terça-feira, março 28, 2006

Prazer em conhecê-lo

Eu já pensei em ser padre. Isso foi há muito tempo, eu sei, mas por pouco, muito pouco, me livrei da batina. Foi num show de uma banda cover de Beatles que enxerguei as trevas e tudo de bom que poderia reluzir dela. A banda não era boa e eu nem sou lá muito fã de Beatles, mas Here, There and Everywhere é bonitinha demais para não se deixar impressionar: "Here, making each day of the year/ Changing my life with a wave of her hand/ Nobody can deny that there's something there".

É lógico que show, banda e música apenas decretaram o fim de um processo que já vinha se acelerando havia algum tempo. Minhas dúvidas não surgiram ali, naquele show. Não mesmo. Se ainda estivesse completamente crente de minha vida religiosa, diria que a canção é um exemplo da onipresença de Deus. Aqui, acolá, em qualquer lugar. Como são ridículos os religiosos, querendo associar qualquer coisa no mundo a Deus.

Mas eu acredito em Deus e Ele não teve nada a ver com minha desistência. Foi o demônio o principal responsável. Mas o demônio agiu da maneira menos óbvia, irônica até, ao provocar questionamentos na minha fé. Numa reunião do meu grupo católico, insitiram que ele, o capeta, existia mesmo, e estava entre nós. Disseram, até, que músicas de Led Zeppelin e Xuxa traziam mensagens subliminares. Ao aprender que o demônio sentava ao lado, questionei, pela primeira vez, aquele catolicismo cego que eu pregava. Dali em diante, segui ladeira abaixo e rumo ao horizonte.

Depois de largar completamente a Igreja, tive uma fase - curta - de completa negação, onde meus desejos mais primitivos eram movidos por súcubos e pela vontade de trepar com uma freira. Isso nunca aconteceu, mas de repente pode ser um ensejo para uma boa história. Vocês sabem, ando com uma baita dificuldade em voltar a escrever boa ficção - se é que já escrevi boa ficção algum dia. Talvez eu deva apelar para o demônio. Talvez para Deus. Só acho importante lembrar que até mesmo nos tempos de Igreja eu já preferia os Stones e sua "Sympathy for the Devil", aos iê iê iês dos Beatles.

segunda-feira, março 20, 2006

O pior dia da minha vida

Às vezes a vida pode ser uma merda e às vezes ela pode ser ainda pior. De longe esta segunda-feira foi o pior dia da minha vida. Houve dias piores, lógico, mas este é o que eu consigo lembrar agora. Portanto, se, para este texto ficar ainda mais dramático, precisamos de um superlativo, deixem-me associá-lo com esta segunda-feira, dia 20 de março.

Acordei cedo, fui para o trabalho cedo, tirei sangue para uma droga de exame periódico que somos obrigados a fazer e que eu sempre esqueço. Mais exemplar impossível. Era daqueles dias que eu realmente tinha muito trabalho a fazer, tinha duas matérias grandes para fechar. Não parei um minuto.

Mas as coisas começaram a acontecer fora do planejado. Até que meu humor não estava dos piores pela manhã, mas pensamentos ruins vieram à tona e coisas ruins foram ditas e escritas. A coisa toda, então, começou a degringolar. O bom humor e disposição habituais sumiram. Mesmo assim procurei reclamar o mínimo possível das coisas, tentei evitar que um dia ruim se transformasse numa catástrofe.

Mas o dia fez isso por mim, sem que eu pedisse. No momento que me falaram que eu estava com uma cara nunca antes vista, eu deveria ter percebido que era obrigação ir para casa. Mas resolvi bater uma bola, para tentar algum conforto. A pelada foi até boa e fiz uns gols.

Só que o pneu traseiro do meu carro furou logo depois. Parei no escuro, à noite, no meio da Pacheco Leão para trocar. Me sujei todo e limpei com a blusa molhada do suor do futebol. Sujei o rosto todo mas só reparei nisso horas depois, quando cheguei em casa.

Na Barra, policias me pararam numa blitz e constataram que eu não tinha feito a vistoria de 2005. Pausa: não fiz porque não tive dinheiro para pagar as meia-dúzias de multas recebidas por trafegar a 72 km/h às 3h da madruga em pistas onde a velocidade máxima permitida é de 60 km/h. As multas foram pagas na semana passada por mamãe, como presente de aniversário. E eu pretendia marcar a vistoria para a semana que vem.

