Práticas adolescentes ou Quem é mais sentimental que eu?
Foi surpreendente - ao menos para mim, nascido na década de 70. No show do Los Hermanos, enquanto a banda tocava uma musiquinha mais lenta (acho que foi "Sentimental"), alguns adolescentes acenderam e levantaram seus telefones celulares. Sabe o velho ritual com o isqueiro? É isso mesmo, eles estavam tentando simular o mesmo efeito. Não sei se vocês já tinham presenciado a cena, mas para mim foi novidade. Ainda procurei meu velho Zippo no bolso da calça para mostrar como se faz mas, ufa, eu realmente parei de fumar.
Apesar de pedófilo assumido, eu simplesmente odeio a maioria das atitudes de crianças, adolescentes e velhos que tiram onda de jovens. É, eu odeio, mas me divirto observando. O show, portanto, ficou em segundo plano. Só que havia crianças demais e, como ando muito ranzinza, foi difícil me divertir, mesmo assumindo o papel de visitante de zoológico humano.
O telefone celular é outra de minhas implicâncias. Eu tenho um, com o mesmo número, há uns dez anos. Garanto, porém, que desde o dia em que mamãe me presenteou com aquele trambolho com o objetivo de conhecer meu paradeiro até hoje, eu só uso o bichinho na opção "vibra call". Vai mentir quem disser que já ouviu meu celular tocar. Barulho de telefone já é insuportável em casa, quanto mais na rua. Aliás, outra de minhas manias é gostar de privacidade e não atender celular em casa. E, não, não adianta discutir.
Esses celulares modernos tiram até fotos. E as crianças no show abusaram desse recurso. Antigamente as pessoas também tiravam fotos em shows, principalmente quando eram muito fãs de uma banda. No caso, mais pareceu que essa galerinha quer guardar uma recordação de qualquer momento - vivido ou não. Aposto que havia adolescentes no lado de fora do Canecão, sem ingresso, tirando fotos, só para botá-las em seus fotologs com a legenda "eu, ju e ka sem ingresso no Los Hermanos" (não adianta que não consigo reproduzir a forma de escrita adolescente com exatidão).
Outra surpreendente cena foi protagonizada por duas gurias que ignoraram completamente o show para observar um casal gay meio afetado que estava do meu lado. Eles se abraçavam, acariciavam-se e emocionavam-se, mas não rolava um beijo na boca. As meninas, coitadinhas, estavam ansiosas - e meio assustadas - esperando pelo beijo.
Ah, mas não foi apenas o casal gay que se emocionou demais no show. Vários daqueles adolescentes gritavam, jogavam os braços para o alto e pulavam, como pulavam. Não importava a música, sempre tinha um grupinho pulando fora do ritmo.
O melhor show da minha vidinha foi o do Bowie, há uns sete ou oito anos. Eu gosto do cara, ele é carismático e, ao contrário de muita gente, considero o "Earthling", disco que ele estava lançando na ocasião, excepcional. Cantarolei umas músicas, sim. Mexi os ombros um pouco, sim. Mas não fiquei o tempo todo pulando feito pipoca. Será que eu sou o único que perde tempo e dinheiro para assistir a um show e não para se emocionar?
Ou será que estou ainda mais chato e ranzinza do que penso?