André Miranda ou Jan Saudek
Quando uma obra do Edward Hopper ornamenta a tela do computador de uma pessoa, pode ter certeza que ela está com problemas. Não se trata de uma obra qualquer, mas uma daquelas bem clássicas, cheia de vários aspectos da solidão.
A pessoa sou eu. E como os blogs surgiram como espécies de diários virtuais, eu vou desvirtuar o já desvirtuado Inventando Dogmas para escrever sobre mim mesmo. Tenho esse direito, ora bolas. Porém, cito logo de mão uma frase de meu caro companheiro de blog, Leandro Godinho: "Porra, André, eu só escrevo ficção". E está certo que o Dudu já me definiu bem como o sujeito chato que adora procurar a realidade na ficção e a ficção na realidade, porém, exijo o direito de contar minha realidade.
Meu domingo não foi lá grandes coisas, sabe? Eu não bebi e nem trepei. Aliás, eu não trepo há umas três semanas, mas pelo menos enchi a cara ontem. Ultimamente eu tenho preferido beber a trepar mesmo. Dá menos trabalho, afinal, e pode até ser mais econômico.
Passei o dia vendo fotos de um fotógrafo tcheco chamado Jan Saudek. São fotos maravilhosamente depressivas que aumentaram ainda mais meu apreço pelo trabalho do Hopper. Sabe a solidão existencial de Nighthawks, onde as pessoas estão presas à noite num bar sem portas, com vitrais escancarando sua privacidade? E ainda tem aquela luz fluorescente. E como eu odeio essa luz fluorescente! Porra, eu tenho me sentido no Phillies de Nighthawks. E ainda acho que sou o pobre coitado de costas, aquele sem rosto, sem trabalho e sem companhia.
Voltando ao trabalho do Saudek, como alguém consegue ser tão erótico com imagens tão absurdas? Juro que se eu fosse fotógrafo eu gostaria de ser o Saudek. Ou a Diane Arbus, mas o Saudek é tcheco e deve ser a maior onda dizer para os amigos que você é tcheco.
Também passei meu tempo fazendo um maldito teste de nível homossexual. Um tal de gayometer. O resultado foi:
"Andy is 50% gay. Congratulations! You've scored right in the middle and are a happy and well adjusted hetero man!"
Porra, e aí? Eu dou o rabo ou não?
Eu tenho um amigo que gosta de ficar apostando quem encontra um gay primeiro na rua. E tem que ser daqueles gays sem contestação, até porque a gente não vai querer tirar a prova. É divertidíssimo: quando um de nós acha que viu um gay, a gente grita e aponta "achei, achei, achei". Depois, nosso júri de dois decide se o cara era realmente gay. Uma graça. Esse mesmo amigo gosta de se masturbar duas vezes antes de encontrar com a namorada. "Aí eu demoro mais para gozar", explica ele. Há umas três semanas, quando eu ainda trepava, as mulheres gostavam mesmo quando a coisa demorava. Talvez meu amigo esteja certo. Mas acho que está mais para um personagem das fotos do Saudek.
Outro dia ouvi uma história de um garoto de 16 anos que, ao sair com meninas de também tenra idade, libertava seu pênis da calça e dizia "se quiser, guarda você - eu não vou guardar, eu não vou guardar". Talvez seja uma bela tática para conseguir uns instantes de carinho manual de outrem em seu pênis, mas acredito estar um pouco velho para esse tipo de coisa.
Afinal, meu novo papel de parede é A Woman in the Sun e não a foto da Maryeva na Playboy. Ela parece estar esperando algum Godot ou alguém que valha. Está nua, fuma um cigarro e parece sorrir. Ela está na escuridão, mas na escuridão sempre há alguma luz a se encontrar, mesmo quando não se sabe exatamente de onde ela vem. E que belos seios ela tem.
Eu ando me vendo numa obra do Hopper, das mais escuras mesmo. E eu me vejo também como um dos três de Pieta nº 1, uma bela foto do Saudek.