Expliquei tudo isso para os guardas, mas mesmo assim eles quiseram rebocar meu carro. Argumentei, mas eles foram irredutíveis. Peguei um táxi, paguei R$ 30 para chegar em casa e hoje, terça-feira, vou ter que ir no Centro, no prédio do Detran, antes de retirar o carro no depósito da Gardênia Azul. E eu não tenho a menor idéia de onde fica a Gardênia Azul. Isso, sem contar que tenho que estar às 13h30m na casa do Tunga, artista plástico, para uma entrevista. E que às 19h, eu tenho a primeira aula da pós em sociologia política.

A vida pode ser pior? É claro que pode. Quando cheguei em casa, não havia ligação, nem mesmo e-mail, para me confortar. Nada.

Resumindo: acordei cedo, tirei sangue, trabalhei demais, soube de coisas que definitivamente eu não queria que acontecessem, tive que trocar o pneu e logo depois rebocaram meu carro. Ah, eu fiquei mais ou menos trinta minutos sujo, calçando uma chuteira e usando um short laranja florido (não tomei banho porque estava sem toalha) no meio da Avenida das Américas, discutindo com policiais.

Eu não costumo fazer essas coisas assim, apenas por percalços rotineiros da vida, mas se existiu um dia que me deu vontade de chorar, este dia foi ontem. O pior de tudo, gente, é que o domingo também não foi dos melhores e que a semana está apenas começando. E, acreditem, o fim de semana promete muito mais.

terça-feira, março 07, 2006

Como se chama o vão entre a perna e a vulva?

Eu tenho que escrever pornografia, eu tenho que escrever pornografia, eu tenho que escrever pornografia. Há dois posts, prometi que escreveria pornografia puramente pela diversão do tema. Mas não está fácil.

Depois de algum tempo escrevendo eventualmente num blog, aprendi que textos afetam sentimentos tanto quando estes afetam aqueles. É óbvio que não é fácil descrever felicidade em situações de tristeza. Mas, acreditem, textos otimistas já levantaram meu astral diversas vezes. A coisa funciona de forma simples: fico triste por algum motivo, sento em frente ao computador e crio uma história engraçadinha. É tiro e queda, melhor que Prozac.

Melhor até que sexo, pelo menos para resolver uma depressão considerada incurável. Sexo é muito bacana, lógico, mas é mecânico demais quando a cabeça não está concentrada na atividade exercida. Ambas as cabeças.

É a mesma situação ridícula do filme Munich, quando o 007 trapalhão do Mossad trepa com sua esposa enquanto imagina o atentado terrorista nos Jogos Olímpicos de 1972. Por mais que a parceira seja gostosa, fique de quatro e rebole alegremente, é impossível o sexo ser bom num momento de tristeza. É preciso resolver uma coisa, antes de se arriscar em outra. Nem mesmo um bom cunnilingus amenizaria problemas.

Mas com um texto é diferente. A atividade sexual é limitada por pudores ou limite de criatividade. Já a escrita não tem fronteiras. Todos os dias, momentos ou instantes, pode-se criar novas histórias e viajar em mundos inimagináveis. O conjunto atividade sexual, aliás, está incluído no conjunto ficção.

Assim, sai o pênis e entra a caneta; sai a vagina e entra o papel. O movimento com a caneta é praticamente sexual, considerando o prazer associado ao adjetivo erótico. Terminar um bom texto talvez não seja melhor que um orgasmo, mas dá um alívio e uma satisfação que sexo algum pode proporcionar.

Toda essa divagação foi gerada pela necessidade de se escrever um cartão de aniversário e pela dificuldade de se pensar num cartão fofo numa época que meu humor, historicamente, não é dos melhores. Um viés erótico seria uma boa opção, mas nem sempre o erotismo é bem interpretado e quase nunca fica bem no papel. Ah, sim, é possível ser fofo e erótico ao mesmo tempo, basta perder algumas linhas descrevendo como sua pele macia pode nublar a razão e fazer com que a consciência se perca em pensamentos libidinosos, condenáveis em outros tempos, mas justificáveis, até perante Deus, se considerada a beleza do vão entre sua coxa e sua vulva.

Este vão, que não sei se tem nome, é um bom exemplo de como palavras escritas podem afetar completamente as sensações de uma pessoa. Só em pensar nele, meu pênis enrijeceu e eu acabo de ter a idéia para o cartão de aniversário mais fofo que jamais escrevi. Então, mãos à obra. É que, assim como no sexo, depois de se acabar um texto, o que mais gosto de fazer é escrever outro.

quinta-feira, março 02, 2006

Sobre a Carolina

Conselho: num momento de tristeza, olhe para uma foto da Carolina. E, não, não vou entrar em detalhes de quem é a Carolina, para não dar chances para que algum astuto tire fotos dela por aí. Mas vou descrever a Carolina e espero não ser injusto economizando em suas qualidades.

