domingo, setembro 18, 2005

Os crisântemos que não eram verdes

Certa vez eu amei uma mulher que me disse que não gostava de receber flores com a justificativa de que ela, a mulher, não sabia cuidar de nada vivo. Ela me disse isso logo depois de eu lhe entregar um vaso com crisântemos. Tive vontade de perguntar o que ela fazia comigo, então, já que não seria capaz de cuidar de mim. Eu me contive, porém, apesar de ela não ter se contido no momento daquela revelação.

Prometi a mim mesmo, naquele dia, que não presentearia uma mulher com flores novamente. Radical decisão tem a ver com o esquecimento da cor dos crisântemos. Eu nunca esqueço uma cor, principalmente uma que tenha algum significado. Escolhe-se espécies de flores ao acaso, mas nunca sua cor. Ter esquecido qual a cor das flores foi sintomático, acreditem.

Ao recusar os crisântemos, aquela mulher causou em mim mal e bem irreversíveis. Explico. Me desiludi, de certa forma, com minha capacidade de conquistá-la, mas, ao mesmo tempo, achei válido comprar o desafio. Chegar a ela com as flores não havia sido tarefa simples e eu não poderia desistir sem que ela aceitasse o presente. Por mais sofrimento que sucessivas insistências e recusas pudessem me causar.

Vivi, então, dia após dia, um processo doloroso para provar que ela, aquela mulher, poderia cuidar de alguma coisa viva. Que fossem as flores ou que fosse eu. Foi um bom tempo brincando de "Noite dos Mascarados", a música do "quem é você?". Queria saber seu jogo, morrer no seu bloco e arder no seu fogo. Não me contentava com um verso apenas.

Outra vez, outra mulher que amei apareceu com uma blusa verde. Ela, a outra mulher, não a vestiu para mim mas, para mim, era como se tivesse. Não por causa da blusa, que poderia ser qualquer uma, mas por causa do verde. Eu poderia até esquecer qual teria sido o modelo de blusa, mas nunca esqueceria do verde.

Os crisântemos, por exemplo, não eram verdes, tenho certeza. Sei disso porque o verde sempre foi minha cor predileta.