Bruno. Bruno Dias. Ela sorriu, de um modo estranho, ao menos de uma forma de sorriso que eu ainda desconhecia em vinte e tantos anos vendo gente sorrir. Nina. Nina Martini. Então ela baixou o olhar para procurar algo na bolsa, mas o sorriso ficou eternizado no horizonte que anoitecia e fiquei com a voz dela se apresentando ecoando no subconsciente. Gostava que ela se chamasse Nina, e jamais saberia explicar porquê, como se Nina fizesse todo o sentido do mundo naquele instante. Sentido, apenas, e fazia.
Pensei que poderia me apaixonar por aquele nome, que sorria e me olhava como se eu valesse a pena. Edison deve ter pensado que aqueles choques que ele tomava poderiam salvar uma vida, Santos Dumont deve ter imaginado a glória do homem se libertando do chão quando seus protótipos eram apenas chacotas. Eu pensei que seria bom ela me sorrir daquele jeito mais vezes, mas eu era um idiota e ela certamente iria desconfiar da realidade mais cedo ou mais tarde.
Aconteceu que ela topou, disse sim, pediu meu telefone e marcou um encontro. De repente, o idiota valia a pena. Foi aí que me estrepei, nesse pensamento. Deveria ter reconhecido que ela era apenas impossível, que existia apenas para que eu soubesse que ela jamais seria minha, que ela pertenceria a batalhões inteiros de escoteiros mas a mim não passaria de sonho, vergonha, segredo ou mentira.
Mas ela não bocejou quando eu expliquei a inteligência que havia por trás das burradas do governo, de qualquer governo. Pior, ela riu e pediu mais uma taça de vinho. Ela me ouvia parecendo que eu era interessante, apesar de publicitário. Eu estava com uma camisa cáqui bisonha que ela foi capaz de elogiar, e ali eu quase me levantei da mesa e fugi, porque só poderia ser um golpe, uma armadilha, uma pegadinha. Mas eu era um idiota, e a beijei.
Foi a minha ruína, porque eu beijo bem à beça.