quarta-feira, julho 27, 2005

Morcego Negro - Infinito

Não é que eu te quero mal. É que não te quero mais, então deixe estar. E vi que ela baixou os olhos diante de mim, após tanto tempo e tantos desencontros. Não éramos dois estranhos porque nossos corpos se conheciam e talvez ainda se precisassem, mas não era o corpo ali, era o homem e o homem estava exausto do desejo que aquela mulher lhe inspirava.

Ela sorriu como nenhuma lágrima seria capaz.

Minhas mãos se impacientaram, queria poder tocar seu rosto, ou tirar a mecha de cabelo da frente de sua vista esquerda, ou segurar sua mão. Enfiei ambas as mãos no bolso da calça e desviei um pouco o olhar, a lembrança de Nina aparecia e eu tentava não lembrar. Jamais poderia amar e cobiçar nada como havia feito com ela, e essa seria minha vida dali por diante: uma vida passada, uma vida terminal.

Nina pediu desculpas por tudo, por ter sumido, por ter chorado longe de mim.

Eu disse que estava tudo bem. Como se aqueles últimos tempos fossem apenas um mau dia ou um sonho ruim, como se eu não tivesse deixado a cidade numa busca inconcebível por nós, como se aquele encontro numa cidade estranha fosse cotidiano. E, sem razão aparente, disse que ela parecia mais bonita após tanto tempo.

Ela me chamou de bobo, disse que eu devia deixar a barba e que eu ficava engraçado de terno, nessa ordem.

Nos olhamos feito futuros amantes. Nos calamos feito primos que se amam clandestinos. Respiramos feito noivos diante da cama na lua-de-mel. E cada um seguiu para um lado do sol, para outro dia, para outros dias. Ela não olhou para trás, eu é quem havia me transformado numa estátua de sal. Ela havia se transformado na mulher mais linda do planeta.

E sabendo que só me restava a morte dali para frente, o jeito foi seguir vivendo.