quarta-feira, agosto 18, 2004

In God we trust ou O que a vulva da Joss Stone tem a ver com isso?

Caro Leandro,

Ontem fui em vários colégios e senti uma baita saudade dos meus doze anos (Fazendo grandes planos/ Chutando lata/ Trocando figurinha/ Matando passarinho/ Colecionando minhoca/ Jogando muito botão/ Rodopiando pião/ Fazendo troca-troca). Acho que eu era mais feliz.

Eu tinha uma namoradinha no curso de inglês - lembre-se, amigo, que eu era uma criança bobinha que estudava num colégio de padre só para meninos. Ela se chamava Fernanda, ou algo assim. Desde aquela época eu já era um romântico e certa vez escrevi uns versos de um poeminha num cartão. Era do Drummond, copiado de um livro que tinha lá em casa:

Amor - pois que é a palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Pois é, entre outras coisas, resolvi copiar o poema ignorando o significado dessa tal vulva. Era Drummond, God, Drummond! Quem haveria de questionar um poema do Drummond? O nome do livro era O Amor Natural e o guardo comigo em lugar de destaque em minha mini biblioteca. Hoje, muitas vulvas depois (nem tantas, nem tantas), apesar da vergonha que eu vim a sentir naquele dia, sinto falta daquela inocência. Essa coisa de vulva, amigo, é muito bom, muito bacana, mas complicado, complicado. E, não, ainda não descobri minha homossexualidade latente.

Mais uma coisa complicada é o trabalho. Outro dia fiquei lá ao lado daquela recém-falecida baleia, coitada. Um frio do cão. Nesse mesmo dia, um domingo, o Anthony Garotinho me deu um abraço e disse feliz Dia dos Pais. Eu estava na porta da igreja evangélica onde ele comparece para rezar com a família. Porra, eu tenho 25 anos e ainda não sou pai, cara. Aliás, eu ainda moro com meus pais. Isso é normal?

Há vezes em que eu tenho a maior vontade de mandar tudo para o inferno. Termino de escrever meu livro, me mudo para Salvador e fico lá vendendo coco e tomando cerveja. Porra, eu quero ficar tomando cerveja em Salvador, God! Um sonho tão simples, tão fácil de realizar, será que não vou conseguir?

Mas aí eu lembro que tenho que ser responsável, que minha educação religiosa me ensinou a ser responsável. Use a razão, André, me dizia o padre. Seja responsável, filho, me dizia meu pai. Suas escolhas vão influenciar toda sua vida, me dizia a porra do coordenador do colégio (muito antes do Morpheus, aliás).

A pergunta que eu te deixo, God, é até quando eu vou ter essa capacidade ímpar de tirar o melhor da vida, de buscar o melhor, o mais bacana em tudo o que faço? Como eu li outro dia por aí, talvez esteja na hora da porra do meu analista me dizer para parar de ser bonzinho. Sendo bonzinho demais, André, você não vai chegar a lugar algum! Merda de analista filho da puta que não toma um atitude e me ajuda a resolver meus problemas.

Enfim, desabafei. Apesar de tudo, acho que ainda continuo satisfeito com minhas escolhas e gosto das coisas que faço e da forma com que gasto meu tempo. Ah, e gostei muito da tal Joss Stone, também. Que graça de vulva ela deve ter! Mas ultimamente eu não tenho conseguido parar de ouvir Cartola. O mundo é um moinho, God, o mundo é um moinho.