segunda-feira, junho 27, 2005

Estávamos eu, meus derradeiros Marlboros e a cerveja que ainda restava naquela mesa na companhia de dois amigos, um casal e sua filhota, então eram três os amigos. Uma banda animava o clube, era uma festa de São João, havia quadrilha, havia as meninas desfilando de misses caipiras, havia um senhor falando besteiras de improviso ao microfone mas não havia estrelas no céu, tampouco nuvens, apenas uma noite. E havia aquela loira, imensa, farta, provavelmente uma bela diversão sobre uma cama, ou no banco traseiro de um carro ou até mesmo o banheiro do clube, ofegantes e silenciosos entre mármore sujo, uma loira que não envergonhava a cidade de Belém.

Pois bem, a Loira também estava numa mesa com amigos e tinha aquele cara, ela sempre dava um jeito de abraçá-lo, dizer cochichos ao pé do ouvido, marcar território. A mesa deles era a frente da nossa, umas 3 ou 4 mesas de distância, já vagas, daí eu tinha uma visão clara da situação, ela sentava-se de perfil para mim perto daquele cara. Mas era apenas uma loira a Loira, todos nós encontramos montes de loiras diariamente, quero dizer, não sei se é o caso de você estar me lendo nos confins asiáticos ou na grande mãe África, mas também não me interessa saber. Ela estava lá sendo loira, eu estava na minha mesa sendo um cara que bebia e sorria e falava coisas para a conversa não morrer junto do samba.

Numa das inúmeras vezes que fui ao banheiro eu resolvi acender um cigarro na volta, o casal e a filhota mereciam um pouco de tempo entre eles, sem mim na mesa, aquele tempo necessário para um trago. Parei para acender e dei com meus olhos nos olhos da Loira e ela parou com seus olhos no meu e, talvez não tenha durado nem dois segundos, mas Eistein era um gênio porque qualquer um poderia perceber nossos olhares se desafiando por horas e horas. Nenhum de nós sorriu como nos filmes, era uma surpresa, ela se desvencilhou e, ainda sob meu olhar, seguiu para uma ida emergencial a um banheiro próximo com uma das amigas da mesa. Eu retornei ao meu posto. Ah, mulher infiel!

Ela voltou do banheiro com alguma discrição, mas fez questão de abraçar aquele cara, beijos no rosto, o serviço completo. Talvez ele fosse o namorado, ou possível namorado, quem sabe um primo que anos antes havia mostrado a ela o lado positivo de se beijar um homem na boca e sabe-se lá mais o quê. Mas ela olhava para mim logo depois, os olhos fixos, talvez me desafiando a derrubar aquele cara da cadeira, tomá-la nos braços, jogá-la na primeira cama possível e comê-la literalmente, comer aquela loira com arrogância e gozar na cara dela. Seria uma boa forma de terminar a noite.

A vida, e quem já viu os filmes do Jerry Lewis há de concordar comigo, a vida é uma coisa muito engraçada e que não faz sentido algum. Não é bom que faça. Quando começa a fazer, é porque você está perto de concluir a sua vida, você irá morrer e começa a entender tudo mas aí você morre, e não há muita graça em entender a vida e não poder contar pra ninguém. O grande barato é continuar vivo, mesmo sem entender lhufas. A Loira me lembrava Aline, que eu havia conhecido uns dias atrás durante um show de rock. Dedicou uma semana a me roubar beijos e cigarros e aí precisou voltar pro antigo namorado. O que elas queriam? O que elas não queriam?

Ficou tarde e ela ainda me desafiava, mas cansei. Que ela se virasse com aquele cara mesmo, eu não precisava de mais problemas que um outro homem deveria resolver. Andei para casa, a noite sem nuvens e sem estrelas e sem vento. Aline me ligava pelo celular, estava tarde mas ela queria me ver. Continuava sem fazer muito sentido. Que bom.