terça-feira, fevereiro 24, 2004

Meu Feriado Favorito

Eu adoro Carnaval, e acho que desde moleque. Deveria dizer a bem da verdade que eu gosto de farra e de cerveja, mas achar que o Carnaval se resume a isso é meio ingrato. O Carnaval é a mais humana de todas as festas, e eu não estou sozinho nessa opinião. O Jim Morrison, um bêbado habilidoso, declarou em sua entrevista à Rolling Stone que, diante dos Vietnams, das KKKs e dos Nixons onde vivia, seria muito bom que houvesse uma semana de completa festa onde as pessoas pudessem ser livres, como o nosso Carnaval. Ele também declarou que estaria interessado em tudo sobre revolta, desordem, caos, especialmente atividades que parecem não ter sentido. Enfim, alguém cuja opinião eu sou obrigado a respeitar, até porque o sujeito escreveu Roadhouse Blues e eu já tomei cervejas no café da manhã durante alguns carnavais passados.

O argumento preferido de quem discorda de mim é que o Carnaval aliena as pessoas. Eu acho o contrário, que o Carnaval é uma chance fantástica de se tomar contato da realidade do próximo – até porque o próximo do carnaval pode ser qualquer um. É só reparar que nos seus melhores carnavais você provavelmente conheceu uma penca de gente que, numa situação normal, você iria ignorar. Ignorar não é do carnaval, ignorar é do dia-a-dia. E eu aposto que a maioria de vocês seis que lêem isso aqui já brincaram Carnaval e repararam que uma grande diversão das pessoas na festa é a crítica de costumes. O Carnaval abre um espaço para esta crítica aberta da sociedade, que vem revestida de humor, porque a folia põe nas ruas gente de diversas classes sociais.

O Carnaval funciona como um espelho do homem. Mesmo que seja um espelho invertido, ele não deixa de ser sincero. A festa abre espaço para a gente brincar de ser gente de verdade, sorrir de verdade. Esse pra mim é o grande barato do Carnaval: são 5 dias onde você se fantasia para viver você mesmo como gostaria. Nos 360 dias restantes do ano, a pessoa se traveste de si mesma para respeitar as leis, ser eleito funcionário do mês e acreditar que um telefone celular que tira fotos resolve muita coisa no mundo. No Carnaval, o grande barato é ser feliz. As pessoas se lembram de como pode ser fácil sorrir e conviver. Mesmo o sentimento amoroso deixa de ter um aspecto de posse. Eu lembro de como era fácil bater papo com qualquer um a qualquer hora quando eu estava em Ouro Preto. Eu lembro de como a menina sorriu sábado passado na Lapa quando eu passei por ela e deixei um beijo, só porque eu tinha gostado de vê-la ali. Se eu fizesse isso na semana passada, eu poderia até ter apanhado. Mas era carnaval, e era só um beijo.

A Revolução, com R maiúsculo, vai começar numa quarta-feira de cinzas. Um dia as pessoas não vão querer mais se travestir de si mesmas. Olê, olá.