Amor rima com dor ou Falando de mulher em mesa de bar?
"Surpreendente mesmo é chegar num bar, encarar, dizer "cara, está tudo errado entre a gente", sentar, conversar, beber, resolver e sair dali com a certeza de que tudo vai ficar bem, sem mesmo lembrar que o papo começou com a certeza de tudo estar errado."
Não fui eu que disse isso, mas isso pouco importa. O ensinamento veio de um amigo num bar, dois dias depois do tal acontecido. Ele contou, também, que o problema dele era não ter conseguido criar ainda um apelido fofo e original para ela; e que o problema dela era não ter problema para ele.
Não se apoquente, sente-se, calma que eu explico. A perfeição não presta, meu amigo sabe, mas os problemas dela ele não considera. Desses, faz graça e, até, rima. Apaixona-se por problemas e defeitos, confessa. E o apelido ainda sai num sonho, graceja.
Questiono a razão de sua penúltima afirmação. Como diabos um defeito pode ser mais interessante que uma virtude, um olhar, um sorriso? Como pode ser mais apaixonante? Defeitos deveriam afastar. Problemas, aborrecer. Questiono em vão.
Sua resposta não é convincente, mas ao alegar o amor como explicação, confesso que não tenho argumentos e desisto da discussão. Digo, porém, que ele nunca brincou de dizer as coisas boas do outro, para saber quem consegue lembrar de mais detalhes.
Digo, também, que ele não sabe identificar todas as marcas, pintas e gestos porque, gestos, pintas e marcas não estão contidos no conjunto dos defeitos, como se sabe. Não basta acender um baseado, e trepar para curtir a vida. Isso é bom, lógico, mas feito assim, sem nada além, é meio sem razão.
Surpreendente mesmo é chegar num bar, abraçar, dizer "cara, não há nada errado entre a gente", declarar, arrasar, beber, fuder e sair dali com a certeza de que tudo está bem, sem mesmo lembrar que o papo começou sem a certeza de tudo ficar errado.
Os dois surpreendentes, definitivamente, são convincentes.