Tudo seria muito mais fácil se ele fosse bonito. Ou algo assim. Ele pensava nessa frase enquanto o primeiro gole do sábado lhe descia não tão gelado quanto custava, seria melhor se ele fosse bonito. Ou mais prático. Seria natural, ele nem iria se dar conta e Júlia logo que o avistasse preceberia sua presença.
Diabos, foi o pensamento seguinte. Diabos, não era bonito. E Júlia na fila, cara de tédio, diabos. Outro gole e se concentrou em olhar para ela, parecer um homem, ainda que um homem feio. A discoteca ainda não estava lotada mas ela não o percebeu, o olhar de um míope não devia ser lá muito cativante. Diabos, outra cerveja.
Resolveu na metade da segunda cerveja que não passaria daquela noite, a Júlia. Precisava dela, de ouvir a voz dela e vê-la mexer os ombros quando conversava. Não entendia nada daquilo, ele precisando de uma garota, mas precisava e torcia pra que ela gostasse quando ele lhe mordesse o mamilo. Então gozava. Mas entender, nem achava possível.
Foi lá pela sexta cerveja que se sentiu senhor da situação, ou apenas não sentia mais nada, tropeçava e seguia adiante. Júlia dançava, ainda sozinha, ele olhava a cena com os pés cravados no chão. O mundo que girava em torno de si e do sol cobrava dele os passos seguintes, na direção da menina. Hesitava.
Algo aconteceu nesse entrevero, porque armou-se uma confusão e todos começaram a correr na discoteca, alguns aos gritos. Ele não entendeu aquilo também, mas viu que Júlia olhava para ele e para mais ninguém. E daí se perdeu na correria, no alarme de incêndio, nos empurrões, nos coletivos e fachadas cheias de colorido e som. Foi tudo arrastado em meio ao tumulto, ele, Júlia, possíveis olhares. Quando deu por si, amanhecia outro dia e mal sabia onde estava.
Eu sei, essa é uma história de amor. Mas ele vomitou sozinho antes de cair na cama do mesmo jeito, sem entender nada. E continuava feio.