terça-feira, junho 28, 2005

Delírios pornográficos juvenis

(os primeiros destes delírios estão em 11 de novembro de 2004)

Minha maior diversão naquele tempo pedia apenas criatividade. E criatividade sempre foi meu forte, gente. Então, para criar apelidos simpáticos e bobos, como The Strong, Carioca Sarado, Bono Vox ou Andy 25cm, não era preciso pensar muito. Pseudônimo escolhido, passava horas na internet inventando personagens e dogmas. Algumas coisas não mudaram, vocês sabem.

Acontece que às vezes, na maioria delas, eu apenas me identificava como Andy. Era simples e, acreditava, poderia significar homens ou mulheres. Depois aprendi que o radical de meu nome é originariamente masculino e era dado a mulheres noutros tempos como forma de mostrar força num mundo machista. Hoje, teoricamente findo o machismo, usar as variações Andrea, Andreia, Andrezina ou Andressa para batizar as filhas não faz muito sentido.

E foi numa dessas noites solitárias com um Andy virtual assumindo o controle que conheci Lorena, utilizando um simples "oi, estou desesperado" como artifício. Fui eu que me aproximei. Quis ser dramático e instigar curiosidades ao mesmo tempo. E desespero, sempre achei, era um sentimento forte que poderia tocar até mesmo os mais sacanas do mundo virtual. Como eu era, admito.

"Calma, não se desespere. Lorena está aqui para te ajudar". Isca mordida, pensei, lá fui eu com minha história fantástica. Andy era um órfão, criado por uma família bondosa e rica, que o adotara num orfanato de um bairro de João Pessoa. Seus pais adotivos eram advogados que não podiam ter filhos e que estavam de férias no Nordeste. Quase bateram de carro na capital da Paraíba, atribuíram a salvação a Deus e resolveram retribuir.

Eram tão bons, os pais de Andy, que nunca haviam escondido a verdade do filho adotivo. No Rio, ele teve estudo, amigos, amor familiar e estava na faculdade de medicina, conversando com Lorena por um chat de internet quando escreveu "oi, estou desesperado".

O personagem era mais complexo, mas não me lembro de detalhes. "Por favor, menino Andy, diga-me a origem de seu desespero". Na escolha das palavras, Lorena era dócil e simples, quase encantadora. Adorei o "menino Andy". Lamentei, porém e por um instante, estar gozando com alguém real, que poderia, naquele chat e naquele momento, querer conversar como pessoa civilizada e não como idiota (meu papel).

"Meus pais verdadeiros me acharam e querem me conhecer", disse. Esse era o desespero, não tão criativo quanto vocês e Lorena poderiam esperar. Mas era desesperador mesmo assim. Lorena, por sua vez, não teve dúvidas e respondeu rápido, numa só teclada "eu adoro órfãos, menino Andy, e sei como te confortar". Um minuto depois - longo minuto, confesso; a cretina conseguira passar a curiosidade para mim - chegou um arquivo de som no meu computador, via chat. Aceitei o download e ouvi numa voz ruidosa e rouca "Andy, me chupa". Poderia ser voz de homem ou de mulher, não consegui identificar.

Fiquei vermelho e excitado, acho. Certeza mesmo tenho que fiquei nervoso, com meu sangue católico fervendo mais do que deveria, Identifiquei o demônio naquela gravação. Eu ainda era um adolescente católico e via demônios em muitas coisas, vocês sabem. Cortei a conexão e nem me despedi de Lorena. Depois daquele dia, os pseudônimos Andy e seus derivados foram aposentados. Pelo menos enquanto fui católico.

Conto essa história agora porque achei o arquivo perdido por aqui, junto a dúzias de fotos de sacanagem e poesias sofríveis, guardado num backup velho que jurava nem ter mais. Transferi para meu computador e, depois, para meu Ipod. E lembrei com um certo carinho de Lorena, um provável velho tarado sem nada para fazer.

