terça-feira, janeiro 18, 2005

Leandro, milagre, finalmente resolve dialogar com André

Eu sei, André, nada justifica o silêncio entre dois amigos a não ser a cumplicidade, que não é bem silêncio pois que a amizade conhece vários meandros para se manifestar. Mas isso eu deixo pra quem quiser ler e refletir, o que eu pretendo aqui é escrever sobre Belém, ou melhor, sobre o que Belém quer dizer pra mim (não que isso seja de suma importância, mas, afinal, eu sou responsável por não deixar esse samba aqui morrer, junto com o André).

Belém é um lugar surpreendente. Sim, isso mesmo. Não, não mude de página agora, prometo que isso aqui melhora já, deixa eu pegar o ritmo. As pessoas aqui são amáveis de verdade, desde o taxista até a moça do café. Mesmo estrangeiro, mesmo sem ter idéia de quanto tempo se gasta numa caminhada da Generalíssimo Deodoro até a Alcindo Cacela, você se sente em casa após a segunda ou terceira rodada de Cerpa - a cerveja do local. Aqui, você, meu caro amigo bêbado, pode beber Cerpa por R$ 1.50 e é cerva de garrafa, nada dessas long necks de maricas.

E esses dois fatores - a Cerpa e a fraternidade do povo local - ajudam demais a vida da pessoa que vem de longe passar um tempo aqui, em especial, um longo tempo aqui. Antes de ser saudade de um Rio de Janeiro de coisas que ficaram a muitos quilômetros de distância do meu cotidiano, Belém é expectativa de uma Amazônia de novidades (metáfora péssima, eu entendo, mas deixe estar) que eu quero muito descobrir, nem que seja só para aumentar meu repertório de conversa de boteco. Por mais perrengues que se passe, e sempre se passa por algum deles ao sair de casa pra encarar o mundo longe de parentes e amigos, é tudo válido se você tenta ver além do seu antigo horizonte, semelhante com o apelo dos Thundercats de ter uma visão além do alcance e que os Hermanos, que eu desprezo, cantam numa música ("O caminho vai além do que se vê" ou algo parecido). Porque você cresce, sua vida cresce, seus medos crescem, suas contas crescem, seu amor pelo próximo cresce.

E algo ocorre contigo quando se percebe que sair logo ali pra usar o orelhão te dá a chance de observar melhor a cidade onde você está. Conhecer seus hábitos, seus cheiros, seus sons. Rios, pontes e overdrives. Cada cidade reserva em si particularidades que este blog, por exemplo, não poderá descrever. Cidades são feitas de histórias pessoais intercruzadas de um modo tal que passam a formar hábitos, culturas e sociedades, feito o time pelo qual você torce ou o lugar para onde você vai quando nada cheira bem. São essas pequenas coisas que criam na gente raízes com um lugar, um espaço físico, mesmo que essas raízes sejam apenas sentimentais (a crença num Deus ou vários deles leva milhões de pessoas a templos diversos mundo afora e ainda justifica que um cidadão encha seu corpo de explsivos plásticos e se exploda, detonando juntos alguns "não-crentes", mesmo que estes "não-crentes" acreditassem em algo diferente, que coisa, não?).

Aos poucos, Belém vai me conquistando, feito o cara safo que sorrateiramente enlaça seus dedos com as mãos da menina mais bonita no escuro do cinema, ou no tumulto da festa. Quando a gente menos esperar, estaremos dividindo lençóis.