Delírios pornográficos
Aí certo dia eu cheguei em casa, dei uma grana para o moleque dar uma volta de bicicleta e comprar um sorvete, tirei meus sapatos e mandei que minha esposa se despisse porque eu estava com vontade de trepar. Ela obedeceu, claro. "E quero comer o cu", acrescentei. Ela ficou naturalmente de quatro e eu fiz como bem quis. E ainda chamei de "minha putinha". Mas fiz com carinho.
Obviamente o relato acima nunca aconteceu. Não sou casado e nem tenho um moleque em quem mandar. Além do mais, por machismo, não acredito que eu aceitaria me casar com uma mulher tão submissa assim. Mas que às vezes dá vontade de fazer exatamente isso quando se chega em casa, isso dá.
E daí que se trata de uma terrível perversão? Maldade? Estou pouco me lixando para maldades. Gostaria apenas de ter o direito de, em casa, poder relaxar da forma que eu bem entendesse. E, lógico, sem ter que gastar minhas economias de objetivos etílicos para isso. Teria que ser com uma esposa ou namorada mesmo, nada de puta no meu sonho. Mas eu sei que isso nunca vai acontecer.
Mulheres gostam de cafunés, flores e palavras gentis. Se, ao invés de ir direto ao ponto, eu presenteasse meu pimpolho com um nariz de palhaço comprado no sinal, desse um beijo adocicado na bochecha direita de minha companheira e arrumasse alguma metáfora estúpida para elogiar seu novo avental, eu não precisaria pedir: ela iria me oferecer o cu com certeza. "Nossa, querida, o bordado desse avental remete meus pensamentos para a França do século XVII". Cara, seria sexo anal na certa. E ela nem se importaria com o barulho. "O Júnior já dormiu mesmo", insistiria minha esposa, em resposta a meus apelos pela parcimônia nos gemidos.
Agora imaginemos o inverso. Ela chega em casa, manda o pentelho dormir no vizinho, tira nossas roupas e faz a casa arder em sexo. Ah, para mantermos o padrão comparativo: sexo anal. Ela ainda iria me chamar de "garanhão", "tigrão", "senhor do anel" ou qualquer um desses apelidos bregas que só a imaginação feminina consegue propor. Comigo estaria tudo muito bom, teria sido tudo ótimo e eu amaria ainda mais minha mulher.
"Ela fez mesmo isso?", perguntaria o babaca do Gustavo, colega de trabalho a quem eu contaria o ocorrido no dia seguinte. Pois é, Gustavo, na realidade ela não fez isso, mas eu seria mais feliz se tivesse feito. E ela também seria. Aparências, companheiro! Se até eu já admiti que vivo de aparências, imagina uma esposa criada num país católico e machista como o nosso. Aqui, no Brasil, as mulheres não podem dar o cu sem se envergonhar. Podem até trepar à vontade, engolir esperma, gostar de umas palmadinhas na bunda, mas nada de sexo anal nessa porra de país. E também não podem tomar iniciativa para nada. Têm que se fazer de difícil, as moças, para que os homens não as confundam com prostituas.
Dessa forma, elas trocam sexo por chamegos, presentes e massagens. Só não trocam por dinheiro. E ainda se dizem horrorizadas com as honestas profissionais que vendem mesmo seu corpinho em troca de grana. Existe diferença?
Não considero o amor nessa análise do comportamento feminino por dois motivos. Primeiro, porque não consigo compreender o amor e, por conseguinte, defini-lo. Segundo, porque se esse amor fosse tudo isso que dizem e realmente existisse daquela esposa para mim, somente a posição dos planetas seria suficiente para que ela aceitasse de bom grado minha selvagem investida. Acharia, inclusive, indispensável o sexo anal.
Nesse país, não se consegue mais nem uma mísera felação ao acordar. Em minhas pouquíssimas relações, sempre tive que fazer umas boas dúzias de minutos de cunnilingus para receber algo em troca. Está certo que, por ser minha especialidade, elas acham meu cunnilingus indispensável, mas eu sonho com a mulher que vai me acordar todos os dias com um boquete. É carinho, ora bolas!
Dizem que na Suécia não se tem muito para fazer: ou as mulheres jogam hockey, ou trepam. E é por isso que o brasileiro sonha com suecas peitudas. São raras as quadras de hockey por aqui, afinal. Só que eu sou machista, merda, e não sei se conseguiria conviver com uma sueca liberal. Mas me permito o direito de sonhar.