terça-feira, agosto 19, 2003

Meninas Apenas

Estava conferindo minhas mensagens já que hoje o serviço está leve e solto, e num desses portais da vida acabei me deparando com uma foto da tal Cristina Aguilera, onde ia a legenda "Podem me chamar de piranha". Ela nem é minha filha, nem prima, nem nada (eu nem ao menos gosto das músicas dela) mas eu achei chato a gratuidade da coisa toda. Na minha época, mulheres não gostavam de ser chamadas de piranha, mesmo se não fosse injustiça o apelido.

Com os meus fones de ouvido ressoando os acordes do Led pensei que devia ser a tal liberação sexual somada com a conquista de voz das mulheres nesses últimos anos, que a minha geração observa e vive. Há algum tempo o lugar delas não é mais na cozinha, e, mesmo que elas tenham problemas em localizar objetos no espaço, algumas gurias que conheço são ótimas motoristas. A minha garota mesmo é formada em engenharia e capaz de te dizer coisas sobre a feitura dum bombom Garoto que eu nem imagino.

Só que a tal liberação feminina, como toda conquista social, acabou englobada pelo capital. Ser mulher agora também é atitude, como ser roqueiro, ser jovem e até crer em Deus. Ser mulher significa representar um nicho de mercado, tal qual ser homem. Dentro dessa história atual de ser mulher, viu-se o apelo sexual (um apelo babão, típico de de garotos querendo ver a vizinha tomando sol na varanda) crescer tanto quanto os seios e bundas e até alguns bíceps das meninas, que continuam meninas apenas, apesar da casca de logos que o capital as tenta camuflar.

Dentro da nova lógica de ser mulher, uma jovem cantora declarar que deseja ser enquadrada como meretriz diante dos olhos do público é a tal atitude. Parece estranho que anos de lutas das mulheres para serem reconhecidas enquanto mulheres, seres que são capazes de competir social e mercadologicamente com seus parceiros homens, resultam em machismo. Porque eu, pessoalmente, não gostaria de ver nem minha mãe, nem minhas primas e muito menos a minha garota sendo tachada de rameira por aí. E duvido muito que elas pretendam ser vistas enquanto tal.

Meninas, rebelem-se. Gritem, façam greve, entrem em TPM por tempo indeterminado, mas façam-se respeitadas. Não deixem que nós homens e mulheres de menor envergadura moral transformem a sua liberdade de usar piercing no nariz e prestar concurso público (será que já pode?) em uma menina seminua rebolando na tevê durante a sesta dominical.