quarta-feira, dezembro 29, 2004

O paradoxo do prisioneiro de bar

"O céu por cima do porto tinha a cor de uma TV ligada num canal fora do ar". Era uma das frases mais babacas que eu já havia lido e, no início de um livro, ficava pior ainda. Mas não era por isso que eu não conseguia seguir adiante. Desde o dia em que ela me disse que gostava de freqüentar o Belmonte do Flamengo, simplesmente perdi toda a motivação para ler em bares. Só sentava, pedia chopes, abria o livro, divagava e esperava em vão.

Resumo a história que precede minha agonia de bar apenas com as palavras paixão e covardia, para não os amolar tanto. Porque, vocês sabem, histórias de paixão e covardia são sempre muito chatas e monótonas. Dois meses atrás, num papo de corredor, uma colega de trabalho por quem eu estava apaixonado disse que volta e meia aparecia no Belmonte. A partir daí, usei todos os meus tempos vagos como freqüentador daquele bar. Esperando.

Eu me chamo Júlio, mas isso pouco importa. Aprendi o nome de todos os garçons, cozinheiros e gerentes do Belmonte. Depois do primeiro mês, começaram a me dar pastéis de cortesia e a me chamar de Julinho. Meu ritual era simples: sentava numa das mesas de dois lugares no estreito corredor ao lado do balcão - sempre de frente para a porta-, pedia chopes e tirava o livro da bolsa. Menos por amizade, mais por educação, cumprimentava os garçons, um por um. Nunca lhes contei meu motivo e acredito que pensavam simplesmente que eu era um bêbado desocupado. Sentava lá em qualquer horário, de noite ou de dia, e às vezes chegava a beber 20 chopes antes de desistir. Garanto que conheço o cardápio tanto quanto o cozinheiro.

A primeira frase do livro que me acompanhou nestes dois meses é do "Neuromancer", de William Gibson. Sim, um livro de nerd que, dizem, é muito interessante. Mas aquela frase estúpida e a preocupação em não deixar de fitar todas as pessoas que cruzavam a calçada me impediam de continuar. Quando chegava no canal fora do ar, lembrava-me dela, de Clarke, Dick, Videodrome, Orwell, Matrix e outras besteiras. Uma de minhas divagações mais recorrentes dizia respeito à incerteza sobre a existência de uma música de Frank Zappa chamada Father O´Blivion. Outra, era tentar achar uma interpretação semiótica aos filmes do Pasolini - neste caso, confesso que tive dificuldade, muito por ter visto Teorema, Evangelho..., Medéia, Decameron há mais de cinco anos, muito por minha incapacidade intelectual.

Como devem ter reparado, ela nunca apareceu e escrevo pela necessidade de contar ao mundo minha desistência. De dois meses para cá, não tive outros curtos instantes com a moça a só no corredor do trabalho para tentar descobrir o motivo que poderia ter a feito mudar de bar.

Sei que pode parecer loucura esperar alguém que não se sabe se, quando e, principalmente, com quem vai chegar. Mas paixão e sanidade também nunca me pareceram combinar. No décimo-primeiro dia, um amigo que não via há muito tempo apareceu no Belmonte de surpresa. Contei-lhe meu motivo e ele me incentivou. Disse que sofria do mesmo mal, uma paixão platônica por uma colega de trabalho. Em seu caso, a paixão também se tornou fixação, mas ao invés de tentar encontra-la fora do horário de serviço, martirizava-se imaginando praticar sexo oral na moça. "Sabe, Julio, eu te entendo. No trabalho, não consigo para de me imaginar lambendo a buceta da Fernanda".

Eu adorava cunnilingus e os décimo-segundo e décimo-terceiro dias foram praticamente todos dedicados à mesma imaginação de meu amigo. Acabava o fora do ar, e já nos imaginava na cama, no chão, no elevador e, mais insano, no corredor do trabalho, o mesmo em que aconteceu a revelação sobre o Belmonte.

