quarta-feira, março 10, 2004

Acho que foi há duas semanas que li na coluna dominical do Elio Gaspari na Folha que o nosso barbudo Luis Inácio havia, então, percorrido 30% de seu mandato. Isso aí, é quase metade da missa já, ou, preliminares suficientes para a gente partir para o rala-e-rola prometido.

Mas eis que o Lulão refuga, entre lágrimas, suor, partidas de futebol e bonés. Os juros continuam altos. Os meus amigos todos continuam procurando emprego. Espetáculo do crescimento já virou piada recorrente. O país, até onde vejo, continua na mesma e tendendo a piorar. Não consigo deixar de lembrar da Regina Duarte com os olhos esbugalhados, a face trêmula e seu medo confesso. Nossa brava gente judiou de Regina e elegeu Lula, sem medo, cheio de alegria.

A festa acabou, o carnaval já passou e agora o governo Lula está devendo para essa gente atitudes. Afinal, Lula obviamente não irá resolver séculos de dependência e meretrício barato em quatro ou oito anos governando, sabemos bem. Mas o ponto crucial é que ninguém irá alavancar qualquer mudança de cenário no Brasil caso o país não passe a olhar para si próprio doutra forma. E, até onde posso compreender, Lula e sua equipe continuam olhando o Brasil tal qual os demais governos que o antecederam: como um gigantesco prejuízo a ser administrado da forma mais lucrativa possível.

Falta a olhos vistos um objetivo nos atos do governo. Falta planejamento e sobra retórica. Isso é mau. Parece que que os petistas estão ali em Brasília se entreolhando com a pergunta nos olhos "que diabos vamos fazer com tudo isso aqui, agora?". Bem, nem todos, é verdade. A equipe econômica resolveu trilhar o caminho indicado pelo governo anterior, curiosamente o mesmo caminho que a candidatura petista apontou como errado. E os escalões menos vistosos do governo resolveram fazer bons negócios, ainda que escusos. E a Benedita, bem, pano rápido para ela.

Lula ainda tem um pusta trunfo na manga. Seu carisma é tanto que as pessoas ainda distinguem a sua imagem da imagem do governo que preside. Além de dar um beijo em Duda Mendonça, nosso presidente poderia usar tal artifício a favor do governo, dando o exemplo. Trabalhar, criar, procurar investir e inspirar a todos nós. Acho que foi isso que enxergamos nele, alguém que poderia dar um exemplo diferente, positivo. Enfim, votamos nele porque ele era um trabalhador, um trabalhador como nós. Ainda há esperança, mas bem menos, vale dizer, bem menos.

A Regina Duarte ainda está aí. Pelo andar da carruagem, não vai ser nem um pouco surpreendente se nas próximas eleições ela voltar às telinhas com um ar irônico e publicitariamente vitorioso dizendo que havia avisado. E o Aécio, os petistas devem saber, não tem a cara de vampiro do José.