sábado, abril 24, 2004

Vinte e Cinco anos depois

A gente cresce, ganha barba, o cabelo cai, um dia morre - eu sei. Mas às vezes a gente se esquece disso. Hoje eu serei padrinho de casamento de um cara que cresceu comigo, um cara que eu conheço desde os dois anos de idade. E ele vai casar, vai ter filhos, montar família e todas essas coisas legais que eu ainda acho muito distante da minha realidade. O Elinton tem 25 anos.

Provavelmente eu vou chorar para caralho nesse casamento. Vou lembrar das porras que a gente já fez e não vai dar para segurar. Quando o Elinton se formou, há uns dois anos, e fez uma viagem demorada, escrevi uma carta cheia de emoção para ele. Aquilo já era um sinal que as coisas estavam mudando.

O filme "E tua mãe também" é bom para mostrar as fases desse amadurecimento. Mostra as brincadeiras infantis, os compromissos com a vida, o amor e a responsabilidade do resultado. Começa com dois mulecotes bobões comendo as namoradas e termina com dois caras atormentados, pensando no futuro. E toda essa história é mostrada durante uma curta viagem de feriado, o que deixa a coisa mais bacana. Na primeira vez que eu vi, não gostei. Hoje, eu adoro.

Eu lembro às vezes que provavelmente nunca mais vou viajar com amigos pelos motivos da juventude. Nada de mochilão nos Estados Unidos, nem putarias no Nordeste. Nossas agendas não batem há muito tempo. De repente daqui a 10 anos, levando mulheres e filhos. Até lá, só chopinho na sexta à noite. E o pior é que o amadurecimento deixa nossa gana por diversão menos exigente. Qualquer coisa para sair do cotidiano está valendo.

Por falar nisso, uma amiga aqui do trabalho, a Renata, resolveu sair de um para entrar em outro cotidiano. Larga trabalho e cidade para casar no interior. Pois é, mais um casamento. E o mais estranho é que eu dei força, até acho mesmo que ela acertou na escolha. Há dois anos, não tenho dúvidas que a chamaria de louca. Mas as coisas mudam, mudaram. Enfim. E a Renata também tem 25 anos.

Outro dia minha namorada me perguntou o que eu faria se ela ficasse grávida. E eu só consegui responder que não era mais uma criança medrosa em assunir responsabilidades. Eu não sou mais criança, né? E tem mais a ver com uma satisfação pela novidade do que com um aborto.

terça-feira, abril 06, 2004

Acordou com um reflexo do sol no espelho que riscava o meio do seu rosto, e mal conseguiu abrir os olhos para ver que horas seriam. O que ele sabia é que ela não estaria mais ali, porque nunca se deixaria pertencer a alguém, muito menos a um homem que escrevia tão mal feito ele. De fato não estava, mas ainda restava um cigarro apagado dentro do copo plástico na mesa de cabeceira e os óculos de sol que ela insistia em sempre esquecer ao sair enquanto ele era apenas um corpo que dormia e, o que ela ignorava, jamais sonhava.

O despertador então soou sua sirene, sempre atrasada. Dois anos de carteira de trabalho assinada foram suficientes para habituar seu corpo a despertar antes das sete da manhã para não pegar o trânsito a caminho do trabalho, mas também para evitar o estridente do despertador que lhe parecia desumano. Eu não vivo, eu funciono, que merda, ele resmungou e desligou o relógio antes que sua vizinha batesse na parede, morava num desses condomínios lotados de quarto-e-salas e paredes finas.

Desde que a conhecera, sempre lembrava dela aparecendo para o primeiro encontro. Foi ali que se deu conta do estrago que uma mulher, mesmo menina, mesmo pequena, mesmo com um nome tão simples pode causar num homem. Você escreve muito mal, sabia? Foram as primeiras palavras que ouviu dela. Mas pelo menos você sabe escrever mal, o que faz com que você seja bom nesse ofício de escrever mal. Então ela riu com os olhos se fechando, e ele pediu perdão a qualquer deus que o redimisse em carne por duvidar e se crer agnóstico.