É claro que estou frustrado. Questiono se todo esse tempo perdido buscando um sonho valeu a pena. Minha paixão perdeu intensidade, lógico. Tornou-se, porém, obstinação e não é simples lidar com essa nova realidade. Mais cedo, hoje, fui num puteiro para tentar esquecer. A prostituta, mesmo solícita, não conseguiu exercer um carinho suficiente para que eu relaxasse. Mas apesar de péssima boqueteira, foi ótima conselheira.

Lembrou-me, ela, da história que um cliente a havia contado. Era o paradoxo do prisioneiro de Wittgenstein, mas acho que ela não sabia disso. Enfim: "Um rei decretou uma lei em que todo estrangeiro que chegava ao reino teria que declarar, sob ameaça de enforcamento, o verdadeiro motivo de sua viagem. Mal sabia o monarca que se colocaria num dilema insolúvel quando um esperto viajante sofista explicou ter ido ao reino para ser justiçado com base na tal lei".

A prostituta foi peremptória para minha desistência ao perguntar se minha paixão faria sentido caso ela aparecesse no Belmonte com o único intuito de se encontrar comigo. "E então, Julio? E, então, você realmente quer se encontrar com ela, ou só precisa alimentar um fetiche tolo?". Achei estúpido, sorri, paguei pelo péssimo boquete, mas não voltarei ao Belmonte. Retornarei, sim, àquele puteiro, tenho certeza.

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Ao Leandro, com carinho, amor e saudade

Em 2005 as coisas vão ser diferentes por aqui. Responsável pelos melhores momentos desse blog (sim, eu sou humilde), Leandro vai se mudar para algum estado ao norte. Ele vai para a única região do país que eu não conheço e prentedo visitá-lo o quanto antes. Devo marcar minhas férias para agosto e, se conseguir arrumar meu carro até lá, vou dirigindo até o Pará. Loucura é o caralho.

É o terceiro amigo que vai para outro estado em menos de dois anos. Daqui a 15 dias, outra também se vai. Das duas, uma: ou eu estou sendo abandonado, ou as pessoas não temem a distância quando se trata de buscar um futuro melhor. Felicidade não é só trabalho - como foi a busca de dois desses amigos que foram embora -, nem amores impossíveis - como foi e será a busca de outros dois. Talvez seja uma conjunção disso aí, com um morango em cima só para dar uma cor.

Já aprendi e acreditei, noutra época, que felicidade é o encontro com Deus. De um tempo para cá, porém, eu mudei, meu Deus mudou e até mesmo meu desejo por felicidade mudou. Se eu nem sei o que é exatamente ser feliz, por que devo me preocupar com isso?

Daí vou vivendo a vida, rodando por aí, e, assim, pretendo chegar até o Pará. Mas chega de andreocentrismo por hoje.

A falta que o Leandro vai fazer vai muito além do companheiro de bar em bar. Que ele não nega mais um gole, isso é verdade, mas há outros pinguços que também são assim. O diferencial do Leandro é não negar, nunca, mais um ombro, mais uma palavra de consolo, mais um lenço para enxugar as lágrimas dos outros. Ele também não mede palavras duras e sinceras quando necessário e está cansado de me dizer sem pudor que eu sou um merda e que minha namorada merece coisa melhor. E diz isso com carinho.

Uma vez, há uns dois anos, fui deixar o Leandro em casa lá pelas 7h da madruga. A cena foi hilária. Ele saltou do carro completamente alcoolizado, pegou um dos 500 jornais que estavam na porta de seu prédio para ser distribuídos a assinantes e jogou dentro do meu carro. "Vai, André, foge, foge, foge". O cara roubou um jornal para mim, sabe? O objeto do roubo pouco importa. Se fossem dúzias de flores, ele teria roubado uma flor do mesmo jeito.

Daí, vocês têm que entender, a falta que ele vai fazer aos amigos. Porque o Leandro, gente, é o surdo mais bacana que eu já conheci. O Pará vai ser mais feliz com ele. E eu, mais infeliz sem.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

E se eu estiver morto?

