Há tempos que não comemoro mais meus aniversários, ou ao menos pouca vontade tenho de fazê-lo. Acho que cansei de fazer aniversários, o que até é compreensível depois de acordar na mesma data durante mais de vinte anos. Eventualmente acabo usando minha velhice crescente como desculpa para beber e encontrar rostos queridos, mas confesso que desta feita, nem isso fiz. Cansei, definitivamente, deve ser isso, a velhice e a tradicional chatura que a acompanha.
Na terça última, dia 23, às nove e meia da noite segundo o registro oficial, completei longos e confusos vinte e seis anos. Ah, e um pouco antes, neste mesmo dia 23 , às duas da tarde, colei grau como Bacharel em Comunicação Social (especializado em Publicidade e Propaganda, vejam só que coisa) formado na Escola de Comunicação da UFRJ. Alguns dias antes, eu havia sido aprovado num concurso público para trabalhar na área de produção da Radiobrás.
Era de se imaginar que eu estaria radiante, um futuro sem igual (há futuros repetidos?) apontava no horizonte, eu finalmente seria um homem adulto, pagaria contas, contrairia dívidas, passaria a perna no imposto de renda. Mas nem, que nada. Noves fora ter me graduado junto com pelo menos dois de meus grandes amigos da faculdade (o André colou grau comigo, imaginem), a colação me pareceu uma empulhação burocrática que poderia muito bem ser resolvida com um par de e-mails. Da Radiobrás ainda espero a convocação, um pouco menos tenso e mais ansioso, mas consciente que será apenas um emprego, um lugar que me tomará tempo em troca de mais-valia.
Não é que eu esteja triste com a vida ou algo parecido, estou apenas devagar. A minha desconfiança de que irei durar mais que os ideais 27/28 anos de vida é cada vez mais certeza, se eu der mole qualquer dia desses perco as estribeiras e me caso com um certo alguém. E o pior, estou gostando de envelhecer, ficar chato, devagar e com vontade de começar a fumar. Pressinto que, se ela insistir, minhas convicções de não deixar ao mundo o legado de minha miséria viram retórica e aceito até ter filhos, dois, um menino e uma menina. E, se eu eu virar pai e funcionário público, será impossível não começar a fumar, até porque eu terei que beber menos.
Diante de tanta incógnita, pais, parentes e mesmo alguns amigos e, creiam, até meninas lindas, fizeram questão de me dar os parabéns por tudo: o aniversário, a formatura e o concurso. Meus pais me deram dois cartões e um perfume (Polo, de Ralph Lauren, cheirosamente original de 1978 feito eu). Eu só poderia agradecer, mesmo que eu ache que o meu aniversário é um dia como os outros e que se eu entrei na faculdade, algum dia eu iria obviamente sair dela, do contrário nem precisaria perder meu tempo entrando.
E aqui estou, quase duas da manhã ouvindo uma fita cassete com o Tidal da Fiona Apple, uma mulher que eu gostaria muito para mim, para tratá-la feito uma puta no sexo e uma filha no amor, ocupando o espaço deste blog com palavras gastas e gestuário clichê. Envelhecendo. Quem sabe, amadurecendo. E, bobo que sou, pronto para comemorar quantos aniversários precisar em qualquer boteco que aceite a mim e meus amigos beberrões e festeiros. Porque mesmo um velho chato feito eu ainda é um ser vivo, diabos.