Tristeza, retorno e um sorriso no fim
O bom de não se conseguir dormir quando se está triste é que surgem boas idéias na mente. O ruim, é óbvio. Eu queria, e queria mesmo, ter a capacidade de encostar a cabeça e dormir a qualquer hora, com a facilidade dos anjos. Depois de uma crise pessoal, bastaria fechar os olhos que o mundo real daria lugar a uma viagem fantástica a universos oníricos, onde eu poderia até voar. Quanto aterrissasse ou acordasse, os percalços estariam uma noite ou um pouso atrás.
Oká, como proposto na primeira linha deste texto, não quero perder tempo escrevendo sobre as desgraças da soma da tristeza com a insônia, mas, sim, sobre suas vantagens. Eu sou jornalista, como alguns devem saber. Existe uma coisa, no jornalismo, chamada lide, que nada mais é que a introdução de uma matéria. "Fulano foi morto em casa, ontem à tarde, por ciclano, amante de seu avô, com duas balas na cabeça" é um exemplo de lide. A idéia é justamente resumir o que o leitor verá na matéria.
Os lides, porém, podem ser mais interessantes do que um simples resumo e é aí onde mora o desafio: como dar alguma bossa ao lide e apresentar todas as informações básicas que ele deve ter? Vale lembrar que o limiar entre a bossa e a boçalidade é muito estreito. Resumido o assunto, vamos em frente, porque o jornalismo já me toma tempo demais no dia-a-dia para eu gastar muitas linhas com ele aqui.
Lembrei dos lides apenas para dar um exemplo. Outro dia, uma dessas noites insones de tristeza fez o favor de me dar um ótimo lide para uma matéria que minha mente estava remoendo há dias e cujo prazo de entrega terminava na manhã seguinte. No meu caso, não ter um lide é ainda mais grave porque não consigo escrever o resto da matéria. Sem uma introdução definida - e, em conseqüência, sem uma feição escolhida - não consigo adiantar a história, fazer conexões, contar causos. Eu até termino um texto com rapidez, mas necessito de um bom primeiro parágrafo para botar o trem para caminhar.
E foi nesse mesmo dia que a idéia para este texto surgiu. Já perdi as contas de quanto tempo fazia que eu não escrevia nada aqui, no Inventando Dogmas. E não é porque não houve tristeza ou alegria - as inspirações - e noites ou dias - os momentos para a escrita. Aconteceram, garanto. Mas acho que fazia tempo que a noite e a tristeza não se encontravam com tanta intensidade como na semana passada. Fazia tempo que escrever não parecia ser a única solução para meus problemas.
Pronto, portanto, existe uma vantagem em se ficar triste. Principalmente quando à noite, principalmente quando insone. Achei meu lide, escrevi um post razoavelmente decente para o blog e me lembrei que existe uma agradável atividade para passar o tempo enquanto não pego no sono. Mas tem uma coisa a mais que talvez não tenha dado para perceber apenas com o que escrevi até aqui. Vale explicar que tristeza, insônia, bom lide e post, nessa ordem, me agraciaram com um bônus.
Depois de fazer tudo isso - e, provavelmente, por causa dessas coisas -, eu chego ao fim sorrindo. É um sorriso com os olhos marejados, lógico, mas é um sorriso. E, tenho que confessar, ficar triste me serviu para um monte de coisa, mas sorrir... sorrir é bom para caralho.