Eu não tenho a menor idéia de quantas pessoas vêm aqui, no Inventando Dogmas, regularmente e, muito menos, de quantas dessas pessoas me conhecem pessoalmente. Como eu já escrevi uma vez, tudo o que ponho nesse espaço é ficção, nada mais. Estou bem longe desse garotão malandro e quase nunca "take a walk on the wild side". Quem apenas lê esse blog não me conhece, tenho certeza.

Mas, como em tudo, há alguns poréns. Uma amiga psicóloga, outro dia, tentou me convencer que, mesmo quando inventamos personagens, transparecemos muito de nossa personalidade. O mais apropriado, talvez, seja dizer que transparecemos quem gostaríamos que fossemos - o que não reduz o valor para o conhecimento. O papo surgiu depois de eu afirmar que, caso fizesse análise, criaria um personagem e me divertiria mentindo para o analista. Minha amiga me disse que não faria diferença e ela provavelmente está certa.

O mais grave de me conhecerem apenas pela internet é que muitos leitores desse personagem que crio podem nunca saber que morri. Porque é possível que neste momento eu esteja morto. Um dia isso teria que acontecer e quem passar por esse blog e ler esse texto nunca vai ter real conhecimento de meu destino.

Ajudo, então. A causa de minha morte foi overdose. Misturei pó com muito whisky barato e deu nisso. Não me arrependo, apesar de odiar fazer escolhas estúpidas, como morrer pelo uso de drogas. Abominava, em vida, qualquer droga sob a explicação de que nada que altere a razão pode fazer bem para um ser-humano. O que nos diferencia dos animais são nosso raciocínio e nossa alma. E as drogas nos fazem perder metade dessa humanidade.

Meu raciocínio, tão auto-valorizado, me pregou então uma peça, por ironia. Vejam bem: por me vangloriar tanto de pensar, me permitia fazer escolhas incomuns, mesmo as mais estúpidas, mesmo aquelas de que poderia me arrepender depois. Não tive tempo para arrependimentos nesta última vez, porque a escolha foi bastante equivocada. Em resumo, morri por pensar e querer desafiar o pensamento. "É errado, mas acredito que sou esperto o suficiente para me controlar e fazer valer a alienação momentânea". Talvez eu, ou esse personagem, não fosse tão esperto assim.

Muitos de vocês, porém, não têm idéia a quem consolar com minha morte. Conheceram-me apenas por aqui, ou por chat, ou por e-mail. Não têm idéia onde morava e do que gostava. Conheceram apenas o personagem e não se importam mesmo se estou realmente morto. Culpa da frieza das palavras escritas via internet.

Os que nunca me viram ou ouviram talvez estejam lamentando. Outros que me conheciam há pouco tempo talvez me dediquem duas lágrimas. Amanhã, vocês já estarão de volta à cerveja, sem pestanejar. Esse personagem não fazia diferença mesmo para ninguém que não fosse eu, um escritor em busca de um desfecho para seu livro. Tudo o que fazia era exercício e, antes de morrer, queria mesmo dar continuidade à história de Julio Sarmento, de uma maneira digna.

No próximo post, se não estiver morto, volto a escrever ficção. Vou falar de um cara amante de cunilingus que começou a freqüentar lugares na esperança de se encontrar com uma paixão. Ele, meio louco, imaginava que a pessoa poderia aparecer em determinado bar naquele dia e ficava lá, bebendo cerveja, esperançoso. Quem não me conhece, nem vai perceber a diferença entre a ficção e a realidade. Nem vai se importar, até.

Assim como quem me conhecia já não se importa mais.

sábado, dezembro 18, 2004

Caro Leandro,

Ontem enchi a cara para comemorar a garantia de meu emprego em 2005. Era uma festa fechada, mas senti falta dos amigos de sempre. Porque felicidade só existe mesmo, companheiro, quando há alguém que realmente goste de você para compartilhar os sentimentos. O resto é besteira, acredite.

