segunda-feira, dezembro 06, 2004

Um pouco de "meu querido diário" ou Momentos introspectivos de fim de ano

Por favor, ajudem-me a decidir. Qual o mais belo samba, "Onde a dor não tem razão", parceria do Paulinho com o Elton, ou "O mundo é um moinho", do Cartola? Foi uma hora correndo na praia ouvindo as duas canções em seqüência sem conseguir eleger a melhor. Um coração não ser mais abrigo de amores perdidos ou uma abismo cavado com os pés? Isso não é para qualquer um, não, gente.

Ah, como algumas óperas, minhas histórias têm sempre um interlúdio e desta vez não quero perder tempo montando artimanhas para mudar de assunto sem que o leitor perceba. Daqui a pouco volto à eleição do melhor samba, mas, agora, vamos ao que importa:

Estou praticamente curado da gripe. Consegui me exercitar razoavelmente bem ontem e hoje. O projeto André Miranda Mister Universo 2006, aliás, vai muito bem, obrigado. Começo a pensar, até, que eu teria sucesso em 2005, mas prefiro manter a humildade e seguir o plano original. Minha boa saúde também me faz pensar no ano seguinte, com mais clareza e mais precisão. E, apesar de a velha esperança, no meu caso, ainda não poder morrer, está na hora de encarar a realidade: talvez eu esteja desempregado em janeiro. Não vai ser a primeira, nem a última vez, e terei o mesmo prazer de sempre em me testar por aí atrás de um emprego.

Acho que já tratei desse assunto aqui, mas não custa nada recordar. Na vida moderna, o emprego é o calcanhar de Aquiles do homem. A conversa entre adultos numa mesa de bar invariavelmente passa por trabalho, sucessos e insucessos profissionais. E, muitas vezes, alguém sai deprimido dessa história, com uma ponta de inveja até. E não sejam cruéis reservando um canto no Inferno para o invejoso, que nem toda a inveja é maléfica como se pensa. Pode-se almejar o que outro conseguiu sem que, para isso, seja necessário torcer ou agir contra o companheiro.

Mas o fato é que adoro mesas de bar e não quero perder meu tempo com depressões entre um chope e outro. Assim periga o chope perder lugar e aparecer apenas entre uma depressão e outra. E, vocês sabem, muita depressão leva a muito chope, e esses são itens que não devem ser combinados, quando em excesso. Em uma ocasião, sem ainda ter conseguido tirar um espinho do peito, bebi uns R$ 80 na Bunker e fui dirigindo para casa. Isso aconteceu há uns seis anos e será que alguém lembra quanto se podia beber com R$ 80 há seis anos?

Preciso deixar uma coisa clara, antes de prosseguir. Não escrevo sobre desemprego e depressão para que sintam pena de mim. De verdade, minha auto-confiança é muito grande para que eu me preocupe com isso. Portanto, não percam tempo se preocupando. Portei-me com tranqüilidade na última vez que um momento como este se aproximou e não será diferente agora, um ano mais maduro.

Eu até me divirto com essa história, pensando em como anunciar a hora de partida. Já esbocei uma ou duas linhas, singelas, algo como "pessoal, foi um prazer conhecer alguns e um desprazer não ter conhecido todos". Acho que é bonitinho e simples. Fico em dúvida, porém, na melhor forma de despedida. Um otimista "até breve", um realista "nos vemos por aí" ou um pessimista "adeus"? Tenho tempo ainda para resolver e acho que essa questão vai me divertir bastante por alguns dias.

Já pensando em 2005, uma solução óbvia seria voltar a ONGs e ao vídeo, duas coisas que, acredito, faço direitinho. Mas, vamos lá, quem esperou, como eu, por um novo "carinho", não pode desistir assim, no primeiro percalço. Eu quero, sim, voltar a fazer vídeos com jovens carentes e em situação de risco, mas não estou pronto para isso agora. Dois meses chegando às 7h na Lapa todos os dias para gravar um vídeo com crianças com menos de quinze anos drogadas e subnutridas não se esquece em dois anos. E também não consigo esquecer o menino da Rocinha que me falou, certa vez depois de uma das minhas péssimas aulas de vídeo, que queria ser jornalista. Foi inevitável lamentar calado.

Ainda é cedo, amor, talvez, para dar algumas coisas como encerradas, mas eu tenho que me divertir, certo? E tenho também que arrumar alguma coisa para escrever nesse espaço.

Fica claro que a eleição do melhor samba foi apenas um pretexto para expor lamúrias e pensar em 2005. O período entre o início do ano e o 16 de março em que nasci, todos sabem, é aquele em que fico mais chato, mais ranzinza e mais de mau humor. Desta vez a coisa toda começou mais cedo e, torço, se encerrará mais cedo também. Afinal, em 1o de janeiro saberei se o mundo é um moinho ou se a dor não tem razão.