Não sou louco e nem tenho tesão em sexo virtual. Mas, saudosista, coloquei a voz de Lorena em todas as minhas playlists - carinhosamente chamadas de Jeca Rock, Jeca Jazz, Jeca Latino etc. Daqui para a frente, para lembrar do passado, vou ouvir, por aí, "Andy, me chupa" no Ipod. Na praia, no trabalho e no carro, Lorena e seu carinho por órfãos vai me acompanhar. Se ela existiu fora do computador, tenho certeza que adoraria a homenagem. É uma coisa como ouvir Sampa no walkman, lembram?

segunda-feira, junho 27, 2005

Estávamos eu, meus derradeiros Marlboros e a cerveja que ainda restava naquela mesa na companhia de dois amigos, um casal e sua filhota, então eram três os amigos. Uma banda animava o clube, era uma festa de São João, havia quadrilha, havia as meninas desfilando de misses caipiras, havia um senhor falando besteiras de improviso ao microfone mas não havia estrelas no céu, tampouco nuvens, apenas uma noite. E havia aquela loira, imensa, farta, provavelmente uma bela diversão sobre uma cama, ou no banco traseiro de um carro ou até mesmo o banheiro do clube, ofegantes e silenciosos entre mármore sujo, uma loira que não envergonhava a cidade de Belém.

Pois bem, a Loira também estava numa mesa com amigos e tinha aquele cara, ela sempre dava um jeito de abraçá-lo, dizer cochichos ao pé do ouvido, marcar território. A mesa deles era a frente da nossa, umas 3 ou 4 mesas de distância, já vagas, daí eu tinha uma visão clara da situação, ela sentava-se de perfil para mim perto daquele cara. Mas era apenas uma loira a Loira, todos nós encontramos montes de loiras diariamente, quero dizer, não sei se é o caso de você estar me lendo nos confins asiáticos ou na grande mãe África, mas também não me interessa saber. Ela estava lá sendo loira, eu estava na minha mesa sendo um cara que bebia e sorria e falava coisas para a conversa não morrer junto do samba.

Numa das inúmeras vezes que fui ao banheiro eu resolvi acender um cigarro na volta, o casal e a filhota mereciam um pouco de tempo entre eles, sem mim na mesa, aquele tempo necessário para um trago. Parei para acender e dei com meus olhos nos olhos da Loira e ela parou com seus olhos no meu e, talvez não tenha durado nem dois segundos, mas Eistein era um gênio porque qualquer um poderia perceber nossos olhares se desafiando por horas e horas. Nenhum de nós sorriu como nos filmes, era uma surpresa, ela se desvencilhou e, ainda sob meu olhar, seguiu para uma ida emergencial a um banheiro próximo com uma das amigas da mesa. Eu retornei ao meu posto. Ah, mulher infiel!

Ela voltou do banheiro com alguma discrição, mas fez questão de abraçar aquele cara, beijos no rosto, o serviço completo. Talvez ele fosse o namorado, ou possível namorado, quem sabe um primo que anos antes havia mostrado a ela o lado positivo de se beijar um homem na boca e sabe-se lá mais o quê. Mas ela olhava para mim logo depois, os olhos fixos, talvez me desafiando a derrubar aquele cara da cadeira, tomá-la nos braços, jogá-la na primeira cama possível e comê-la literalmente, comer aquela loira com arrogância e gozar na cara dela. Seria uma boa forma de terminar a noite.

A vida, e quem já viu os filmes do Jerry Lewis há de concordar comigo, a vida é uma coisa muito engraçada e que não faz sentido algum. Não é bom que faça. Quando começa a fazer, é porque você está perto de concluir a sua vida, você irá morrer e começa a entender tudo mas aí você morre, e não há muita graça em entender a vida e não poder contar pra ninguém. O grande barato é continuar vivo, mesmo sem entender lhufas. A Loira me lembrava Aline, que eu havia conhecido uns dias atrás durante um show de rock. Dedicou uma semana a me roubar beijos e cigarros e aí precisou voltar pro antigo namorado. O que elas queriam? O que elas não queriam?

Ficou tarde e ela ainda me desafiava, mas cansei. Que ela se virasse com aquele cara mesmo, eu não precisava de mais problemas que um outro homem deveria resolver. Andei para casa, a noite sem nuvens e sem estrelas e sem vento. Aline me ligava pelo celular, estava tarde mas ela queria me ver. Continuava sem fazer muito sentido. Que bom.

quarta-feira, junho 22, 2005

Lave a sua garganta, traidor.