Ah, sucessivas bebedeiras me mostram que não tenho mais a mesma resistência ao álcool de outrora. Ultimamente, umas cervejinhas já me deixam alegre demais. Aí, você já viu, me solto dançando, grito, falo merda. Acho que só vou aprender mesmo quando eu bater de carro.

Não escrevo, porém, para falar dessa festa, Leandro. Quero te contar que vieram parar no nosso blog procurando no google "leandro godinho blog". E isso me deixou muito orgulhoso.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Práticas adolescentes ou Quem é mais sentimental que eu?

Foi surpreendente - ao menos para mim, nascido na década de 70. No show do Los Hermanos, enquanto a banda tocava uma musiquinha mais lenta (acho que foi "Sentimental"), alguns adolescentes acenderam e levantaram seus telefones celulares. Sabe o velho ritual com o isqueiro? É isso mesmo, eles estavam tentando simular o mesmo efeito. Não sei se vocês já tinham presenciado a cena, mas para mim foi novidade. Ainda procurei meu velho Zippo no bolso da calça para mostrar como se faz mas, ufa, eu realmente parei de fumar.

Apesar de pedófilo assumido, eu simplesmente odeio a maioria das atitudes de crianças, adolescentes e velhos que tiram onda de jovens. É, eu odeio, mas me divirto observando. O show, portanto, ficou em segundo plano. Só que havia crianças demais e, como ando muito ranzinza, foi difícil me divertir, mesmo assumindo o papel de visitante de zoológico humano.

O telefone celular é outra de minhas implicâncias. Eu tenho um, com o mesmo número, há uns dez anos. Garanto, porém, que desde o dia em que mamãe me presenteou com aquele trambolho com o objetivo de conhecer meu paradeiro até hoje, eu só uso o bichinho na opção "vibra call". Vai mentir quem disser que já ouviu meu celular tocar. Barulho de telefone já é insuportável em casa, quanto mais na rua. Aliás, outra de minhas manias é gostar de privacidade e não atender celular em casa. E, não, não adianta discutir.

Esses celulares modernos tiram até fotos. E as crianças no show abusaram desse recurso. Antigamente as pessoas também tiravam fotos em shows, principalmente quando eram muito fãs de uma banda. No caso, mais pareceu que essa galerinha quer guardar uma recordação de qualquer momento - vivido ou não. Aposto que havia adolescentes no lado de fora do Canecão, sem ingresso, tirando fotos, só para botá-las em seus fotologs com a legenda "eu, ju e ka sem ingresso no Los Hermanos" (não adianta que não consigo reproduzir a forma de escrita adolescente com exatidão).

Outra surpreendente cena foi protagonizada por duas gurias que ignoraram completamente o show para observar um casal gay meio afetado que estava do meu lado. Eles se abraçavam, acariciavam-se e emocionavam-se, mas não rolava um beijo na boca. As meninas, coitadinhas, estavam ansiosas - e meio assustadas - esperando pelo beijo.

Ah, mas não foi apenas o casal gay que se emocionou demais no show. Vários daqueles adolescentes gritavam, jogavam os braços para o alto e pulavam, como pulavam. Não importava a música, sempre tinha um grupinho pulando fora do ritmo.

O melhor show da minha vidinha foi o do Bowie, há uns sete ou oito anos. Eu gosto do cara, ele é carismático e, ao contrário de muita gente, considero o "Earthling", disco que ele estava lançando na ocasião, excepcional. Cantarolei umas músicas, sim. Mexi os ombros um pouco, sim. Mas não fiquei o tempo todo pulando feito pipoca. Será que eu sou o único que perde tempo e dinheiro para assistir a um show e não para se emocionar?

