? Foi totalmente absurda essa história de eu bater no coitado. Ele só estava ali tentando ganhar uma graninha e não há problemas nisso. Descobri que eu tenho traumas de palhaços. E, não, não foi por causa daquela merda de filme com o tal Pennywise.

Certa vez, quando eu já era adulto - maior de 21 e pêlos na bunda - eu saía com uma guria novinha, de uns 17 anos, ninfetinha mesmo. Numa quinta-feira qualquer fomos numa festinha do colégio dela. Não estávamos namorando exatamente, mas seus amiguinhos ficavam provocando, dizendo que éramos namorados. Ela então veio me perguntar o que deveria dizer para eles. "Parceiros sexuais", respondi. A putinha então riu meio sem graça, me chamou de palhaço e disse para os amigos que nós tínhamos uma amizade colorida. Porra, adultos trepam, não têm amizades coloridas. E ela ainda me chamou de palhaço!

Mas o importante é que eu já tinha largado aquela mala de 17 anos que só sabia me encher e que agora, por causa dela, eu tinha batido num coitado que não tinha nada a ver com a história. Queria me redimir de alguma forma.

Liguei para 102 e pedi que a Edna me arrumasse o telefone da Associação de Palhaços do Rio de Janeiro. Aí veio uma gravação: "Após ouvir a informação desejada, tecle 4 para novas informações... O telefone solicitado não foi encontrado". Novamente liguei e pedi para a Juliana o telefone da Associação Brasileira de Palhaço. Ouvi a mesma gravação.

Eu só queria fazer uma simples doação e nem isso eu conseguia. Voltei, então, para a Auto-estrada em busca do palhaço e não o encontrei mais lá. Deveria trabalhar só em meio turno, o preguiçoso. Ao invés dele para tentar me vender a porcaria do nariz vermelho, apareceu um sujeito com um papel na mão, alegando ser portador de HIV e pedindo uma ajuda. Fiquei puto. Perguntei o que o impedia de trabalhar sendo soro-positivo. Ele disse que os remédios eram caros e que ele estava desempregado. Porra, então pede dinheiro por estar desempregado, não pela AIDS. É mais justo, honroso e menos apelativo.

Aí o coitado começou a chorar, dizendo que ia morrer, que estava condenado, essas coisas. E aquele merda de palhaço nem estava ali para fazer aquele infeliz parar com as lágrimas. Não servia para nada mesmo, o tal palhaço.

domingo, agosto 03, 2003

André Miranda ou Jan Saudek

Quando uma obra do Edward Hopper ornamenta a tela do computador de uma pessoa, pode ter certeza que ela está com problemas. Não se trata de uma obra qualquer, mas uma daquelas bem clássicas, cheia de vários aspectos da solidão.

A pessoa sou eu. E como os blogs surgiram como espécies de diários virtuais, eu vou desvirtuar o já desvirtuado Inventando Dogmas para escrever sobre mim mesmo. Tenho esse direito, ora bolas. Porém, cito logo de mão uma frase de meu caro companheiro de blog, Leandro Godinho: "Porra, André, eu só escrevo ficção". E está certo que o Dudu já me definiu bem como o sujeito chato que adora procurar a realidade na ficção e a ficção na realidade, porém, exijo o direito de contar minha realidade.

Meu domingo não foi lá grandes coisas, sabe? Eu não bebi e nem trepei. Aliás, eu não trepo há umas três semanas, mas pelo menos enchi a cara ontem. Ultimamente eu tenho preferido beber a trepar mesmo. Dá menos trabalho, afinal, e pode até ser mais econômico.

Passei o dia vendo fotos de um fotógrafo tcheco chamado Jan Saudek. São fotos maravilhosamente depressivas que aumentaram ainda mais meu apreço pelo trabalho do Hopper. Sabe a solidão existencial de Nighthawks, onde as pessoas estão presas à noite num bar sem portas, com vitrais escancarando sua privacidade? E ainda tem aquela luz fluorescente. E como eu odeio essa luz fluorescente! Porra, eu tenho me sentido no Phillies de Nighthawks. E ainda acho que sou o pobre coitado de costas, aquele sem rosto, sem trabalho e sem companhia.

Voltando ao trabalho do Saudek, como alguém consegue ser tão erótico com imagens tão absurdas? Juro que se eu fosse fotógrafo eu gostaria de ser o Saudek. Ou a Diane Arbus, mas o Saudek é tcheco e deve ser a maior onda dizer para os amigos que você é tcheco.

Também passei meu tempo fazendo um maldito teste de nível homossexual. Um tal de gayometer. O resultado foi:
"Andy is 50% gay. Congratulations! You've scored right in the middle and are a happy and well adjusted hetero man!"
Porra, e aí? Eu dou o rabo ou não?

Eu tenho um amigo que gosta de ficar apostando quem encontra um gay primeiro na rua. E tem que ser daqueles gays sem contestação, até porque a gente não vai querer tirar a prova. É divertidíssimo: quando um de nós acha que viu um gay, a gente grita e aponta "achei, achei, achei". Depois, nosso júri de dois decide se o cara era realmente gay. Uma graça. Esse mesmo amigo gosta de se masturbar duas vezes antes de encontrar com a namorada. "Aí eu demoro mais para gozar", explica ele. Há umas três semanas, quando eu ainda trepava, as mulheres gostavam mesmo quando a coisa demorava. Talvez meu amigo esteja certo. Mas acho que está mais para um personagem das fotos do Saudek.

Outro dia ouvi uma história de um garoto de 16 anos que, ao sair com meninas de também tenra idade, libertava seu pênis da calça e dizia "se quiser, guarda você - eu não vou guardar, eu não vou guardar". Talvez seja uma bela tática para conseguir uns instantes de carinho manual de outrem em seu pênis, mas acredito estar um pouco velho para esse tipo de coisa.

Afinal, meu novo papel de parede é A Woman in the Sun e não a foto da Maryeva na Playboy. Ela parece estar esperando algum Godot ou alguém que valha. Está nua, fuma um cigarro e parece sorrir. Ela está na escuridão, mas na escuridão sempre há alguma luz a se encontrar, mesmo quando não se sabe exatamente de onde ela vem. E que belos seios ela tem.

Eu ando me vendo numa obra do Hopper, das mais escuras mesmo. E eu me vejo também como um dos três de Pieta nº 1, uma bela foto do Saudek.

Há cerca de duas semanas atrás, escrevi neste espaço que talvez eu tivesse me apaixonado novamente. Lógico que não escrevi apenas por escrever, alguma coisa já acontecia entre nós e eu apenas me deixava levar, e o grande barato (e risco, e por isso mesmo barato) do amor é se deixar levar.

A suspeita, quem diria, virou uma verdade feliz. E é engraçado quando você se descobre gostando de alguém, porque o amante percebe aos poucos e sempre depois dos outros. Certamente há algo de físico no ato de se enamorar, porque seus amigos notam a sua postura, o seu penteado ou o seu andar modificado. O amor renova - e dizem, embeleza.

Começou não sei como, mas desconfio que por conta de uma volta para casa solitária numa dessas madrugadas da vida. Sentia-me só não apenas por estar só de fato, mas porque gostaria de estar em companhia dum alguém. Então eu decidi que precisava vê-la de novo, só para ter a certeza nos olhos dela. E poucas coisas alegram tanto a vida da gente quanto uma outra vida compartilhando a nossa.

Pois bem, agora escrevo essas palavras sozinho em meu quarto, mas de certa forma sentindo a sua mão acariciar-me o rosto e me garantindo que tudo terminará certo. Essas madrugadas solitárias sem direções certas nunca mais serão as mesmas.