sexta-feira, outubro 01, 2004

Só pra constar: Sabiam que este aqui vem a ser o post de número 200 do blog? Parabéns pra nós.

Um espécime de monstro

Creio que estas palavras a seguir só terão lá a sua graça para aqueles que, como eu, possuem o desvio de personalidade adolescente de levar o tal do roquenrou mais a sério do que a boa convivência social recomenda. Portanto, nobre leitor(a), se não for o seu caso, perca suas esperanças de ler algo de interessante daqui em diante, porque vou outra vez falar do rock. Sim, do rock. Pior, do Metallica.

Conhecem Metallica? Acho que sim, né? Imagino até que grande parte de vocês possuem em casa o famoso "Álbum Preto do Metallica", o Black Album para os mais íntimos e, para os menos conhecedores, o CD que tem "Enter Sandman", "Nothing Else Matters" e "The Unforgiven" dentro. Pois bem, o já afamado Festival do Rio trouxe em sua programação deste ano um documentário que flagrava o Metallica na gravação de seu último álbum de estúdio, denominado Saint Anger (algo como Santa Fúria).

Sim, jovens, este escriba que ostenta um cheveiro do Iron Maiden atendeu ao chamado do metal e segunda passada após o expediente, correu para um cinema no centro da cidade conferir a pelota. E, digo a vocês, um filme irado. O foco do documentário é o processo de criação do Saint Anger, que viria a ser o primeiro álbum de estúdio da banda após meia década. E, como foi um filme que os músicos queriam fazer, tinha tudo para ser uma armação, com trocas de elogios, rasgação de seda e flashbacks duvidosos, mas não, não é.

Durante a gravação de St. Anger, o Metallica quase acabou por duas vezes devido a desentendimentos entre o batera Lars Ulrich e o vocalista e guitarrista James Hetfield, os dois principais compositores. Os caras se odeiam. A situação de desespero da banda era tal que a gravadora arrumou para eles um terapeuta de grupo que os acompanhou por toda a sessão do St. Anger, que durou mais de um ano pra ser feito. Ainda no documentário, figuram o ex-baixista Jason Newsted e o guitarrista Dave Mustaine, que foi sacado da banda devido a problemas com bebidas e drogas nos primeiros anos de Metallica. Tudo, todas as circunstâncias parecem conspirar contra a gravação de St. Anger. Mas o disco saiu e a banda sobreviveu mesmo assim. Eu sei, o St. Anger não é bem uma brastemp, mas relevem.

Fiquei matutando depois do filme porque tem uma frase até conhecida do Mick Jagger, ele diz que o rock só acontece quando há um risco a ser corrido. Faz sentido. Não se faz revolução sem derramento de sangue, e os Bitols nem se falavam mais durante o Let It Be. O grande mérito de "Metallica: Some Kind Of Monster" é esse de desnudar o cotidiano de uma grande banda, transformar os caras em gente feito eu ou você, que envelhecem, possuem famílias - quem imagina o bronco James Hetfield acompanhando a apresentação de balé da sua filhota? - e trabalham, porque o Metallica é o emprego deles. Aquela pasmaceira do rock poder mudar o mundo, de estar numa banda é viver na farra, de catar o violão e compor um sucesso radiofônico em 3 minutos e outros clichês que povoam a mente das pessoas que levam fé no Linkin Park vão todos ralo abaixo. Há momentos em que estar no Metallica é tão sacal quanto ser caixa de supermercado. E por tudo isso, o documentário só acrescenta mais brilho não só aos caras da banda, mas ao próprio rock.

Pena que dificilmente o filme vai entrar em cartaz, mas, se algum dia um desses GNTs da vida acharem boa idéia o exibir, não se façam de rogados e atendam ao chamado do Metallica. E levantem suas mãos em chifres, pela glória do rock'n'roll.