quinta-feira, novembro 24, 2005

Eu tive um porteiro chamado Zé. Era um bom porteiro, atencioso, simpático. Eu brincava com ele dizendo que um dia ele não abriria a porta depois que eu tocasse o interfone. Ele era competente, acreditem. Mas eu temia, e como temia, que ele, o Zé, simplesmente não se lembrasse do meu rosto e ignorasse minha presença no portão. Você não pertence mais a este prédio, diria o Zé.

O temor virava paranóia naqueles dias que o Zé estava rabugento e pouco me dava atenção. Sabe aquela coisa de porteiro, de às vezes fazer tudo diferente do que você espera? O carro fica sujo, o lixo não sai do lado da porta e o jornal não chega na hora. Tudo culpa do pobre Zé.

Mas eu gostava dele, gostava muito do jeito que o Zé trabalhava. Lógico que eu era uma criança para dar muita atenção a um porteiro. Mas sinto saudades de Zé, sinto saudades da forma como ele abria a porta para mim quando eu chegava no prédio.