O amor de cada um (X)
Um vez, há muito tempo, eu fui numa festa com um pessoal do meu antigo colégio. Eu devia ter uns 9 ou 10 anos. Era uma daquelas festas americanas, onde as meninas levavam quitutes e os meninos, refrigerantes. A festa foi num prédio de uma amiga, lá em Vista Alegre, bairro onde eu morava, na Rua Paratinga. Fomos de carro, eu e um amigo, atualmente meu afilhado de casamento, levados pelo pai dele. A gente deve ter chegado por volta de 20h ou 21h.
Eu era o engraçadinho da turma, sacaneava todo mundo e brincava além da conta. Às vezes incomodava, mas acho que eu era querido. Guardo dois grandes amigos daquela época, ótimos amigos. E, passados 15 anos, um casamento, algumas mudanças, considero essa amizade coisa para caramba.
Minha memória pode estar me traindo, mas acho que a tal amiga, dona do apartamento, chamava-se Andrea e tinha nascido no mesmo dia e mesmo ano que eu. Tenho certeza de quase tudo, só não lembro se o apartamento era dela mesmo. Mas sei que ela estava lá, na tal festa.
A Andrea era um bonita menina, engraçada e amiga de todo mundo. Eu, André, era chamado de Dedeco, e ela, de Dedeca. Uns apelidos fofos para crianças fofas. Éramos bons amigos.
A Andrea levou para a festa uma amiga que eu não conhecia. Seu mone era Verônica. A criançada - e é incrível como naquela época eu já odiava crianças - ficou insinuando que eu e Verônica deveríamos ficar. Acho que o termo nem existia na época, não tenho certeza, mas a descrição ideal para a coisa era "ficar" mesmo.
Eu não lembro de nada em relação a Verônica. Nem lembro de seu sorriso, fator que, descobriria mais tarde, era meu diferencial para escolher as mulheres da minha vida. Com o incentivo da criançada, acabamos, eu e Veronica, parando na escada do prédio, sozinhos, um de frente para o outro.
Não lembro o que falei, nem o porquê de não tê-la beijado. Eu era uma criança, uma odiável criança e não tinha, ainda, os pensamentos impuros herdados de Adão. Porém, lembro como fui invejado pelas outras crianças depois de passar algum tempo com Verônica na escada.
Depois daquele dia, eu nunca mais vi Verônica. E, um ano mais tarde, eu perderia total contato com Andrea.