domingo, novembro 13, 2005

VII

Nas grandes lovistórias de amor sempre deve haver um porém, um calcanhar, um espinho. Essa era Paola. Paola era garota de programa, para os mais íntimos, puta. Tinha os olhos cansados e voz de diaba. Paola era boa naquilo que fazia para ganhar seu pão, a diaba era muito boa. Ela sabia olhar, sabia morder e o seu grande atrativo: dominava como poucas o ato da felação. Paola sabia como me fazer cair em tentação, sabia até quando me ligar.

Paola foi a minha primeira puta. E única. Eu não tinha o menor jeito, não achava as palavras, tinha vergonha da minha própria ereção diante de alguém tão menina, tão desconhecida, tão cansada. Paola sorriu, me beijou como se fosse hábito, suas mãos foram ágeis em minha impaciência. Fodi aquela mulher como se fosse minha, ela sorria, pedia mais, me deu o cu, engoliu meu gozo. Ela se vestiu me olhando arrebentado na cama, havia meses que o sexo não era tão bom daquele jeito, Luana ainda não havia aparecido na minha história.

Virei cliente. De vez em quando era ela quem me ligava, dizia que seria por conta dela, eu só precisava pagar o táxi. E aparecia com o mesmo sorriso no rosto, a unha na carne, a navalha no sexo. Luana apareceu entre esses telefonemas, o que, voltando ao primeiro capítulo desta saga, concluímos que foi com Paola que envenenei minha confiança com Luana. Na corda bamba, eu me equilibrava entre as duas, com vantagem a favor de Luana, que eu amava, ou julgava amar, ou queria amar - pelo menos com menos culpa do que amar Paola, que não me exigia amor, me exigia apenas suor e um trocado para comprar alegrias e tristezas baratas.

Era injusto com ambas, que gostavam de mim, que gostavam de me ouvir, mesmo os resmungos, mesmo os silêncios. Eu nem arriscava dizer qualquer coisa que levasse uma a desconfiar da existência da outra, vai que elas eram vizinhas ou arquiinimigas? Mulheres. O pior inimigo do homem é uma mulher enganada. Luana já havia flagrado provas de meu caso com Paola e fazia questão de me lembrar delas sempre que eu escorregava da linha, por meio de sutilezas e entonações. Paola fingia, mas não muito bem, que acreditava nas desculpas pelancudas que eu lhe dava para justificar os hiatos entre uma visita e outra - eu era um homem de muito trabalho a fazer, muitas viagens, muita solidão.

Ela me ligou no meio do meu expediente. Do jeito que falava ao meu celular, eu podia sentir sua língua envenenar meu ouvido enquanto um sorriso burocrata ostentava meus dentes amarelo-marlboro. Descrevia em palavras a minha língua contornando o seu sexo, transpirava, como ela gostaria de me morder o falo, chupar as bolas. Meus colegas de trabalho estavam ali na sala, meu chefe passou e deu bom-dia. Disse que não queria gozar ali ao telefone porque comigo seria muito melhor. E disse que estava num quarto de uma pensão a meia quadra de meu endereço do trabalho, nua, molhada. Desligou. Dei cinco minutos, cinco looooooongos minutos, disse que precisava resolver algo na rua, ninguém deu atenção, meu chefe pediu até para eu trazer um lanche na volta, um salgado, um biscoito, qualquer coisa. Estava um dia devagar na redação, a diaba sabia até a hora de ligar.

Desliguei o telefone. Mergulhei na calçada, Pensão Avelar, quarto 312. A porta apenas encostada, um cheiro de coisas velhas, passei a chave e os trincos. Um ventilador no teto, janelas encostadas, Paola sorria. Paola sorria.

A carne é fraca, meu bem, a carne é fraca.