A pornografia deixada de lado pela ternura
Há uns cinco anos eu comecei um romance com a descrição de um estupro. Acho que até já postei o comecinho dele aqui, há muito tempo. Na época, achava aquele texto erótico demais. Achava que havia conseguido colocar no papel uma carga de sensualidade impressionante, sem ser pornográfico.
Desisti deste romance, três ou quatro capítulos depois, por acreditar que eu não tinha maturidade, na época, para terminá-lo. Na verdade, e já assumi isso para mim mesmo, eu não sabia como seguir adiante depois dos tais três ou quatro capítulos. Me coloquei numa sinuca entre um homem amargurado e uma mulher em busca de liberdade, mas ainda indecisa em relação a seus sentimentos. E eram personagens de 40 e tantos anos, com psiques bastante distantes da minha realidade.
Minha idéia original para este romance era arrumar alguém, uma mulher preferencialmente, que contasse a história pelo ponto de vista feminino. Da mesma forma que o ex-marido começava relatando, orgulhoso e catártico, que havia estuprado a ex-mulher, eu achava importante que a ex-mulher desse sua versão, provavelmente raivosa e doída, para a história.
A necessida de escrever a quatro mãos era clara: se eu achava que teria problemas em relatar em primeira pessoa os sentimentos de um homem de 40 anos, no caso da mulher, então, a experiência poderia ser desastrosa.
Mas desisti de escrever o romance em conjunto quase ao mesmo tempo que desisti do romance. Assim como eu tinha dificuldades em achar uma fórmula viável, minhas amigas, pensava, também teriam. Ficou para depois.
Lembrei disso tudo porque sentei na cadeira esta noite, comecei a escrever um conto puramente pornográfico e descobri que não tenho essa capacidade. E quando falo de pronografia, é pornografia mesmo, nada de sensualidade, nada de sugestões eróticas. Como diria um velho amigo: pornografia é pau na buceta, o resto é um jogo de tabuleiro da Grow.
Meu problema é que palavras como pau e buceta não saem de minhas mãos naturalmente. Eu teria que fazer um certo esforço para escrever qualquer texto com a expressão "então meti o pau a fundo em sua buceta" que ficaria claro para qualquer leitor que aquele conto é apenas uma tentativa, nada demais. E eu estou muito velho para perder meu tempo com tentativas, sabem?
Enfim, eis o esboço do que seriam os quatro primeiros parágrafos:
"Eu tinha um Mustang vermelho, conversível sempre que eu quisesse tirar onda e que não estivesse chovendo. Passei na porta do colégio, um colégio de classe média metido a conservador, com um santo no nome. Sabrina entrou no carro sorridente como sempre, piscou e disse um "oi" adocicado que, se não deixou meu pau duro naquele instante, fez com que meu pêlos se arrepiassem. Respondi em tom cafajeste, meio imitando o Pereio num daqueles filmes da madrugada. "Oi, gata, você está linda hoje"."
"Iria levá-la para jantar antes de qualquer outra coisa, mas sua saia estava curta demais. Eu via suas pernas depiladinhas, esticadas no banco do carro. Via parte de suas coxas encostarem uma nas outras e não parava de imaginar o que estaria me esperando naquele meio. O tesão definitivamente falou mais alto que a razão quando percebi que ela não usava sutiã por baixo da blusa preta com o logotipo de Cats e do casaco jeans desabotoado."
"Acho que ela percebeu meu desconforto e minha ereção. Safada, mexeu no cabelo comprido e loiro e perguntou com uma pausa proposital entre o advérbio e o pronome: "Então, onde você vai me levar?" As mulheres gostam de serem dominadas, subjugadas, usadas. Sabrina me confessou mais tarde que, ao se masturbar, fantasiava com uma orgia em que ela fosse a única mulher. Seriam quatro paus e apenas sua buceta para ingerir toda a porra que pudesse ser gerada. Ela sonhava com sexo anal, vaginal e oral ao mesmo tempo, enquanto sua mão segurasse outro pau, o maior de todos".
""Você confia em mim?"; "Já estou no seu carro, tenho opção?"; "Eu posso parar para você saltar, mas duvido que você queira isso."; "Definitivamente não quero, mas também não precisa ser tão convencido"; "Oká, mas vamos ver se você realmente confia em mim". Coloquei minha mão direita na sua coxa esquerda e apertei com ternura. Ela não me impediu. Comecei a subir e antes mesmo de tocar em sua calcinha, a respiração de Sabrina ficou mais ofegante e audível. Como eu imaginava, a calcinha já estava caramelizada. Os dedos indicador e médio penetraram rapidamente pela dobra entre sua coxa e a calcinha de uma vez e senti seus pêlos úmidos e vastos. "Tira isso, vai." Ela obedeceu e ficou sem calcinha ali mesmo, no meu Mustang com o capô aberto. Fiquei passando meus dedos em volta de seu clitóris por alguns segundos e ela gemia baixinho. Era como se sua boca gemesse bem perto de meu ouvido. Enfiei então um dedo na sua buceta, segurei toda a vulva com a palma de minha mão e, depois, lambi meus dedos. "Agora, acho que eu já sei para onde vou te levar"".
Só consegui ir até aí. Quando reli esses parágrafos e vi que havia escrito ternura num texto supostamente pornográfico, descobri que eu não sei escrever pornografia. Mas, como diria outro amigo, keep walking. Qualquer dia, tento de novo.