segunda-feira, março 20, 2006

O pior dia da minha vida

Às vezes a vida pode ser uma merda e às vezes ela pode ser ainda pior. De longe esta segunda-feira foi o pior dia da minha vida. Houve dias piores, lógico, mas este é o que eu consigo lembrar agora. Portanto, se, para este texto ficar ainda mais dramático, precisamos de um superlativo, deixem-me associá-lo com esta segunda-feira, dia 20 de março.

Acordei cedo, fui para o trabalho cedo, tirei sangue para uma droga de exame periódico que somos obrigados a fazer e que eu sempre esqueço. Mais exemplar impossível. Era daqueles dias que eu realmente tinha muito trabalho a fazer, tinha duas matérias grandes para fechar. Não parei um minuto.

Mas as coisas começaram a acontecer fora do planejado. Até que meu humor não estava dos piores pela manhã, mas pensamentos ruins vieram à tona e coisas ruins foram ditas e escritas. A coisa toda, então, começou a degringolar. O bom humor e disposição habituais sumiram. Mesmo assim procurei reclamar o mínimo possível das coisas, tentei evitar que um dia ruim se transformasse numa catástrofe.

Mas o dia fez isso por mim, sem que eu pedisse. No momento que me falaram que eu estava com uma cara nunca antes vista, eu deveria ter percebido que era obrigação ir para casa. Mas resolvi bater uma bola, para tentar algum conforto. A pelada foi até boa e fiz uns gols.

Só que o pneu traseiro do meu carro furou logo depois. Parei no escuro, à noite, no meio da Pacheco Leão para trocar. Me sujei todo e limpei com a blusa molhada do suor do futebol. Sujei o rosto todo mas só reparei nisso horas depois, quando cheguei em casa.

Na Barra, policias me pararam numa blitz e constataram que eu não tinha feito a vistoria de 2005. Pausa: não fiz porque não tive dinheiro para pagar as meia-dúzias de multas recebidas por trafegar a 72 km/h às 3h da madruga em pistas onde a velocidade máxima permitida é de 60 km/h. As multas foram pagas na semana passada por mamãe, como presente de aniversário. E eu pretendia marcar a vistoria para a semana que vem.

Expliquei tudo isso para os guardas, mas mesmo assim eles quiseram rebocar meu carro. Argumentei, mas eles foram irredutíveis. Peguei um táxi, paguei R$ 30 para chegar em casa e hoje, terça-feira, vou ter que ir no Centro, no prédio do Detran, antes de retirar o carro no depósito da Gardênia Azul. E eu não tenho a menor idéia de onde fica a Gardênia Azul. Isso, sem contar que tenho que estar às 13h30m na casa do Tunga, artista plástico, para uma entrevista. E que às 19h, eu tenho a primeira aula da pós em sociologia política.

A vida pode ser pior? É claro que pode. Quando cheguei em casa, não havia ligação, nem mesmo e-mail, para me confortar. Nada.

Resumindo: acordei cedo, tirei sangue, trabalhei demais, soube de coisas que definitivamente eu não queria que acontecessem, tive que trocar o pneu e logo depois rebocaram meu carro. Ah, eu fiquei mais ou menos trinta minutos sujo, calçando uma chuteira e usando um short laranja florido (não tomei banho porque estava sem toalha) no meio da Avenida das Américas, discutindo com policiais.

Eu não costumo fazer essas coisas assim, apenas por percalços rotineiros da vida, mas se existiu um dia que me deu vontade de chorar, este dia foi ontem. O pior de tudo, gente, é que o domingo também não foi dos melhores e que a semana está apenas começando. E, acreditem, o fim de semana promete muito mais.