Certamente precisaria gastar muitos banhos frios matinais para entender como aquela mulher o havia seduzido. Ele cultivava havia alguns anos um hábito de escrever poesia e derivados, mesmo que trabalhasse com informática. Tantas palavras rimadas o puseram em contato com o universo editorial e então surgiu Eva, nome fictício, olhos levemente orientais e suingue levemente brasileiro, que trabalhava numa editora e havia se interessado pelas palavras de José Mateus, aliás, quase me esqueço de apresentar, que falta de educacão. Ela ligou numa tarde no trabalho de José Mateus, se identificou como Eva, que trabalhava numa editora e havia lido os trabalhos dele, que gostaria de encontrá-lo mais tarde para uma conversa e disse que seria bom ele dar uma olhada na página da internet que ela ia ditando o endereço antes de encontrá-la.

Foi o que ele fez, visitou a tal página da internet. Nela, Eva aparecia em diversas fotos, fosse atrás da câmera, fosse disfarçada na frente dela. Na tal página, um fotolog, Eva deixava claro que adotava ali um personagem e que Eva era nome fictício, bem como todas as Evas em que se deixava fotografar, sendo portanto, cada pixel e cada bit consumido ali, mera ficção. O próprio cabeçalho da página dizia em letras garrafais e coloridas “Esta não sou eu”. José Mateus não ficou particularmente comovido com nenhuma foto, não deixou comentário algum na página, nem achou irônico a mentira que sustentava a ficção de Eva, pois que ela se fantasiava de várias partes dela através das personagens e depois negava; mesma coisa faz o sujeito que toma um porre, solta a franga e no dia seguinte nega, dizendo que aquele não era seu verdadeiro eu e blablablá. Achou melhor se adiantar um pouco para o encontro com Eva, mesmo já desconfiando que tudo não passaria de outra mentira.

Por favor, me chame de Eva. Foi a terceira coisa que ela lhe disse e perguntou se ele fumava. Você não se chama Eva, ele retrucou. Então como eu me chamo, ela perguntou, o fogo do isqueiro tremulando entre eles. Ele não respondeu e ela confirmou, já com a fumaça nos pulmões, Eva. A tensão foi aliviada pelo excelente timing do garçom, e para tanto servem os que trabalham em restaurantes caros, para salvar casamentos e contratos com uma boa carta de vinhos acompanhada de sugestões de pratos para o momento e o clima da mesa. Aceitaram o vinho branco e uma salada de nome impronunciável, mas que aparecia bonita na foto. Você sabe, eu me chamo José Mateus, mais José do que Mateus. Eu sei, querido, ela tornou a sorrir, aquele garçom ganharia uma boa gorjeta.

Entre o vinho e a salada, Eva lhe jurou que jamais revelaria seu nome verdadeiro e pegou em sua mão, meu nome e minhas manhãs jamais pertencerão a você. E disse que estava ali porque a sua editora gostaria que ele fosse ao escritório para negociar um possível contrato de publicação. É um modo singular de fazer negócios, me pedir para acreditar numa ficção. Também é um modo singular de fazer amor, foi a resposta que ele ouviu. Nunca ficou sabendo como Eva se chamava e sempre acordava sozinho.

O editor que havia se interessado em publicá-lo disse que a falsa identidade de Eva livrava a ele e a ela dos inoportunos, muita gente não admite não ser publicada, entende, faz parte do jogo. Ela nunca usa o nome verdadeiro e só deixa um contato para os escritores quando há uma prévia confiança. Ademais, quando ela encaminha vocês para mim, vocês deixam de tratar com ela para negociarmos às claras. José Mateus saiu do banho e viu sua Eva, de pijamas, sentada na cama tomando o café que ela havia preparado para ambos. Ela lhe entregou sua identidade e então ele leu, Ana, para todo o sempre que coubesse numa manhã, Ana. E não foram trabalhar naquele dia.

domingo, abril 04, 2004

*Este é um post pessoal pra caralho*

Eu poderia escrever horrores aqui. Mas não vou não, vou só citar um bêbado mais habilidoso que eu, o Chico. E depois vou ver se expulsam a anta da Cida do BBB pra ir dormir mais ou menos em paz. O que dia que vocês beberem 70 reais e declararem um amor num fim-de-semana, para começar a segunda desempregados e sozinhos (e, ó! Desgraça! 70 contos mais pobres) vocês irão saber como é.

"Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos"

sábado, abril 03, 2004

Uma boa nova, pra vocês que como eu e o André (ele menos, mas deixa) acreditam em palavras escritas. Apareceu a Bestiário, visitem, é uma revista dedicada à literatura, contos em especial. Créditos para Dri, leitora fiel deste espaço gordo e bêbado. Mais bêbado do que gordo, claro.