Je suis un revolutionaire, baby
Se pareço empolgado com os acontecimentos mais recentes vindo da França, é porque a História nos ensinou que lá as coisas são mais sérias. Pode ser apenas um estopim, mas pode não ser. Em 1968, estudantes se juntaram aos trabalhadores nas ruas parisienses e pediram mudanças. "Vivam as crianças e os malandros", diziam alguns dos geniais gritos e rabiscos de protestos. Naqueles anos, a mudança de ares no mundo estava tangível. Desmanchou tudo no ar. Os estudantes voltaram às aulas, trabalhadores ganharam um abono qualquer e os anos 60 terminaram.
Vivemos hoje num mundo conseqüente de 1789 e 1968. A impressão é que estamos atingindo alguma espécie de limite, de clímax, de gota d'água. A minha impressão, não sei se é a do Andy ou a sua. O abismo entre ricos e pobres, o fosso natural do capitalismo e da luta de classes, segue aumentando. Nunca tantos tiveram tão pouco. E vice-versa. Bukowski escrevia lá pelos idos de 68 que o homem comum simplesmente não aceitava mais tanta merda. Pelo menos os imigrantes argelinos das periferias francesas já não querem mais suportar subempregos e racismos.
A França tem o perigo da política reacionária viva desde as eleições presidenciais de 2002, quando Jean-Marie Le Pen chegou ao segundo turno. Meninas islâmicas estão proibidas de freqüentar aulas com o véu sobre suas faces, a despeito do crucifixo da Santa Madre Igreja poder ornamentar os (inarravelmente belos) decotes das fracesinhas. Se a gente somar reacionarismo com desigualdades sociais, implicâncias religiosas e o Zinedine Zidane, dá pra ver que a coisa pode desandar na França - e contaminar a Europa.
Os observadores não falam ainda em guerra civil ou levante popular. Mas as notícias já trazem policiais baleados, carros e ônibus depredados e um morto. É bom prestar atenção não apenas nas manchetes, mas nos miolos das notícias. Esses franceses não costumam brincar em serviço com coquetéis molotov nas mãos.
Andy, não bobeie, a Eva Green, rápido! Dizem que essas européias se amarram numa conjunção interracial.