terça-feira, março 08, 2005

Homem chora

Tempos atrás, alguém que prefere não ser citado aqui me mostrou uma reportagem que falava sobre o papel do homem na atualidade, após o feminismo, diversas revoluções sexuais e outras tantas sociais. Para que, diabos, ainda serviria o homem se a mulher já pode até jogar bola - mal pacas, a gente sabe - com o reconhecimento da FIFA? Com a reportagem, vinham dois ou três depoimentos de talentos relativamente recentes na literatura brazuca que definiam o que faz dum sujeito qualquer um homem de verdade.

Pois bem, alguém queria saber a minha opinião. Eu tentei, na época, mas sem muito afinco, rabiscar alguma coisa e publicar aqui, mas confesso que achava a coisa meio besta. Ora, o que faz do homem um homem reside nele e se o cara não consegue achar a sua própria identidade social, às favas com ele. O bonde da história segue e ele ficará a farra de longe, sem colhões para abrir alas e adentrar no muxixo, certo? Ponto final.

Errado. Sentia que era capaz de responder à pergunta com um argumento mais completo, que era um tema legal a ser desenvolvido e que eu, enquanto homem, devia a minha versão. Aqui vai ela, com todos os erros a que tenho o direito de defender.

O homem de verdade, aquele que dizem rarear cada vez mais, é aquele que chora. Não por qualquer bobagem, mas porque sabe que o choro é bom e faz parte daquilo que o torna algo mais que um chimpanzé malandreado, a sua dignidade. Romário, Pelé e Maradona choraram ao conquistarem suas Copas do Mundo (Pelé chorou em seu milésimo gol também). A cena que os americanos mais enaltecem de Michael Jordan é seu choro no vestiário após ganhar seu primeiro campeonato na NBA, abraçado ao troféu. Senna chorou quando conquistou seu primeiro título na F-1 e quando venceu a primeira corrida no Brasil. Mais da metade de meus amigos chorou quando Senna morreu. E aposto que você, homem, já chorou a perda de alguém, uma vitória, uma derrota, um desamor ou uma saudade.

Chorar é o que nos torna humanos, ou mais humanos. O que nos faz chorar nos alcança a alma tão fundo que a reação é física, o choro é corporal mas não existe sem o sentimento. A lágrima verdadeira comunica emoção. É ser homem não trair sua própria alma, não mentir. Qualquer cachorro amestrado pode disfarçar a dor ou a alegria sob uma aparência sisuda, marcial. O homem que chora sabe o valor da alegria, conhece mais a vida, é mais capaz de amar.

Não é fácil chorar. O choro expõe, desnuda. Chorar é assumir-se dominado por uma emoção, é aceitar que não se pode dominar aquele instante. Só um cara que sabe realmente o quão forte pode ser é capaz aceita, publicamente, se mostrar frágil. Desarmar-se e assumir sua dor ou sua alegria plena.

O homem, portanto, é aquele que chora. Homem de verdade não tem vergonha de suas fraquezas, de seus vícios e muito menos de seus sentimentos. Sem o coração, ele sabe que vale menos que sua própria sombra.