Ou será que estou ainda mais chato e ranzinza do que penso?

sábado, dezembro 11, 2004

Quando se vai numa festa que, para chegar, passa-se por dúzias de placas com os dizeres "respeite a vida - se beber, não dirija", está na cara que alguma coisa fora do programado vai acontecer. Por isso, prometo: não encosto em whisky tão cedo.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Um pouco de "meu querido diário" ou Momentos introspectivos de fim de ano

Por favor, ajudem-me a decidir. Qual o mais belo samba, "Onde a dor não tem razão", parceria do Paulinho com o Elton, ou "O mundo é um moinho", do Cartola? Foi uma hora correndo na praia ouvindo as duas canções em seqüência sem conseguir eleger a melhor. Um coração não ser mais abrigo de amores perdidos ou uma abismo cavado com os pés? Isso não é para qualquer um, não, gente.

Ah, como algumas óperas, minhas histórias têm sempre um interlúdio e desta vez não quero perder tempo montando artimanhas para mudar de assunto sem que o leitor perceba. Daqui a pouco volto à eleição do melhor samba, mas, agora, vamos ao que importa:

Estou praticamente curado da gripe. Consegui me exercitar razoavelmente bem ontem e hoje. O projeto André Miranda Mister Universo 2006, aliás, vai muito bem, obrigado. Começo a pensar, até, que eu teria sucesso em 2005, mas prefiro manter a humildade e seguir o plano original. Minha boa saúde também me faz pensar no ano seguinte, com mais clareza e mais precisão. E, apesar de a velha esperança, no meu caso, ainda não poder morrer, está na hora de encarar a realidade: talvez eu esteja desempregado em janeiro. Não vai ser a primeira, nem a última vez, e terei o mesmo prazer de sempre em me testar por aí atrás de um emprego.

Acho que já tratei desse assunto aqui, mas não custa nada recordar. Na vida moderna, o emprego é o calcanhar de Aquiles do homem. A conversa entre adultos numa mesa de bar invariavelmente passa por trabalho, sucessos e insucessos profissionais. E, muitas vezes, alguém sai deprimido dessa história, com uma ponta de inveja até. E não sejam cruéis reservando um canto no Inferno para o invejoso, que nem toda a inveja é maléfica como se pensa. Pode-se almejar o que outro conseguiu sem que, para isso, seja necessário torcer ou agir contra o companheiro.

Mas o fato é que adoro mesas de bar e não quero perder meu tempo com depressões entre um chope e outro. Assim periga o chope perder lugar e aparecer apenas entre uma depressão e outra. E, vocês sabem, muita depressão leva a muito chope, e esses são itens que não devem ser combinados, quando em excesso. Em uma ocasião, sem ainda ter conseguido tirar um espinho do peito, bebi uns R$ 80 na Bunker e fui dirigindo para casa. Isso aconteceu há uns seis anos e será que alguém lembra quanto se podia beber com R$ 80 há seis anos?

Preciso deixar uma coisa clara, antes de prosseguir. Não escrevo sobre desemprego e depressão para que sintam pena de mim. De verdade, minha auto-confiança é muito grande para que eu me preocupe com isso. Portanto, não percam tempo se preocupando. Portei-me com tranqüilidade na última vez que um momento como este se aproximou e não será diferente agora, um ano mais maduro.

Eu até me divirto com essa história, pensando em como anunciar a hora de partida. Já esbocei uma ou duas linhas, singelas, algo como "pessoal, foi um prazer conhecer alguns e um desprazer não ter conhecido todos". Acho que é bonitinho e simples. Fico em dúvida, porém, na melhor forma de despedida. Um otimista "até breve", um realista "nos vemos por aí" ou um pessimista "adeus"? Tenho tempo ainda para resolver e acho que essa questão vai me divertir bastante por alguns dias.

Já pensando em 2005, uma solução óbvia seria voltar a ONGs e ao vídeo, duas coisas que, acredito, faço direitinho. Mas, vamos lá, quem esperou, como eu, por um novo "carinho", não pode desistir assim, no primeiro percalço. Eu quero, sim, voltar a fazer vídeos com jovens carentes e em situação de risco, mas não estou pronto para isso agora. Dois meses chegando às 7h na Lapa todos os dias para gravar um vídeo com crianças com menos de quinze anos drogadas e subnutridas não se esquece em dois anos. E também não consigo esquecer o menino da Rocinha que me falou, certa vez depois de uma das minhas péssimas aulas de vídeo, que queria ser jornalista. Foi inevitável lamentar calado.