Ela, a Carolina, tem pouco mais de um ano. Às vezes torço para que ela tenha essa idade para sempre, mas às vezes fico imaginando como ela será com dez, vinte ou trinta anos a mais. Qual imagem seria a mais aconchegante? A da criança inocente, a da adolescente instigante, a da jovem cheia de vida ou a da adulta serena?

A imagem que amenizou meus últimos momentos de tristeza foi uma foto onde Carolina está com uma carinha assustada, fofa como apenas ela consegue ser. Está do lado do primo, com a avó atrás e um terço de uma pessoa em sua extrema direita, cortada pela inabilidade do fotógrafo. Era a foto mais próxima, a que chama a atenção quando se está sentado naquela cama, por ficar na altura dos olhos de uma pessoa de 1,86 metro. Mas tenho certeza que é a única foto naquele quarto que me daria algum conforto naquele momento. Cama, quarto e momento em questão não importam mais que a foto, portanto deixo os detalhes de lado.

Quando estou triste - por qualquer motivo - procuro alguma coisa para aliviar a dor. Encarar o problema de frente, nem pensar. Prefiro dar uma relaxada para pensar no assunto e só depois tentar resolvê-lo. Nunca dá certo, mas acredito ser uma boa tática. O problema é que usualmente - às vezes propositalmente - esqueço de buscar uma solução. As coisas não são ruins 100% do tempo e há sempre algo positivo para se apegar.

A foto da Carolina, portanto, encaixa-se com perfeição nos momentos que é necessária uma lembrança do alto valor da vida. É ela, a Carolina, que me faz lembrar que o mundo pode ser muito melhor do que parece e que as pessoas podem não ser tão ruins como eu sempre pensei. Na foto, ela está com os olhos bem abertos, deixando evidente duas bolas pretas e atraentes. Sua boca também está aberta, assustada com alguma coisa que ignoro por não ter importância. Crianças são assim mesmo e se assustam com facilidade. Mas rogo praga para qualquer pessoa que faça a Carolina, aquela Carolina, se assustar com qualquer coisa. Carolina merece tranqüilidade, porque em vários momentos ela já foi responsável pela minha tranqüilidade.

O nome Carolina, aliás, é tão marcante que já foi fruto de diversas músicas, de gente que eu respeito até, como Chico e Toquinho. Mas não há Carolinas como essa, a da foto, acreditem. E eu já conheci algumas. Carolina, a da foto, possui o olhar mais magnífico que eu já vi. Assim, sou mais feliz olhando para ela. Por esta Carolina, e só por esta, eu falaria, mentiria, choraria e sorriria. E que sua foto esteja sempre em minha visão então.

Eu não me chamo Leandro

Fico impressionado como as pessoas nunca me chamam pelo meu nome. Nunca. São poucos os amigos que lembro terem se dirigido a mim como André. Talvez seja o acento na última vogal, que faz a palavra oxítona ser agressiva demais para os ouvidos. Talvez seja a origem do termo: varão, viril, másculo, do grego.

Assim, sou chamado mais pelos carinhosos Deco e Dedeco, o formal André Miranda, o gaiato Andy Foca, o provocativo Cabeça, o fofo-provocativo Cacá, o intolerável gatinho, o afetivo Miranda ou até o preferido Andy. Há, ainda, adjetivos genéricos como cara, amor, rapá, mané ou safado. É difícil lembrar de tudo e nem tudo caberia num post família.

Mas eu gosto do meu nome, apesar de achar que realmente a última sílaba é forte demais e pode dificultar a pronúncia. Só não gosto de lembrar que André rima como mané, apesar de achar - na maioria das vezes - que não tenho nada de mané.

Não ter nada de mané, porém, não me faz ser obrigatoriamente uma pessoa interessante. Houve outros Andrés na história, muito mais bacanas e charmosos do que eu. Cito, de cabeça, o Warhol, o Lloyd Weber, o Summers. E cito também o Santo, cuja cruz era em forma de X. E deve ser muita onda morrer numa cruz em forma de X.

Ah, vale lembrar que não me chamo apenas André, mas André Luiz, fato que poucos sabem. Se ninguém me chama de André, de André Luiz, então, nem Deus e o Diabo durante a partida de xadrez onde sou um peão. Mas não vou escrever agora sobre o Luiz porque nem eu estou aguentando esse egocentrismo todo. Chega de falar de mim. Acho que cheguei ao cúmulo com esse post sobre meu nome (meu consolo é estarmos no fim do carnaval e o Inventado Dogmas historicamente ter pouquíssimos acessos nessa época). Está na hora de voltar definitivamente a nossa ficção real, que é muito mais interessante do que essa realidade ficcional. Os próximos posts serão eróticos, quiçá pornográficos, prometo. Mas antes preciso de mais um post, mais um post para escrever sobre uma pessoa.