domingo, fevereiro 22, 2004

Não sou muito fã de postar coisas velhas. Este pequeno ensaio foi feito em março passado, provavelmente durante um após-bebedeira. O dia que eu descobri que beber me ajuda a escrever eu descobri a minha ruína. Hehe.

PEQUENO ENSAIO SOBRE A SAUDADE OU A RESSACA OU ALGO QUE EU DESCOBRIREI ENQUANTO ESCREVO

Existem manhãs que não poderiam deixar de anoitecer. Elas adentram em nossos corpos tímidas e refrescam cada subterfúgio do sono e da preguiça com perfumes distantes do nosso travesseiro. Os olhos despertam tardios e os sons demoram a chegar e a sair em nós, ficamos como em suspenso num poema parnasiano com charme de cinema mudo. A primeira coisa que se percebe é um gosto estranho que inunda a garganta e transborda pelos lábios. Se for domingo, melhor ficar na cama aproveitando o momento.

Essas manhãs costumam ser melhor aproveitadas e curtidas na individualidade de cada um. Na individualidade de cada nós. Na respiração pausada, naquela ereção incontinenti que acorda com cada homem ou menino, na fresta de sol que ousa escapar pela persiana falha, no corpo próximo que ainda ressona. Podemos ser mínimos então, nos conter ao que apenas interessa a nós, sem interessar a mais ninguém.

Essas manhãs acabam por valer todo um dia, ou um mês, ou um ano, ou um amor. O resto do dia será apenas dia como todos os dias, não se iluda, ao acordarmos teremos algo ou alguém que independe de nossa boa vontade para acontecer, e, desde que o mundo é mundo, algo ou alguém sempre acontece durante o dia - querendo nós ou não.

Engraçado me dar conta que a nossa vida continua seguindo em frente, independendo de nós. Morrer não significa terminar. Separar não significa esquecer. Um sorriso não significa alegria.