sábado, setembro 04, 2004

A Glória inspira o sexo ou Por que não conversar com os travestis?

Outro dia eu cheguei à conclusão que eu preciso transar na Glória. Aquele bairro cheira a sexo. Tudo bem, tudo bem, são travestis, mas sexo transexual é tão sexo quanto o velho papai e mamãe. Sem preconceitos, pessoal, por favor. Mas meu desejo é por mulheres mesmo, de preferência moças que não cobrem pela atividade sexual. Apesar de não ter preconceitos, sou bastante careta. Não dá para imaginar um ex-católico, ex-beneditino, ex-quase padre, sendo enrabado, né? Não ousem imaginar.

Quando eu trabalhava ali por perto, passava de carro pela Praça Paris. Todos as noites, ali naquela praça, dois ou três travestis ficavam se masturbando, no meio da rua mesmo, para chamar a atenção de possíveis clientes ou, até, apenas para seu prazer. Eu acho que alguns prazeres não tão bem aceitos pela sociedade poderiam ser feitos em locais privados. Cheirar, masturbar-se, socar a parede, essas são coisas que não incomodam ninguém se realizadas na privacidade de um lar. Um deslize ou outro, porém, podem muito bem ser relevados e, por isso, não vou julgar a masturbação dos transexuais.

Nessa minha mania de conversar com todo mundo, eu já tive vontade de passar pela praça a pé para trocar uma idéia com aquelas figuras de pau para fora. Só que nunca tive coragem. Não era fácil, entendam. Além do medo de ser assaltado - a calçada ao lado da praça é bastante escura -, eu temia ser visto por alguém. Vejam, vejam, o André Miranda está conversando com aquele viado segurando o pau. Não ia pegar bem e minha imagem de ex-católico, ex-beneditino, ex-quase padre, iria para o espaço na mesma hora. Porque não adianta você ver um conhecido conversando com um travesti se você não puder contar para os amigos. Até que eu pudesse explicar minha curiosidade antropológica, já estariam cochichando sobre minhas práticas sexuais no café do trabalho.

Uma coisa digna de nota é o tamanho dos membros. Pois é, admito, aqueles paus enormes chamavam muito minha atenção. Não tenho apreço por pênis, acreditem, mas aqueles transexuais tinham membros cavalares. Não sei se existe algum produto que favoreça o crescimento, mas acredito que a química responsável por deixar aquelas bundas e peitos num tamanho convidativo poderia, também, atuar nos membros dos travestis. Uma das minhas vontades era justamente perguntar isso a eles. Com licença, senhor(a), mas como diabos o seu pênis alcançou esse tamanho todo?

E tenho quase certeza que eles responderiam que aqueles comprimento e diâmetro eram naturais. Ah, malditos travestis mentirosos! Aquilo não era obra de Deus, tenho certeza. Pelo menos não do mesmo Deus que conheci na juventude, um Deus justo que, diziam os monges beneditinos, dava as mesmas oportunidades a todos os homens. Aqueles transexuais não eram homens e provavelmente não eram tementes a Deus. Por que tanta vantagem para eles, Senhor?

Mas eu nunca perguntei sobre o tamanho de seus membros, nem sobre onde dormiam, o que comiam no café da manhã e quais livros mais haviam gostado de ler. Fui um medroso e, talvez por nunca ter ido lá desmistificar toda aquele clima sexual que os travestis da Praça Paris me sugeriam, pus na minha cabeça que eu precisava transar na Glória.

Tenho um amigo que enaltece um motel do bairro: sedutor, aconchegante, lascivo. Ele jura que foi com a namorada, não com um travesti. Mas tenho outros amigos. Um deles, este, sim, já teve uma relação com um transexual. Adorei, André, foi ótimo, ele sabia exatamente como me dar prazer. É, imagino que sim.

Como não sou exigente e não faço questão de alguém que saiba exatamente como me dar prazer - gosto de comandar as ações, afinal -, prefiro não me arriscar com um transexual. E estou adiando minha primeira relação com uma prostituta para quando eu estiver velho e ficar mais difícil arrumar moças jovens dispostas a uma relação estável com o titio. Um dia isso vai acontecer. Tento negar, mas sei que é inevitável.

Mas como chegar para uma jovem da Zona Sul carioca e sugerir que deveríamos transar num motel da Glória? Olha, meu bem, eu sei que há ótimas opções em Botafogo, na Niemeyer, na Barra... mas que tal um pulinho lá na Rua Cândido Mendes? Não é fácil seguir para um motel num bairro onde dúzias de profissionais do sexo caminham livremente. André, você tem certeza que está me levando para o lugar certo? Calma, calma, meu bem, já estamos chegando. André, eu estou enganada ou aqui só tem putas e travecos? Calma, broto, a vizinhança é estranha, eu sei, mas o local para o qual estou te levando tem uma hidro com efeitos tridimensionais. André, você não vai me levar para aquele lugar de onde estão saindo, a pé, dois homens de salto alto e peruca, vai?

Pois bem, nem eu, um provável discípulo de Loki se tivesse nascido nórdico, conseguiria arrumar lábia para convencer a moça a manter relações sexuais num ambiente daquele.

Definitivamente, tenho que desmisitificar a Glória e tirar essa idéia da cabeça. E, para isso, só há um jeito: preciso de uns instantes de prosa com aqueles travestis. Rezem para que saia ileso e, sobretudo, para que eles tenham, ao menos, a dignidade de guardar seus membros enquanto conversamos. Em breve relatarei a experiência aqui, no Inventado Dogmas.