segunda-feira, agosto 04, 2003

O Palhaço que podia mudar a minha vida

Eu quase fui preso ontem. Um sujeito vestido de palhaço apareceu do lado do meu carro na Auto-estrada Lagoa-Barra e ficou insistindo para que eu ajudasse a Escola Municipal dos Palhaços, ou qualquer besteira do tipo. Para isso, eu deveria comprar uma nariz vermelho, igual àquele que ele estava usando. Porra, o palhaço era ele, não eu. O que diabos eu ia fazer com um nariz de palhaço?

Saltei do carro e cobri o palhaço na porrada. Bati muito mesmo nele pela insolência de querer me vender aquela merda de nariz. Aí apareceu polícia, vieram outros ambulantes para separar, foi um horror. Para me desculpar, inventei que eu tinha pensado que ele era um assaltante. Criei ali mesmo a famosa Gangue dos Palhaços do Leblon. Assaltam carros e sequestram crianças se disfarçando de palhaços, argumentei. Sorte minha que o palhaço era bem-humorado e acreditou nessa história. Não quis prestar queixa, o bufão, e a polícia me liberou.

Aí eu fui para casa e fiquei com pena do pobre palhaço, sabe? Foi totalmente absurda essa história de eu bater no coitado. Ele só estava ali tentando ganhar uma graninha e não há problemas nisso. Descobri que eu tenho traumas de palhaços. E, não, não foi por causa daquela merda de filme com o tal Pennywise.

Certa vez, quando eu já era adulto - maior de 21 e pêlos na bunda - eu saía com uma guria novinha, de uns 17 anos, ninfetinha mesmo. Numa quinta-feira qualquer fomos numa festinha do colégio dela. Não estávamos namorando exatamente, mas seus amiguinhos ficavam provocando, dizendo que éramos namorados. Ela então veio me perguntar o que deveria dizer para eles. "Parceiros sexuais", respondi. A putinha então riu meio sem graça, me chamou de palhaço e disse para os amigos que nós tínhamos uma amizade colorida. Porra, adultos trepam, não têm amizades coloridas. E ela ainda me chamou de palhaço!

Mas o importante é que eu já tinha largado aquela mala de 17 anos que só sabia me encher e que agora, por causa dela, eu tinha batido num coitado que não tinha nada a ver com a história. Queria me redimir de alguma forma.

Liguei para 102 e pedi que a Edna me arrumasse o telefone da Associação de Palhaços do Rio de Janeiro. Aí veio uma gravação: "Após ouvir a informação desejada, tecle 4 para novas informações... O telefone solicitado não foi encontrado". Novamente liguei e pedi para a Juliana o telefone da Associação Brasileira de Palhaço. Ouvi a mesma gravação.

Eu só queria fazer uma simples doação e nem isso eu conseguia. Voltei, então, para a Auto-estrada em busca do palhaço e não o encontrei mais lá. Deveria trabalhar só em meio turno, o preguiçoso. Ao invés dele para tentar me vender a porcaria do nariz vermelho, apareceu um sujeito com um papel na mão, alegando ser portador de HIV e pedindo uma ajuda. Fiquei puto. Perguntei o que o impedia de trabalhar sendo soro-positivo. Ele disse que os remédios eram caros e que ele estava desempregado. Porra, então pede dinheiro por estar desempregado, não pela AIDS. É mais justo, honroso e menos apelativo.

Aí o coitado começou a chorar, dizendo que ia morrer, que estava condenado, essas coisas. E aquele merda de palhaço nem estava ali para fazer aquele infeliz parar com as lágrimas. Não servia para nada mesmo, o tal palhaço.