III
Ela chegou com um brilho nos olhos. Oh, yeah, baby. Let's fall in love all over again. Luana, tão menina, era a provável mulher da minha vida, não havia nada de Belém que pudesse ser tão bom quanto a sua presença ou o seu abraço ou a sua respiração. Preparei as bebidas, ela soltava risinhos cúmplices de menina arteira, me beliscava, brincava com o controle da tevê. Lamentei não ter maconha, o momento pedia um beck, a fumaça, o doce da larica na garganta e o desejo em cada após. Lamentei não ter conhecido Belém antes, ter estado longe das ruas e noites e mãos que me levariam até aquela inevitável Luana, que derramava o rum em minha boca cuspindo da sua e sorria e me beijava o sexo.
Ela parou e me olhou nos olhos, no meio daquilo tudo, nós dois sem direção e nos agarrando náufragos. Disse que me amava e que morreria se eu não a amasse, os meus olhos assustados e míopes a testemunhar aquela confissão inesperada. Era demais para um pobre diabo que passava dias a digitar num teclado frases e mais frases que nem sempre eram lógicas, mas apenas frases que deveriam ser ditas a quem as desejasse ler. O jornalismo não era a profissão mais glamurosa da nossa época, estávamos a anos-luz dos enólogos, dos fotógrafos da Playboy e de alguns pilotos de corridas. Disse e me beijou chorando, decerto a bebida influenciou na cena, mas diziam que in vino veritas e os advogados e legisladores tão bajuladores de latinismos deveriam considerar o consumo de álcool como algo revelador da personalidade do sujeito, não algo que falseia a hipocrisia social da sobriedade. Abracei Luana como jamais poderia abraçar qualquer outra luana neste mundo e fiquei calado a sentir aquele amor que ela jurava passando como recibo a própria vida. Eu que gostava de ser hiperbólico achava demais moça tão formosa se matar por mim, mais bêbado que escritor, mais burocrata que jornalista, mais surdo que músico.
Demais, meu bem, demais.