quarta-feira, julho 21, 2004

O amor de cada um (XI)

Eu me chamo Jorge, Jorge dos Santos, e tenho 36 anos. Até o mês passado eu só tinha me relacionado com mulheres. Acho que tive mais de 15 em minha cama. Fui casado por cinco anos com Silvia Guedes, Silvia dos Santos até nos separarmos há três anos. Um dia eu reclamei de sua mania de me questionar sobre qualquer coisa e ela resolveu me deixar. Nunca entendi.

No dia 12 de junho resolvi que queria dar o rabo. Era apenas para experimentar, ver qual é. Uma namorada, Juliana Cardoso, gostava de enfiar o dedo no meu rabo enquanto transávamos. Eu achava que não curtia tanto, mas também não queria cortar o barato dela e deixava. Isso foi há uns 13 anos e, naquela época, a mera insinuação que eu poderia gostar de dar o rabo me irritava. Lembro quando eu contei essa história para meu melhor amigo, Helton Silas, aquele danado. Ele espalhou para todo mundo que eu gostava de um dedo no cu. Filho da puta. Fiquei irado e parei de falar com Helton por algumas semanas. Depois ele se desculpou e reatamos a amizade. Mas a implicância de meus conhecidos fez com que eu proibisse Juliana de me dedar e ela me deixou por me achar infantil demais.

Eu não decidi dar o rabo por acaso. Achava que estava desiludido com o sexo. Paguei por três meses putas, aquelas ditas especialistas, para ver se eu me animava, mas não deu certo e eu continuei achando a coisa toda muito desinteressante. Não era falta de atração por mulheres. A presença de um belo corpo feminino nu ainda provocava, e provoca, os mesmos efeitos de sempre no meu corpo. Pau duro, batimentos acelerados, suor seco, essas coisas. Mas na hora do sexo, não era mais a mesma coisa.

Eu não brochava, nunca brochei. Porém, eu não conseguia mais ter a mesma satisfação do passado. Pensei em procurar um psicólogo, mas as consultas são caras e eu andava meio sem grana. Tentei várias coisas com as especialistas. Amarrei e fui amarrado, observei e fui observado, dei e levei porrada. Nada adiantou. Uma vez eu pedi que uma moça se fantasiasse de Mamãe-Noel. Venha, Mamãe-Noel, deixe-me ser seu trenó.

Eu comia, dava umas risadas depois, fumava um cigarro, mas me sentia entediado. Não era mais divertido e sexo tinha que ser divertido. Passei a achar que eu tinha virado gay. Sempre ouvi histórias de pessoas que viravam gays depois de velhos, por desilusão com as mulheres. Eu não estava desiludido com as mulheres, mas passei a considerar a hipótese.

Comprei umas revistas de nu masculino numa banca perto de casa. Se eu ainda tivesse uns vinte e poucos anos, comprar essas revistas seria uma martírio, praticamente impensável. Com 36 anos eu nem me importava. O português da banca me olhou de cara feia. Toda a manhã eu ia lá para comprar jornal e palavras cruzadas. O Globo e uma Coquetel difícil, por favor. Uma vez, ele me vendeu uma coquetel de letras grandes. Puto, no dia seguinte cheguei lá com aqueles óculos de brinquedo bem grande, que peguei emprestado de meu filho, Lucas. Só para sacanear o filho da puta do português. Eu odiava palavras cruzadas com letras grandes.

Quando eu cheguei para comprar as revistas o português arregalou mais os olhos do que quando eu fui com aqueles óculos esquisitos. Falei bem alto. Eu quero essa "Big escoteiro", essa "G Magazine" e essa "Black muscles". Que belo negro na capa, não acha? O português ficou puto.

E só para isso mesmo serviram as revistas, sacanear o português. Como eu já esperava, continuei achando o corpo masculino desinteressante. Até mesmo o negro da capa, o Francis 25. Nem ele me excitou.

Pois bem, se o problema não era minha atração por mulheres, o que mais poderia ser? Cheguei a cogitar parceiros menos ortodoxos para a prática sexual, mas nunca fui fã de cachorros, cadáveres me assustavam e bonecas infláveis eram maquiadas demais.

Lembrei então da Juliana Cardoso, a tal que gostava de enfiar o dedo no meu rabo. Passei a acreditar que aquela história de não curtir tanto era balela. Eu gostava, sim. Ela tinha um dedo longo e a unha comprida. E sabia fazer um carinho.

Arrumei com minhas amigas putas um negro, especialista, a quem só chamava de Francis. Eu nem quis saber seu nome. As mulheres estavam lá, duas delas, Sarah e Roxanne, para me excitar. Só que o que trouxe a diversão de volta mesmo foi o Francis, que não era 25, mas não fazia feio a "Black muscles". Foi no dia 15 de junho que aconteceu a primeira vez e, desde então, eu só trepo se o Francis estiver presente. Não nos beijamos e eu nem pego no pau dele. Só peço - e pago - para ele me comer enquanto eu como ou chupo minhas amigas especialistas. Tudo isso com 36 anos. Imagina se o português da banca fica sabendo!