sexta-feira, novembro 04, 2005

Charuto e bagaceira

Leandro, neste momento eu queria estar em Belém, só para compartilhar contigo alguns sentimentos. Cheguei em casa sozinho e bebi duas doses de uma bagaceira que meu pai ganhou de um amigo. Acendi um cohiba e fumo agora, enquanto ouço Alceu Valença. Aliás, ouvi Alceu Valença o dia inteiro e até escrevi uma coisa inspirada em uma de suas músicas, mas não vou publicar isso aqui.

A melhor sensação do mundo, Leandro, é a solidão. Eu sempre soube disso. Mas, ao mesmo tempo, o pior sentimento também é a solidão. Sentimentos e sensações são coisas distintas, às vezes até complementares, mas nunca semelhantes.

Escrevo esse post entorpecido. Por álcool e um cohiba. Estava na Matriz, dançando e bebendo cerpinhas. Quantas vezes já terminamos nossas noites lá dançando e bebendo cerpinhas, God? Isso é muito foda, né?

O charuto que fumo foi comprado no mercado negro cubano. Os charutos lá são bastante caros. Como opção há sempre um ou outro cubano que diz trabalhar numa fábrica e roubar alguns legítimos habanos para revender no mercado negro. Conheci alguns desses na rua, confiei em um e me meti numa espécie de cortiço de Aluizio Azevedo para arriscar a compra. Se fosse pego, o máximo que poderia acontecer comigo seria um paredón em algum canto de Havana. Mas, tudo bem, morrer assim seria onda demais. Não se esqueça de apagar meu perfil no orkut, por favor.

No cortiço, entrei por corredores escuros seguindo o cubano. Definitivamente, se ele quisesse me matar, roubar minha grana, ou comer meu lombo, poderia fazer sem qualquer problema. Poderia até escolher a ordem ou combinação que mais fosse conveniente.

Mas o cubano foi bacana e me vendeu duas caixas de charuto por U$ 60 cada, um terço do preço oficial. Seria uma barganha das melhores se não houvesse o risco de os charutos serem falsos, feitos com folhas de bananeira. Prefiro acreditar que fumo, agora, um legítimo.

Nada melhor para um homem terminar a noite do que a companhia de um charuto cubano e uma bagaceira portuguesa. Faltaria apenas uma mulher que o amasse, mas isso talvez seja querer demais. Tenho apenas mais quatro dias de férias, Leandro. Quatro dias para resolver muitos problemas.

Termino esses devaneios com um verso de Goethe:

"De tanto ouvir, o ouvido vira crença
O coração é um mistério sem fim.
De um modo ou de outro, não há desavença
(Pecamos sempre) entre você e mim.
Piscamos o olho - Que o bem vença!
(Mas não precisa ser tão sério assim)
Se à nossa frente pintar o Diabo
sempre uma força vai torcer-lhe o rabo."