terça-feira, junho 07, 2005

Morcego Negro - Loucura

Havia música, mas eu já não escutava nada. Estava confuso e devia estar longe de casa, eu não sabia que estava em busca de Nina ou simplesmente fugindo de mim. Desde que havia descido do avião, todas as moças, todas as portas, todas luzes pareciam me conduzir em direção a ela. Não há pecado do lado debaixo do Equador, mas eu estava quase acima do trópico, eu era todo avareza, luxúria, inveja, ira, gula, soberba e preguiça. E eu era um idiota, não conseguia deixar Nina partir e ela já o havia feito.

O taxista na saída do aeroporto perguntou para onde eu me dirigia. Respondi que precisava de um trago e o carro me levou rumo à minha obsessão. Nada daquele Bruno que um dia Nina tomara nos lábios sobreviveu a ela, só me restaria ser aquela sombra de mim mesmo que tentava esquecer o que já havia sido, mesmo que por acaso ou descuido. Ele me deixou numa subespécie de inferninho reloaded, as putas dançando trance e house junto dos pinguços batucando forró, tudo no ambiente cheirando a amônia.

Uma das meninas dali passou o braço por sobre meus ombros, cafuné na minha nuca, a língua materializava tudo o que eu precisava ouvir. Os rabos de galos desciam pela garganta como se fossem espermatozóides na corrida ao útero prometido, a menina achava graça naquilo, na minha cara de idiota, na voz que entregava carência, nas mãos que se assanhavam. Num determinado momento vi que ela já me devorava o membro, a noite virou dia e o dia ressaca. Tinha na boca o gosto de amônia, de cigarros, de cachaça e até do sexo da menina, que dormia do meu lado. Ela acordou e ficou me olhando, como se nunca tivesse me visto. Disse que precisava do dinheiro do táxi e disse o valor do programa e perguntou, inocente, já vestida e de banho tomado, quem era Nina que eu tanto gritava na noite.

A realidade despencou sobre mim. E chorei naquele lugar onde eu nem sabia que estava. Eu estava perdido.