Una noche de amor loco con una adolescente virgen
Entendam, antes de me julgarem, que tenho que ficar uma hora no Aeropuerto Ezeiza esperando para entrar na área de embarque. Ou seja, em vez de me chamarem de nerd, assim, cruelmente, saibam que a internet é apenas uma forma de passar o tempo.
Pois bem, sobrevevi à primeira parte da viagem. Está chovendo em Buenos Aires e meus pés estao molhados. Passei o dia rodando o centro da cidade, tirei fotos de uns garotos em situaçao de risco social, fugi assustando quando eles pegaram umas pedras e estou meio bêbado depois de cinco canecas de quilmes. Aliás, que cerveja decepcionante!
Outra diversao foi ficar procurando esteiras de cerveja. Vocês acreditam que eu só achei um bar que tivesse bolachas? E era uma espelunca, numa espécie de Central do Brasil que eu achei. Malditos hermanos. No aviao, um coroa argentino, muito simpático até certo ponto - conversando comigo sobre Paulo Coelho e Clarice Lispector -, ficou gritando, bem no meio do aviao, do lado da asa, "fidelista, fidelista". Será que meu espanhol é tao sofrível que nao consegui simplesmente dizer "estoy viajando para Havana"? Deveria ter ouvido meu velho pai e tirado a barba.
Como podem ver, meu curto dia na Argentina tinha tudo para ser péssimo, mas um simpático motorista de táxi - sempre eles - recuperou meu humor. A lorota de que ele havia hospedado um gaúcho gremista em sua casa nos anos 70 foi ótima. Jurou-me que o sujeito nao havia achado hotel e que ele havia oferecido seu quarto. Malditos argentinos. Gays e mentirosos.
Ignorei a chuva e rodei o centro de Buenos Aires a pé mesmo. Eu parecia um pedinte, cheio de frio, com um casaco pouco adequado para os 15 graus da tarde portenha e sem saber para onde ir. Aqueles meninos eu fotografei atrás do memorial aos mortos da Guerra das Malvinas. Estavam parados lá, fazendo algazarra e acho que a foto ficou bonita. Começaram a gritar "o que quieres?, o que quieres?" e a caminhar lenta e ardilosamente em minha direçao com umas pedras na mao. Como nao sou bobo, saí dali rapidinho.
Comprei apenas dois souvenirs daqui: um disco do Bersuit Vergarabat e o Memoria de mis putas tristes, do García Márques. O título desse texto faz parte da primeira frase do livro. "El año de mis noventa años quise regalar-me una noche de amor loco con una adolescente virgen". Eu me identifiquei. Como um dos três livros que trouxe praticamente já foi lido(A Ilha, como me disseram, para ser lido de uma só vez, no aviao), acho que vou ter que forçar o limite do meu espanhol - que está se virando bem, obrigado - para encarar a história do velho e da virgem. Deve ser divertido.