Monica, a mulher das bolas de gude
Conheci certa vez uma mulher que saía com bolas de gude nos seios para aparentar que seus bicos eram duros. Desnudos, sem as bolas, eram achatados, os seios. Mas não eram menos bonitos por isso. Só que a aparência vistosa que as bolas de gude lhes emprestavam chamava mais a atenção dos homens, dizia ela. Lembro da primeira vez que vi as bolas caindo de sua blusa. Justificou, envergonhada, que era uma mania desde a época de adolescente. Justificou olhando para mim, com os olhos e com o seios achatados. Belos, mas achatados.
Seu nome era Monica, a moça das bolas de gude, e foi ela que me ensinou a ter prazer em escrever. Ela dizia me aturar apenas pelas coisas que escrevia. Você, André Miranda, é muito mais encantador pelas palavras escritas do que pessoalmente. Eu sei, eu sei, Monica, mas não precisa esculachar. Um elogio não pode vir desacompanhado de uma crítica?
Mesmo com as alfinetadas de Monica, seu prazer em ler meus textos me animava a continuar. Apesar de tudo, nunca escrevi sobre as bolinhas de gude por achar que deveria evitar tocar em assunto tão íntimo e que pouco me dizia respeito. Escrevo sobre isso agora, tantos anos depois, somente por não ter mais contato algum com ela. E lamento a distância.
Monica sumiu da minha vida com suas bolinhas numa tarde de sábado. Havíamos saído na noite de sexta para um show de samba na Lapa. Era nossa terra, a Lapa. Jogávamos sinuca, bebíamos chope, cantávamos travestis e ouvíamos samba. Aquilo, sim, era vida, sabem? Alguns poderiam achar monótono, mas nossas sextas na Lapa, pós estresse de trabalho, eram fabulosas e apaixonantes.
O problema foi que eu e Monica discutimos por ciúmes - meus - naquela nossa última noite juntos. Faço uma pausa para uma explicação: não sou ciumento, mas gosto de me sentir especial. Portanto, qualquer comparação ou referência a casos passados, qualquer uma, de qualquer espécie, me fazem mal. Monica sabia disso, achava bobo e não se furtava a me provocar eventualmente. Ela dizia que não era proposital. Eu nunca acreditei.
Ouvir, então, da mulher das bolinhas de gude, que ela começou a gostar de sinuca com o segundo dos seus 25 ex-namorados, ouvir isso, entendam, não foi muito bom. A sinuca era uma coisa nossa, só nossa. Pelo menos era isso o que eu tentava acreditar. André, o tolo.
Fechei a cara, me confessei triste e ela fez graça. Riu, achou bobo, deu pouca importância. O homem das cavernas machista, então, se liberou e passei a perguntar tudo, simplesmente tudo. Quando você passou a gostar de beijos na nuca? Quem fazia melhor? E massagem no pé? E arranhões nas costas? E comer leite condensado direto da boca do parceiro? E dar o cu? Alguém te enrabava melhor do que eu?
Tomei um tapa na cara, Monica foi embora e na tarde seguinte me ligou para terminar nossa relação que mal havia começado. Tentei argumentar, pedi desculpas, mas não foi suficiente. Meu pecado havia sido grave demais, eu sei. Mas não consegui naquela noite suportar e segurar a tristeza.
Sinto saudade dela, de Monica. As bolinhas não me incomodavam. O único porém é que eu tinha um pouco de medo de engolir alguma delas numa noite bêbada e, digamos, mais selvagem. Isso poderia acontecer, achava, se eu esquecesse de acender a luz, retirasse seu sutiã e abocanhasse seu seio direito de uma só vez. Se a ação fosse muito rápida, mais rápida do que o tempo necessário para a bolinha rolar por sua bela barriga abaixo, eu poderia engolir uma bolinha.
Eu acho que essa história - e vale lembrar que ela é baseada em fatos reais - seria muito mais interessante se eu tivesse engasgado como uma das bolinhas de gude dos seios de Monica. Seria como engasgar com seu seio. Eu acharia, assim, que ela foi mais minha. Acharia, enfim, que eu havia sido especial e provavelmente teria escrito sobre ela antes.