Ainda é cedo, amor, talvez, para dar algumas coisas como encerradas, mas eu tenho que me divertir, certo? E tenho também que arrumar alguma coisa para escrever nesse espaço.

Fica claro que a eleição do melhor samba foi apenas um pretexto para expor lamúrias e pensar em 2005. O período entre o início do ano e o 16 de março em que nasci, todos sabem, é aquele em que fico mais chato, mais ranzinza e mais de mau humor. Desta vez a coisa toda começou mais cedo e, torço, se encerrará mais cedo também. Afinal, em 1o de janeiro saberei se o mundo é um moinho ou se a dor não tem razão.

Desmistificando os sadomasoquistas ou Quem transa em banheiros de metrô?

Eu tenho evitado o assunto, depois de ter sido chamado por alguns leitores de pornográfico demais. Usaram o termo "tarado", até. Mas não gosto de me reprimir e, sim, vou escrever sobre sexo novamente. Só que, desta vez, a premissa é boa, garanto. É que num desses programas de sacanagem que passam à noite no GNT, uma mulher disse que o sadomasoquista acredita que o cérebro é o principal órgão num ato sexual. Cordas e palmadas, portanto, servem para excitar a mente. Isso eu já sabia mas, definitivamente, é um belo argumento e lembrarei dele daqui para frente, principalmente quando estiver com alguma garotinha bobinha e bem criada em colégios cristãos.

No mesmo programa, um casal explicou que a mulher gosta de ser amarrada, pois, nesse caso, não sente culpa pelas obscenidades realizadas pelo parceiro. Ou seja, ela é enrabada, até gosta, mas fica tudo bem porque não houve consentimento de sua parte. Estranha, a mente feminina. Fiquei até com vontade de ir num sex shop comprar aquelas bolas vermelhas para a boca. Aquilo é muito bacana. As meninas não conseguem falar e, ainda, tem alguma coisa para morder em caso de... vocês sabem.

O mais bacana do sadomasoquismo, em minha humilde e pouco experiente opinião, é criar uma realidade impossível. Submissão física não é bem aceita no mundo moderno - ainda mais quando envolve diferentes gêneros. Portanto, a fantasia de alguém mandando lamber os pés e outro obedecendo excita as pessoas. No fundo, é uma cena bem ridícula duas pessoas com roupas de couro, sendo que uma bate e a outra apanha. Mas tem gente - eu, inclusive - que gosta, ué!

Certa vez, quase comprei uma daquelas hastes duras que servem para manter as pernas sempre abertas. Prende-se cada ponta nos tornozelos e, bingo, uma mulher de pernas abertas todo o tempo. Puro êxtase. Desisti, por pensar que pouco usaria o artefato e seria dinheiro perdido. Meu chicote e minhas correntes ficam jogadas num canto do armário, do lado de uns álbuns de retrato. Sabem aquelas fotos que você só vai olhar de novo quando estiver bem velho e com saudades dos tempos de adolescência? Não estão num lugar de destaque, meus apetrechos eróticos, com certeza.

É que eu acho essa coisa toda meio falsa, sabe? Esses programas de sacanagem da GNT, por exemplo, só entrevistam os tipos mais estranhos. Mesmo quando um ou outro parece ser mais próximo do espectador comum, esses parecem forçar uma barra, parecem querer aparentar mais lascivos do que realmente são. A gama de entrevistadas ninfomaníacas, então, é impressionante. Já conheci moças que gostavam bastante de sexo, mas iguais àquelas da TV, nunca vi. São mulheres que juram que transam em qualquer lugar, seja no ônibus, no trabalho ou no banheiro fétido do metrô.

Eu tento acreditar o contrário, mas duvido que as pessoas gostem tanto de sexo assim. Acho que elas até querem gostar, mas se contentam com a variação de umas cinco ou seis posições em dez a vinte transas por mês. Isso é pouco, né, gente?