O passado
Gente, eu não venho aqui há anos, por absoluta falta de tempo. E acredito que ninguém mais, além do Leandro, venha aqui ainda. Mas estou lendo um livro de um argentino chamado Alan Pauls e gostaria de compartilhar com alguém. É de longe um dos melhores textos que li nos últimos anos - e, acreditem, eu leio bastante. Vou entrevistar o Pauls amanhã, mas fiquem por enquanto com um trecho de "O passado":
"Anos mais tarde, a apenas setenta e dois dias (exatamente o tempoque Riltse levou para pintar a primeira de suas três extraordinárias Metades de Pierre-Gilles) de completar seus duodécimo aniversário, Rímini e Sofía se separaram. Tinham batido todas as marcas de longevidade conjugal que conheciam. Embora tivessem tido a delicadeza de dá-lo a conhecer de modo paulatino, num processo escalonado - das amizades novas às mais antigas, dos amigos solteiros aos que formavam um casal, da família dele, divorcistas pioneiros, à dela, que acabava de comemorar bodas de prata -, quando o rompimento adquiriu status oficial, no entanto, todo mundo vacilou, como se um tremor abalasse a terra ou um trovão estilhaçasse um silêncio de séculos. Não era possível."