Há algo de muito podre na história que Roberto Jefferson (e logo quem?) tirou da cartola e tascou no ventilador. Não é o mar de lama de corruptos que inunda Brasília e contamina o restante do país, porque todos nós, em maior ou menor escala, duvidávamos das boas intenções de se levantar o centro do poder de uma nação tão distante da possibilidade de seus representados tacarem o pau naquilo tudo, literalmente, como os bons jacobinos, se assim lhes parecesse o melhor a ser feito. O grande podre da história toda é que, até onde nos chega a vista, todos tentam como podem deixar de fora o comandante do Executivo, de onde se originou tudo. O comandante do Executivo em nosso país é ele mesmo, o Cavaleiro da Esperança de nossos tempos, o Lula.

Eu votei no Lula. Com o pé meio atrás, mas fui lá e dei meu voto de confiança para ele e para o possível governo do PT e, acima de tudo, contra a continuidade dos tucanos no poder. Que merda que eu fiz. Não demorou muito a ficar claro que o PT é o PSDB sem diploma de curso superior e título de doutor. O PT é o PSDB iletrado, poder-se-ia dizer. Tomou nas mãos a administração do país como se gerisse um time de peladas - só entra em campo quem é amigo do dono da bola ou quem levar umas biritas e uma carninha pro churras depois da pelada. Quem era o responsável pela administração vexatória da República? Ele mesmo, Lula, o próprio eleito.

O escândalo de pagamento de propinas por parte do governo (ou do partido que governa, que seja, mas quem governa o país é Lula, não Genoíno) não foi o primeiro deste governo e a suspeita de compra de deputados também maculou o governo anterior. Mas a eleição de Lula teve um aspecto simbólico muito forte que era o de colocar alguém no centro do poder que não compactuasse com a roubalheira, que não fosse um filho da puta corrupto, corruptor ou conivente. Alguém com colhões de não deixar as nossas esperanças serem vendidas. Isso é o podre na história toda, até onde Lula tinha conhecimento, até onde ele deixou passar e quem ele relevou.

A gente sabe que o poder se baseia em saber mais que os outros. Conhecimento é poder. Para você planejar suas ações de modo a bloquear, ou desviar a seu favor, as ações de seus subordinados e concorrentes. É inocência demais alegar que aquela gente toda em Brasília sabia da corrupção e o presidente, o homem que, entre outras coisas, é o comandante-em-chefe de nossas Forças Armadas, ignorava. Se Lula não sabia, o que mais ele não sabia, o que mais seus subordinados ocultavam de seu conhecimento? Ele estava ali de enfeite, tipo um boneco de posto? Francamente. Cantar essa bola para o público aceitá-la com o argumento de que o operário nordestino não seria capaz de gerir um esquema de ladroagem federal é preconceito. Lula convive com as entranhas do poder há quase duas décadas, ele sabe o que acontece ali, quem faz e quando faz. Lula pode não ser doutor, mas garanto a vocês que ninguém chega ao centro do poder de um país sendo estúpido.

Lula nos traiu da forma mais calhorda que poderia fazer. Fernando Collor, de namorada nova, deve estar rindo feito pinto no lixo.

segunda-feira, junho 20, 2005

Roberto Jefferson, um cara legal

O Brasil perdeu, o Botafogo perdeu, o Dirceu caiu e eu não confio mais no meu carteiro. Pois é, essa crise mensalão/correios está afetando a vida de todo mundo. Só a baixa cotação do dólar e minhas férias de outubro parecem se manter fora da influência da esfera política e resistem bravamente.

A história do mensalão é triste, lógico, mas provavelmente verdadeira. É a lógica comunista. Se vale matar pelo Estado, por que não valeria pagar uma mesadinha para deputado para garantir o progresso? Tem que pagar, pagando, sabe? Pela mesma lógica bolchevique, não acredito que nossos companheiros embolsaram grana nessa história. Fizeram pelo País, pelo Grande Irmão e pelo Presidente Lula. Tudo maiúsculo mesmo. Se eu fosse deputado federal e tivesse que passar alguns dias por semana em Brasília, eu também aceitaria a mesada. Ou queimaria índios, para compensar a depressão.

Eu adoro discutir política, mas odeio trazer esse assunto para cá, por não poder inserir ficção sem parecer um completo alienado dos assuntos do país. Não dá para colocar o Dirceu e a Dilma na mesma cama, para incrementar a história, assim, de bobeira. Além da alienação, poderia vir um processo. Outro dia um sujeito foi preso por propagar idéias nazistas via orkut. Tenho medo, gente. Até entrei numa comunidade chamada "sou negro e tenho os olhos azuis": para poder circular bem por todas as raças e sobreviver. Queremos sobreviver, né?

