segunda-feira, agosto 29, 2005

Desconstruindo o dogma

Esse blog não tem mais o mesmo número de leitores de outrora, quando recebíamos dúzias de comentários por post - a maioria, estúpidos, comentários e posts. Então está na hora de olhar para o próprio umbigo e ver onde erramos em nossa recente trajetória. O Inventando Dogmas, neste momento, fica de quatro para ser enrabado com gosto e força. Fiquem à vontade que eu sei que dá tesão.

Nossa problema talvez seja todo esse alarde de que as coisas escritas aqui são pura ficção. Vocês sabem que é mentira, né? No meu caso, pelo menos. Eu estou por aí, tanto nos meus textos, quanto nos do Leandro. Não é o andreocentrismo voltando, acreditem, mas a comprovação de que não existimos se não nos enxergarmos nas coisas. Eu não consigo me ver, mas consigo ver meu reflexo no espelho, sabem? E há espelhos por todo o lado.

Eu acho, e acho mesmo, que eu não reflito os protagonistas dessas histórias. Eu seria um herói ultra-romântico, com necessidade de sofrer por amores impossíveis. E se heróis já são chatos, esses, então, seriam insuportáveis para os leitores. Isola, vai.

Estou mesmo nos detalhes, junto com a compreensão dos textos. Porque um bom texto se define nas vírgulas, nos parágrafos, nos pontos. O entendimento está no que não foi escrito, assim como a foto está naquilo que não foi mostrado.

Porque a literatura, mais do que a arte de escolher palavras, é a capacidade de deixar palavras de fora. E é muito mais fácil inserir duas mil palavras distintas num texto do que escolher as outras milhares que vão ficar para a próxima. É nessas horas que se pode cometer uma injustiça e se perder o fio da meada.

Mas isso tudo é balela, já que é perda de tempo ficar me procurando. Da mesma forma que enxergo aqui meu reflexo, vocês, leitores, enxergam os seus. E não adianta que não há viva alma que me conheça suficientemente bem para me achar por aí. Não vale o esforço.

Esses texto e descoberta surgiram depois de eu ler um texto antigo desse blog: "André Miranda ou Jan Saudek", de 4 de agosto de 2003. Lembrei de como gosto das fotos de Saudek e fui dar uma olhada numas que tenho guardadas no meu HD. Só que eu me vi na foto abaixo. Não estou sentado, nem de quatro, muito menos de pé. Mas eu estou aí. E não percam seu tempo imaginando onde, porque a resposta pode ser cabeluda ou inocente e, em ambos os casos, vocês não vão querer compartilhar sua imaginação - por constrangimento de falta ou excesso de pudor. E eu odeio quem não compartilha pensamentos.

(continua...)