quinta-feira, setembro 09, 2004

Simpatize com seu inimigo, baby (e depois o mate)

Há dois dogmas em torno dos quais eu e o Andy temos opiniões mais ou menos semelhantes. O primeiro é que nenhuma mulher que se preze resiste a um bem executado cunnilingus. O segundo é que o Michael Moore é um tanto quanto bobão, apesar de ser um tanto quanto espertinho. Moore tem o pecado de transformar seus documentários em auto-propaganda disfarçada de discurso democrata, o que não invalida o seu cinema, mas tampouco o torna mais brilhante.

Descobri ontem dando sopa na minha locadora o documentário "A Névoa da Guerra" (The Fog of War), que veio a ser o ganhador do Oscar de sua categoria em 2003. Ou ao menos é o que está grafado na capa. Ignoro o nome do diretor, mas tenho certeza que aqueles mais antenados nessas coisas não terão o menor problema em buscar pelo filme no Google e verificar que se trata de algum documentarista bambambam, até porque, o sujeito tem um Oscarito na gaveta de casa. O filme é um contraponto à suposta fanfarronice de Moore, que havia ganho o Oscar de Melhor Documentário no ano anterior tratando de um tema semelhante (com "Tiros Em Columbine").

Pois bem, o mote do filme são revelações e conselhos ditados por ninguém menos que Robert S. McNamara. Quem é o sujeito? McNamara foi secretário de defesa lá da Matriz durante os governos Kennedy e Johnson, o que é mais ou menos dizer que ele foi o cara que autorizou o uso do Agente Laranja no Vietnam. Ele, sim, sabe das coisas. Só pela biografia de McNamara já vale a pena a locação do filme. Com um estilo mais conservador do que Moore, e com uma personagem de maior peso, o filme é centrado no ex-secretário de defesa, que tenta nos explicar, por linhas tortas, que ele só queria fazer a coisa certa.

Ao discorrer sobre a guerra, percebe-se um certo cansaço na voz de McNamara. Há muita ironia também, e melhor feita, porque mais sutil, ou talvez mais experiente. E, ao final, vemos como um dia os puercos se lançaram na tarefa de espalhar a sua liberdade mundo afora, como os seus erros nessa empreitada marcaram o século passado, e, o que penso ser de mais valia no filme todo, como fica cicatrizado o homem que viveu um bom tempo a mandar outros homens para a morte. Bom filme.