quinta-feira, janeiro 05, 2006

Mentiras

Eu nunca tive lá muito jeito para a sinceridade, sabe? Sempre inventei coisas e maquiei a verdade. Questionado, repetia "a verdade é uma mentira muito bem contada", dando o crédito à Emília, a bonequinha de pano. Uns amigos próximos, há dois ou três aniversários, até me presentearam com uma miniatura do Pinóquio, que guardo carinhosamente ao lado da minha cama.

Mas é dogma que eu sempre me arrependia depois, mesmo achando graça em determinados momentos. Há aquelas mentiras bobas, que não causam grandes danos e que, a princípio, não magoam outrem. O problema é a recorrência. E é nesses casos, os da recorrência, que elas perdem o status de bobas e se tornam nocivas. Pode-se mentir uma vez, ninguém perceber e bola para frente. Mas na primeira vez que se é pego na mentira, a confiança vai para o espaço e é foda retomá-la. Aprendi isso na prática, tanto de um lado, quanto de outro, portanto sei do que estou falando.

Não se enganem pensando que vou escrever agora que pretendo viver um 2006 livre das mentiras. Elas estão soltas no ar e, pintando a oportunidade, vou acabar catando uma coisa ou outra e mandando brasa. Mentir faz parte da minha vida há bastante tempo e uma ou outra já contada são difíceis demais para corrigir ou voltar atrás.

Só que eu realmente pretendo mentir menos. Nem que seja para quem realmente importa. Eu posso até mentir no trabalho, mas não posso mentir para minha namorada, por exemplo (não que eu minta para ela, mas sempre é importante deixar isso claro). Algumas mentiras causam determinados estragos impossíveis de serem consertados a curto prazo. E eu não quero mais um desses para minha vida. Nem de um lado, nem de outro.

Toda essa baboseira é para dizer que ontem à noite revi "A última tentação de Cristo". E a analogia do filme mostra como qualquer um pode ser afetado pela mentira. Até mesmo aqueles de quem se espera mais, como o sujeito do título. E esse é o mal da mentira. Espera-se muito de alguém e se decepciona quando descobre-se que este alguém mentiu. É assim na vida, foi assim no filme. E nem sempre, ao contrário do arrependimento de Cristo, é possível voltar atrás e reparar o erro.