sexta-feira, novembro 26, 2004

Ela disse namoro ou O que a Anna Scott tem a ver com isso?

Gente, finalmente relançaram o DVD de "Um Lugar Chamado Notting Hill". Em poucos dias deve chegar aqui em casa, junto com mais um livrinho do Paul Auster - sim, Luis, eu sei, foi você que me apresentou para ele há alguns anos - que eu pretendo ler assim que melhorar.

Minha gripe, como muitos sabem, simplesmente não passa. Tenho febre à noite e aquele catarro verde musgo fica arranhando minha garganta o tempo todo. É claro que eu não tenho me cuidado como deveria. Ontem eu simplesmente enchi a cara na Lapa e fiquei gritando para uns travestis que eles eram muito lindos. Gritava e batia palmas. Olha só, você está de parabéns por essa bunda. Uma vergonha. Mas as bundas realmente eram impressionantes. Um dia eu espero poder encostar numa daquele tamanho.

Então resolvi que não vou voltar a beber e cair na farra até que eu esteja 100% curado. Agora mesmo, depois de ter um dia razoável e, até, acreditar que iria melhorar, cá estou eu de novo, febril. Meu drama é ainda maior ao deitar, olhar para o lado da cama e ver quatro garrafas de rum, fechadinhas, loucas para se encontrarem com Andy. Não importa o que seja, sempre haverá líquidos estranhos me procurando. Sem forçar muito a memória, lembro da cachaça sem rótulo e com ervilhas num boteco de estrada em Sampaio Corrêa; dos rabos de galo nos bares família da Praça Mauá; das canecas de margaritas espumando em Tijuana; dois oito copos de cachaça misturada com catuaba consumidos em menos de 30 segundos na frente de mais de 100 pessoas; e da garrafa de Caninha da Roça virada no gargalo antes das 9h durante um jogo de vôlei de praia na Barra - e minha equipe venceu. Ah, tudo bem, eu também lembro do Pinho Brill.

É, num reveillon passado com amigos em Araruama, a altas horas da noite, eu bebi um gole de Pinho Brill. Para resumir a história aos curiosos, toda a bebida da casa tinha acabado e toda essa bebida era realmente muita bebida. Depois daquele dia, meu estômago nunca mais foi o mesmo. Eu era o cara que se gabava de poder beber quanto quisesse sem vomitar depois. O detergente mudou essa marra. Até hoje tenho aquele gosto na minha boca.

Não, eu não me orgulho de ter bebido Pinho Brill, como não me orgulho de ter participado do "Em Nome do Amor". São experiências de vida, lógico, mas não são das mais legais - apesar de o Silvio Santos ser muito simpático. Me vestiram com uma blusa cinza apertada e colocaram gel no meu cabelo. Eu estava lindo, como de costume, mas não é meu estilo habitual de se vestir. A primeira pergunta do Tio Silvio estragou todos os meus planos de fazer graça no ar e me deixou nervoso demais até mesmo para rebater as coisas estúpidas que minha parceira de dança estava falando. Ela morava em Inhaúma, eu não lembro seu nome e não, eu não peguei a moça. Fui ao programa me passando por um solteiro desesperado por motivos jornalísticos, apenas. Mas ela disse namoro e realmente acreditou no meu papo durante o Julio Iglesias. É um dogma que Andy nunca toma toco.

Acho que daí pode-se tirar uma explicação para minha admiração por "Um Lugar Chamado Notting Hill". O personagem de Hugh Grant é daqueles tímidos, que anda pelas sombras, fala baixo e pouco é notado. Eu sou diferente. Gosto de discrição, de silêncio e de me esconder, mas adoro contar histórias para grupos de pessoas e confio completamente na minha capacidade de dialogar com rapidez. Só que eu nunca conseguiria me declarar para alguém como William faz no fim do filme, na frente de uma multidão. Tenho pavor de público. Na minha formatura, quando chegou minha hora de dizer algumas palavras, nem o whisky bebido minutos antes, nem a cola que trazia na mão impediram que todos reparassem em meu nervosismo e constrangimento. Foi um horror. Eu sonho com o dia que eu vá conseguir me declarar para alguém daquele jeito como em "Um Lugar Chamado Notting Hill".