E aquilo, um homem em seu sexo, quem poderia adivinhar, estava deveras agradável. Quando se deu conta de que estava gozando, Antônio ficou assustado, gritou "não!", suas mãos impúberes quiseram fugir e vá lá saber o que mais pode acontecer diante do primeiro orgasmo além do gozo em cada um, pois temeu que mulher alguma fosse ser capaz de apagar de seu corpo o bafo de José e, de fato, teve a certeza de que não haveria mulher o bastante naquele mundo para lhe ser tão homem feito José. Estou perdido, estou perdido, foi o que ele disse entre os últimos estertores daquele gozo, estou perdido, e então José beijou com a boca cheia de pavor e suas mãos castas redescobriram a barba por fazer de José, algo que nunca haviam descoberto num beijo e Antônio estava perdido.
José tirou de seus olhos os óculos escuros e olhou para ele como se pedisse uma resposta. Antônio não tinha resposta alguma. Antônio tinha dois casamentos falidos, três filhos homens, quarenta e seis anos de vida e dívidas no cartão. Antônio tinha uma cicatriz no queixo, uma camisa autografada do Roberto Dinamite no armário de casa e o Transa do Caetano com Nine Out Of Ten arranhada, mas não conseguia ter uma resposta para José. Abriu a boca, mas som algum parecia sair dela. E assim ficaram por minutos, talvez horas e dias, mas decerto não se passaram breves segundos porque Antônio conseguiu dar a resposta que José desejava. Você é o meu primeiro homem, José. E José sorriu pela primeira vez naquela noite, estava perdido.