quarta-feira, janeiro 12, 2005

Medo de cantadas

Às vezes fico pensando se as pessoas acreditam no meu mau humor. Isso não tem nada a ver com a história que quero contar, mas acho que é uma boa introdução. Porque, gente, eu realmente sou mal humorado. Poucos reparam porque não tenho saco de ficar explicando motivos e semblantes sérios. Daí, simulo constantemente um sorriso. Com minhas bochechas (lindas, lindas), isso fica fácil. Porém, acho que não tenho mais paciência para manter 25 anos de farsa.

Mas vamos ao que interessa. Há uns oito ou nove anos, fui ao colégio Pedro II de São Cristovão para divulgar um encontro de jovens católicos. Era um evento grande, coisa para umas 300 a 500 pessoas. Uma outra época com um André católico, sem barriga e que praticamente não bebia cerveja. A única semelhança é que eu não comia ninguém, mas ainda achava que isso era virtude.

Minha função era passar de sala em sala para convidar a garotada para o tal evento. Comigo havia uma menina, mais séria e menos bonita do que eu. Não era fácil. Em muitas salas éramos recebidos com vaias e bocejos de tédio. Explicávamos o objetivo do encontro, tentando ocultar fins doutrinários através da descrição de atividades lúdicas de confraternização. Era o tipo de mentira aceita por jovens que não poderiam mentir. Acho que na época eu nem tinha consciência que se tratava de uma mentira.

Na terceira sala já comecei a enfrentar dificuldades: oi, você poderia me dar seu telefone para eu te ligar mais tarde para tirar alguma dúvida sobre o encontro? Eu era inocente, entendam. Aconteceu várias vezes depois. Se não pediam telefone, mandavam gracinhas, insinuavam coisas.

A menina que estava comigo fazia cara feia, como se fosse minha guardiã - ou da moral. Meus objetivos começaram a se desvirtuar. É lógico que aquilo fazia bem a meu ego, apesar de, na época, ainda não existir a teoria andreocentrista. Mesmo assim e, talvez, até por isso, fiquei extremamente incomodado e saí do colégio antes de terminar minha tarefa. Não expliquei nada para as pessoas. Disse apenas que o calor me causou tonteira.

Para a menina que me acompanhava, falei um seco "me deixe em paz". Nunca mais disse essa frase para ninguém, apesar de pensar nela todos os dias. Acho que vou voltar a pedir para me deixarem em paz.