sexta-feira, março 07, 2003

Press the red button, dear George!

E não é que essa porcaria de guerra ainda não saiu! Todo dia pela manhã minha expectativa passa pela mesma decepção: nada da guerra!

Não é para vocês pensarem que adormeço com sonhos belicistas. Deixo claro que sou totalmente paz, amor, age of aquarius e outras frescuras. Não curto nem a morte de sórdidos gatos atropelados por aquelas belas carretas da Volvo. Lembro até de uma briga de moleques, quando eu ainda era moleque, em que eu dei um safanão bem dado num pateta que me desafiara. O coitado sangrou e eu fiquei horrorizado por dias, até achei que tinha acabado com a vida do garoto, que ele ia morrer, foi terrível. Enfim, odeio guerras.

Porém, vejam bem, não dá mais para aguentar essa indecisão. Na capa do Globo de hoje a manchete estampa "Bush Prepara Americanos Para Guerra". Mas essa não era a manchete de ontem, da semana passada, do mês passado, do ano passado? Porra Bush, se até nós, brasileiros que esperamos não ter nada a ver com isso, já estamos preparados para a guerra, como é que vocês, americanos paranóicos com reverendos moons, charles mansons e unabombers, não estão?

Aí eu lembro de 1991 e meu desgosto só aumenta. Eu devia ter uns 12 anos de idade e não via graça nenhuma naquelas luzinhas verdes que o Jornal Nacional ficava mostrando. No dia seguinte, todos comentavam sobre a loucura que era a Guerra do Golfo, como o Saddam era mau, como a CNN mostrava tudo tão bem e como a guerra era sanguinária. Mas na TV eu só via as luzinhas verdes e não entendia o que fazia ali o adjetivo de "guerra sanguinária". Eu também via as mesmas luzinhas jogando Wing Comander e não tinha nada de horripilante naquilo! CNN então eu mal sabia o que era. Comecei a achar que meus pais privavam-me das verdadeiras imagens da tal guerra. Foi um trauma.

Hoje, mais velho, conhecendo as maravilhas da maldita modernidade, sei que aquelas luzinhas eram realmente a guerra e que, apesar de sua aparente inocência, morria muita gente por casa delas. Pelo menos é isso que conta a história. Espero ansioso pela próxima guerra que virá acabar com minha desconfiança sobre a guerra da CNN.

Outro ponto contra a falcatrua da Guerra do Golfo é o site americano www.gulfweb.org, que propõe servir à comunidade de veteranos da Guerra do Golfo. Fundamental: o site foi fundado em 1994. Não, não, não! Não entra na minha cabeça que já em 1994 pudesse existir alguém se dizendo veterano da guerra do Golfo. No FAQ (frequently asked questions) do site encontra-se a seguinte questão:

Estou sofrendo da Síndrome da Guerra do Golfo e preciso de ajuda. O que posso fazer?

Sinto muito, familiares de falecidos, mas uma guerra feita de luzinhas verdes que durou poucos meses não pode causar síndrome em nenhum americano. E juro que não falo isso pelo trauma infantil que essa guerra me causou - já está superado.

Por que então não se pára com essa lengua-lengua e se faz outra guerra? Uma de verdade, com explosões, cogumelos, mortes e sangue. Não é o que eu gostaria, mas a chatice do Bush já me convenceu.