Delírios pornográficos II
Recentemente aprendi a técnica do shibari. Foi uma amiga, daquelas que costuma ocupar um espaço além do lado a lado no sofá, que me ensinou. Ela havia viajado para o Japão a trabalho, conheceu um velho japa tarado e, pronto, aprendeu o tal shibari. O telefonema, com o relato e o convite, é digno de nota:
- André, amigo, sentiu minha falta? A gente precisa se ver. Com urgência. Um japonês, Kenjiro, de uns 60 anos, me ensinou mais sobre sexo do que você jamais poderia imaginar para um conto. Até agora não consigo me controlar.
Minha amiga é um pouco afetada e, não por menos, desconfiei da potencialidade do tal ensinamento. Até porque meus contos são inventivos demais e minha imaginação é incontrolável, tanto para o bem, quanto para o mal. Fui conferir incrédulo, pensando mais no sexo habitual que compartilhávamos há anos do que na dita cuja novidade.
Admito que o shibari me conquistou. Ela me mostrou livros, cordas, posições. Inicialmente pensei em se tratar de mais um bondage requintado. Que nada. As posições do shibari são o melhor que se pode conseguir em níveis de excitação entre um homem e uma mulher. Para alguém como eu que nunca deu muita bola para o sexo psicológico, garanto que o shibari vai muito além da observação e da submissão.
A técnica se originou no Japão feudal. Cada clã dominava uma forma de shibari que era passada apenas para descendentes. Era utilizado por samurais para imobilizar e punir prisioneiros até que, nos anos 60, passou por uma valorização erótica, com apresentações em teatros fechados para demonstrações.
As combinações de cordas e nós rende posições extremamente estéticas que valem muito mais do que qualquer brincadeira com algemas e correntes. A dorei (nome dado à mulher submetida ao shibari) fica exposta de uma forma surpreendente, mesmo quando pouco se mostra de seu corpo. O que mais impressiona é a imobilização de membros e a expressão de terror sexual que isso provoca às doreis.
As possibilidades do shibari, aliás, também são impressionantes. Eu e minha amiga, poucas semanas depois da descoberta, ainda estamos tentando reproduzir uma que consegue amarrar perna esquerda com braço direito deixando a bunda exposta. Não é fácil, acreditem.