A inexistência de histórias ficcionais faz a política brasileira ficar chata. Corrupção é muito comum e já estamos acostumados. Falta um Nasser para colocar um político posando de cueca para as câmeras de um Manzon. Nesse ponto, o governo Collor era imbatível. Teve ministro comendo ministra, tesoureiro morrendo assassinado com namorada, presidente comendo cunhada, cheirando, dando o rabo (dizem). Teve de tudo.

A esperança de o noticiário político voltar para cá noutra ocasião por minhas palavras é só uma: Roberto Jefferson. Porque esse, sim, é totalmente demais. Vale lembrar que estava lá ao lado do Collor divertindo os brasileiros. O Roberto Jefferson é ficção pura, um personagem rodriguiano. Ele fala as coisas de forma tão inacreditável que qualquer pessoa normal diria que ele está mentindo. Mas o genial da história é justamente que ele pode estar falando a verdade e grande parte dos brasileiros acredita nisso. No depoimento ao conselho de ética da câmara, na semana passada, só faltou Jefferson chorar de um olho só. No orkut, até agora, já existem mais de 150 comunidades em homenagem ao sujeito. Vou escolher uma para participar.

Chega de política então. O próximo texto, a não ser que o Jefferson apronte hoje no Roda Viva, será novamente uma ficção, prometo. Vou escrever sobre um órfão. E vou tentar ser fofo.

quinta-feira, junho 09, 2005

Esse mundo é um moinho!

Ganha um brigadeiro quem acertar a profissão de Roberto Jefferson, ex-rolha de poço e comandante da tropa de choque do saudoso governo Collor de Mello.
a) Personal trainer
b) Médico urologista
c) Advogado criminalista
d) Sommelier

terça-feira, junho 07, 2005

Morcego Negro - Loucura

Havia música, mas eu já não escutava nada. Estava confuso e devia estar longe de casa, eu não sabia que estava em busca de Nina ou simplesmente fugindo de mim. Desde que havia descido do avião, todas as moças, todas as portas, todas luzes pareciam me conduzir em direção a ela. Não há pecado do lado debaixo do Equador, mas eu estava quase acima do trópico, eu era todo avareza, luxúria, inveja, ira, gula, soberba e preguiça. E eu era um idiota, não conseguia deixar Nina partir e ela já o havia feito.

O taxista na saída do aeroporto perguntou para onde eu me dirigia. Respondi que precisava de um trago e o carro me levou rumo à minha obsessão. Nada daquele Bruno que um dia Nina tomara nos lábios sobreviveu a ela, só me restaria ser aquela sombra de mim mesmo que tentava esquecer o que já havia sido, mesmo que por acaso ou descuido. Ele me deixou numa subespécie de inferninho reloaded, as putas dançando trance e house junto dos pinguços batucando forró, tudo no ambiente cheirando a amônia.

Uma das meninas dali passou o braço por sobre meus ombros, cafuné na minha nuca, a língua materializava tudo o que eu precisava ouvir. Os rabos de galos desciam pela garganta como se fossem espermatozóides na corrida ao útero prometido, a menina achava graça naquilo, na minha cara de idiota, na voz que entregava carência, nas mãos que se assanhavam. Num determinado momento vi que ela já me devorava o membro, a noite virou dia e o dia ressaca. Tinha na boca o gosto de amônia, de cigarros, de cachaça e até do sexo da menina, que dormia do meu lado. Ela acordou e ficou me olhando, como se nunca tivesse me visto. Disse que precisava do dinheiro do táxi e disse o valor do programa e perguntou, inocente, já vestida e de banho tomado, quem era Nina que eu tanto gritava na noite.

A realidade despencou sobre mim. E chorei naquele lugar onde eu nem sabia que estava. Eu estava perdido.

E agora, André?

O filho do Pelé é traficante, o governo Lula é corrupto e o time do Botafogo é líder do campeonato. Onde isso tudo vai dar?

quarta-feira, junho 01, 2005

Pergunta válida nestes tempos e comentário politicamente correto

Irá Luís Inácio ser derrotado pela corrupção outra vez?
De qualquer modo, ele sabe que tem um aliado que o acompanhará até o fim, seja qual for esse fim. Daí a dizer que isso é bom, vai dúvida nisso.