terça-feira, novembro 29, 2005

Morremos todos e fomos para o céu.

Vinte e uma horas mais dez minutos do dia vinte e oito de novembro se passaram até que que o grupo musical norte-americano Pearl Jam iniciasse Long Road. Quando a derradeira nota de Yellow Ledbetter ecoou da guitarra de Mike McCready através do ginásio do Gigantinho, ainda restavam mais quinze minutos desse dia vinte e oito de novembro. O Pearl Jam, aqueles caras que um dia nos fizeram vestir camisas de flanela num país tropical, havia, enfim, tocado em solo brasileiro. Vedder cantava em Long Road, "I have wished for so long/How I wish for you today". Morremos todos e fomos para o céu.

Entre Long Road e Yellow Ledbetter, Vedder arriscou ler eternos agradecimentos e desculpas pela demora em aparecer no país numa espécie de português de Seattle. Marky Ramone, que se encontrava em turnê pela capital gaúcha, assumiu as baquetas em I Believe In Miracles. O público cantou Parabéns Pra Você em português para o aniversariante Matt Cameron, o batera titular. Após o parabéns, com direito a bolo no palco, veio Baba O'Riley, e já deveria ser a terceira ou quarta vez que eles haviam retornado para o bis. Nós sorrimos, nós choramos, perdemos pertences, nós gritamos e pulamos e cantamos a plenos pulmões.

Não dá para imaginar ou descrever o quanto de carinho e devoção esses senhores do Pearl Jam irão presenciar Curitiba, São Paulo e Rio. Não dá para se prever o quanto de música em stado absoluto curitibanos, paulistas e cariocas irão presenciar até o dia 4 de dezembro. Não se trata de um espetáculo musical que dura algum par de horas e silencia. Estamos diante de um ato de amor, de um pacto de fidelidade. O Pearl Jam, ao sempre buscar canções que traduziam o mundo em seus licks e levadas, não cativou apenas as nossas caixas e som. Nunca nos sentimos traídos, porque sempre se tratou da música em primeiro lugar. Logo, eles transcendem as próprias músicas, o significado de suas canções. Éramos todos irmãos ali.

Assim, a primeira apresentação duma banda que pediu desculpas (vamos repetir) ao público por demorar tanto para se apresentar diante dele não contar com seu maior sucesso suceso radiofônico (Black) nem com seu hit mais recente (I Am Mine) continuará eterna e perfeita por todo o resto de nossas vidas. Eu queria ouvir Nothing As it Seems, Red Mosquito, Dissident, Parting Ways, Of The Girl, Faithfull, Low Light, Wishlist, Light Years e mais uma penca de músicas. Coisa pra mais 2 dias de shows. Mas vocês não poderiam ser mais felizes que eu em Betterman, I Got Id, Jeremy, Dead Man, Long Road, Animal, Go, Porch, Alive, Even Flow, Given To Fly, Corduroy. Não, vocês não poderiam.

É claro, pode ser apenas o dólar "barato" e o momento exato para shows no Brasil. Pode ser que eles retornem sempre aqui de agora em diante. Pode ser, e eu acredito nisso, que os shows restantes sejam cada vez melhores até uma verdadeira orgia transcedental coletiva no Rio. Mais da metade do público presente no Gigantinho na segunda-feira assistiria, se pudesse, a cada apresentação do Pearl Jam no mundo. Mas não nos é possível. Ademais, morremos todos e estamos no céu. Eu, desde Elderly Woman Behind The Counter In a Small Town. I just want to scream hello, my God, it's been so long, never dreamed you'd return, and now here you are and here I am, hearts and thoughts they fade away. It's been so long, guys.

Voltem sempre e mandem lembranças. Rosas em nossos túmulos, que sejam.