Vamos lá, Julio
Aviso: vou explicar porque ando sumido. É que às vezes tenho vontade de encher esse espaço com algumas palavras bobas, mas ultimamente me concentro exclusivamente no meu romance. Menos escrevendo do que pensando num desfecho. A história é boa, garanto. Tem amor, aventura, sexo e drama, sem exageros. Só que não consigo me decidir por um fim honesto.
E terminar bem uma história, gente, não é fácil. Talvez eu tenha medo de achar um fim, por não querer que a história acabe. A gente se apega ao que escreve, ainda mais quando vê qualidade. Terminar meu romance vai me fazer parar de pensar nele e interromper nossa relação. Terminar meu romance é acabar com um bom motivo para pensar. E não há tantos.
A sensação de medo do fim é tão óbvia que recordo que meu romance começou como um conto. Terminei o conto e achei que valia a pena continuar escrevendo. De fato mesmo, eu gostava da história, apenas, e queria continuar pensando nela. Isso faz uns dois anos.
Há uns cinco, comecei outro romance inacabado com um estupro contado em detalhes. A cena me pareceu tão impactante que não consegui imaginar semelhantes para preencher muitas páginas. Interrompi a história no segundo capítulo, prometendo continuar um dia e justificando meu ego através de uma falta de maturidade para uma história densa como aquela. Essas coisas acontecem com gente cujo ego, atrevido, consegue superar o superego. Sim, foi uma auto-crítica. André Miranda, o soberbo.
Outra dificuldade em continuar escrevendo meu romance é criar a personalidade do personagem principal sem que eu me confunda com ele. A história é narrada em primeira pessoa e às vezes Julio Sarmento acaba fazendo coisas que eu faria. Está previsto, lá pelo sétimo capítulo, um exame de consciência e uma confissão. Com igreja e padre e tudo mais. Como Michael Corleone em Poderoso Chefão III. Como sinto vontade de fazer nos dias em que enfio 23 pés na jaca. Uma vez quase aconteceu, mas desisti a tempo, ufa.
Também já peguei o Julio dizendo coisas que eu diria. Era para ele ser inseguro, mas o coitado está se tornando arrogante como eu. Ou eu estou me tornando inseguro como ele. Não tenho dúvida que minha imaginação consegue criar um personagem mais interessante do que eu. Talvez eu esteja com inveja mesmo e, daí, começo a assumir os trejeitos de Julio. Tenho soltado frases depreciativas e estilosas. André Miranda, o arrogante pecador. André Miranda, sua escória não vai vencer. Típico do Julio.
Uma coisa boa é que ele, Julio, consegue ser direto e sincero com as pessoas que gosta. Uma coisa ruim é que ele, Julio, é o típico jovem acomodado com suas conquistas irrisórias. Fica apenas vagando por aí, sem encontrar o caminho que vai levar ao fim de sua história.